Movimento em queda

Movimento em queda

Fatores como o aumento no preço das passagens e a redução no número de rodoviárias mudam o cenário do transporte intermunicipal no Estado

Por
Correio do Povo*

Um setor que investe em segurança e conforto, mas vê queda no número de usuários. Cidadãos que precisam pagar caro por um serviço, mas sofrem com as dificuldades de acesso. Locais de manutenção cada vez mais difíceis e que encerram as atividades pela redução de público. Ao analisar de maneira geral o transporte intermunicipal de passageiros no Estado, esses elementos são os componentes da equação necessária para entender o sistema. Empresas de ônibus, passageiros e rodoviárias, cada um com suas características e dificuldades, ajudam a entender os principais gargalos de um importante segmento da economia gaúcha.

Do lado das empresas, há um padrão que se diz rigoroso em relação a uma série de aspectos, como explica o gerente-executivo da Associação Riograndense de Transporte Intermunicipal (RTI) Jefferson da Rosa Lara. De acordo com ele, além das questões de manutenção, as transportadoras vêm, ao longo dos anos, tomando medidas que resultam, por exemplo, num baixo índice de acidentes. A tripulação dos coletivos, por exemplo, recebe cursos de treinamento para direção defensiva e tem um número máximo de horas viajada, além de um mínimo de intervalo entre elas. Ainda segundo Lara, os motoristas têm alojamento adequado e conscientização familiar sobre a importância de boas noites de sono, assim como assistência nutricional e teste do bafômetro. Fora isso, nos últimos anos, as empresas têm pensado “fora da garagem” e mudado o conceito de viagem para experiência. Neste sentido, os ônibus, principalmente os executivos, passaram a oferecer opções de conforto e conectividade aos passageiros, que, ao final dos trajetos, podem avaliar a empresa, apresentar sugestões e fazer reclamações.

Atualmente, existem 1.680 linhas e em torno de 2,9 mil veículos que realizam cerca de 1,5 milhão de viagens por ano.

As melhorias, no entanto, também podem refletir em preços mais altos das passagens. De acordo com Lara, diversos fatores influenciam esses valores. Crise econômica, evasão de habitantes no Rio Grande do Sul e novas opções de transporte são elementos que culminam em um dos principais problemas do sistema: a queda do número de passageiros. Há, ainda, a questão de falta de subsídios para o setor. As empresas da RTI, que já transportaram 50 milhões de pessoas ao ano, atualmente têm 40 milhões.
Em meio aos problemas que o setor enfrenta, a grande aposta para ter a confiança dos clientes é que o transporte rodoviário está presente em todos os 497 municípios do Estado. Mesmo em pequenas localidades, onde por vezes não há um hospital ou uma escola adequada, há opções de ônibus para a Região Metropolitana. Atualmente, existem 1.680 linhas e em torno de 2,9 mil veículos que realizam cerca de 1,5 milhão de viagens por ano.

Um contraste que fica claro para os passageiros do transporte intermunicipal é entre a qualidade de muitos dos ônibus com a falta de estrutura das rodoviárias espalhadas pelo Estado. Pior do que isso, nos últimos anos os usuários vêm convivendo com a escassez de locais de embarque e desembarque nos municípios. De acordo com dados do Sindicato das Estações Rodoviárias (SAERRGS), de 2012 para cá, 113 estações fecharam. Apesar de oferecer viagens para todas as cidades gaúchas, o Rio Grande do Sul atualmente conta com apenas 205 rodoviárias.

O diretor de Transportes Rodoviários do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), Lauro Hagemann, explica que, de todos os fatores que compõem o sistema de transporte de passageiros, a rodoviária é o elo mais fraco. Segundo ele, nos últimos cinco anos, considerando apenas o sistema regular de linhas, houve uma redução de aproximadamente 20 milhões de usuários em todo o Estado e as estações acabam sendo as mais afetadas por essa queda porque sobrevivem das comissões: 11% sobre o valor das passagens e 15% sobre as encomendas despachadas através dos ônibus. “O volume tem um impacto muito grande na receita de uma rodoviária. O simples fato de ter a rodoviária já não é mais um fator de interesse e lucratividade para os empresários do Interior como foi no passado”, explica o diretor do Daