Lugar de mulher é na ciência

Lugar de mulher é na ciência

No mês da mulher, dados e iniciativas deixam claro que lugar de mulher é onde ela quiser estar ou conquistar

Por
Vera Nunes

Se, em algumas áreas de atuação, as mulheres ainda têm longo caminho a percorrer para atingir papel de igualdade com os homens, em ciência e pesquisa elas já despontam na liderança. Dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) revelam que a quantidade de doutoras tituladas por ano cresceu 61%, de 2013 a 2019. Passaram de 8.315 para 13.419, na série histórica analisada. E estiveram sempre à frente de homens, subindo, de 7.336 para 11.013, no mesmo período.

A presença feminina também é relevante na propriedade intelectual da ciência nacional. O número de patentes registradas com participação de mulheres indica crescimento de 682%, em seis anos. Foram 335, em 2013; e 2.621, em 2019. Diferentemente dos títulos, porém, a quantidade ficou abaixo em relação aos homens: 497, em 2013; e 3.346, em 2019.
Pesquisadores gaúchos

No Rio Grande do Sul, também com base nos dados da Capes, o diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), Odir Dellagostin, informa que o perfil dos pesquisadores gaúchos é composto por 3.778 homens (54%) e 3.225 mulheres (46%). Mas, entre os alunos de pós-graduação, a realidade é diferente e as mulheres já são maioria: homens 14.574 (42%) e mulheres 30.036 (58%). Entre os 1.502 pesquisadores com projetos apoiados pela Fapergs, 828 (55%) são homens e 676 (45%) são mulheres. E na demanda por recursos, o Auxílio Recém Doutor 2021, para jovens docentes, totaliza 428 projetos, sendo 226 (52,8%) homens e 202 (47,2%) mulheres. “Estes números sinalizam que estamos próximos a alcançar a igualdade de gênero na docência e na pesquisa”, argumenta Odir.

O diretor-presidente da Fapergs informa ainda que no programa “Doutor Empreendedor” houve a participação de 88 doutores, com a presença maciça das mulheres, que somaram 57 (65%) dos projetos inscritos. A iniciativa é uma parceria que envolve Fapergs, Sebrae RS e CNPq, em proposta que escolhe ideias inovadoras e empreendimentos potencialmente sustentáveis gerados em universidades e centros de pesquisa, que podem levar conhecimento e tecnologia para o mercado, Entre os 20 projetos contemplados, cinco são de homens e 15 de mulheres.

Web-Game

Representante do Brasil entre os 23 vencedores do prêmio Cientista do Ano 2020, concedido pela International Achievements Research Center (IARC), na área Ciências Médicas e da Saúde/Ciências da Saúde, a bioquímica Angela Wyse participou do registro de patente de um jogo eletrônico educacional em 2016, o “Web-game educacional para ensino e aprendizagem de ciências”. O game leva conhecimentos básicos de Química, em perguntas de “certo ou errado”, para crianças da Educação Básica responderem no computador. O conteúdo engloba átomos e moléculas e serve para ajudar a fixar os ensinamentos. A professora lembra que o caminho até a Educação Superior começa na infância. “Devemos estimular as meninas a ter brinquedos que estimulem a criatividade, assim como os meninos. É um processo que, em minha visão, estimulará a presença cada vez maior das mulheres na ciência”, avalia.

Programa Mulheres na Ciência

Em sua 16ª edição no Brasil, o programa “Para Mulheres na Ciência” reforça a importância da inclusão. Realizado pela L´Oréal, em parceria com a Unesco no Brasil e a Academia Brasileira de Ciências, o prêmio tem como objetivo promover e reconhecer a participação da mulher na ciência, favorecendo o equilíbrio de gêneros no cenário brasileiro. Todo ano, na edição local, sete jovens pesquisadoras das áreas de Ciências da Vida, Ciências Físicas, Ciências Químicas e Matemática são contempladas com uma bolsa-auxílio de R$ 50 mil cada, para poder dar prosseguimento aos seus estudos.

Em 2020, uma das vencedoras no certame nacional foi a bióloga e professora Luciana Tovo Rodrigues, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). O trabalho vencedor abordou o estresse de adolescentes na pandemia. Ela explica que o estudo utiliza uma medida inovadora biológica: o cortisol, que é uma medida fisiológica. “Tem sido dada muita ênfase nos estudos envolvendo a pandemia e saúde mental para a população ativa economicamente e para grupos de risco. Poucos estudos têm avaliado os impactos da pandemia nessa faixa etária e com uma medida que analisa a questão fisiológica”, diz.

  Luciana Tovo Rodrigues. Foto: Daniela Xu / UFPel / CP

Para este ano de 2021, as inscrições do programa “Para Mulheres na Ciência” vão até o dia 10/5, e as vencedoras serão conhecidas a partir de agosto. Para participar, é necessário que a candidata tenha concluído o doutorado a partir de 1°/1/2014, sendo que, para mulheres com um filho, o prazo se estende por mais um ano; e para quem tem dois ou mais filhos, o prazo adicional será de dois anos. Além disso, a cientista deve ter residência estável no Brasil, desenvolver projetos de pesquisa em instituições nacionais, entre outros requisitos. O regulamento e mais informações sobre este programa estão disponíveis aqui.

Inspira sonho

O crescimento do número de mulheres na ciência depende, com certeza, de estímulos que começam ainda na infância. A jovem Rafaela Julien Nienow, hoje com 16 anos, conta que desde o 7°° ano do Ensino Fundamental desejava estudar na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, em Novo Hamburgo. Além de conseguir atingir o seu sonho, atualmente Rafaela é embaixadora do programa “inspirasonho” (inspirasonho.com.br), uma plataforma que apresenta diversas oportunidades para jovens do Ensino Médio, muitas gratuitas.

Além disso e, mesmo em meio à pandemia, a jovem, que é aluna do Curso Técnico de Química da Fundação Liberato, foi umas das 14 brasileiras selecionadas no “1000 Girls, 1000 Futures” (1000 Mulheres, 1000 Futuros), um programa extracurricular norte-americano. Residente em Dois Irmãos, ela relata que sempre buscou oportunidades fora da sala de aula.

Câncer de pulmão

Rafaela é uma das 14 brasileiras selecionadas para o programa 1000 Mulheres, 1000 Futuros, da Academia de Ciências de Nova York, nos EUA. Foto: Luis Eduardo Selbach / Divulgação / CP

Previsto para ser finalizado no mês de maio/2021, o curso do qual Rafaela faz parte está dividido em módulos e teve início no ano passado: “Estudamos sobre preparação acadêmica, liderança, comunicação e pensamento crítico. Em junho, juntamente com as outras participantes de diversos países, estarei participando do evento de conclusão deste programa, que será realizado virtualmente na Academia de Ciências de Nova York”, conta.

Sua participação no programa fez com que ela, juntamente com mais duas colegas dos EUA e uma de Cingapura, desenvolvesse um estudo sobre fatores externos relativos ao câncer de pulmão: “A gente pesquisa possíveis fatores externos (clima, condição socioeconômica, estilo de vida...) que possam influenciar o surgimento da doença na população desses três países de origem do nosso grupo”, destaca. Rafaela ainda assinala a importância da língua inglesa, para entrar em programas do gênero: “Com o inglês, a gente consegue ter mais oportunidades em programas destinados para o Ensino Médio. Nos EUA, assim como em outros países, por exemplo, as atividades extracurriculares são muito valorizadas e o idioma é fundamental”, observa.

Mulheres que Mudam o Mundo

Também atenta aos problemas enfrentados pelas mulheres durante a pandemia, a Universidade La Salle lançou o projeto “Mulheres que Mudam o Mundo”, que permite o auxílio da comunidade a jovens universitárias em situação de vulnerabilidade social. A proposta é que empresários ou pessoas físicas contribuam com cotas de patrocínio que ajudarão a custear as mensalidades das alunas. As doações de empresas variam de R$ 7 a 21 mil e dão direito a contrapartidas, como exposição das marcas em espaços da Universidade, uso sem custo de espaços físicos, palestras e treinamentos In Company ministrados por profissionais da La Salle, entre outros benefícios.

Já para pessoas físicas ou MEI que queiram participar, as contrapartidas são descontos em serviços da Universidade, utilização da Shared Business (coworking), entre outras. Mais informes aqui.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895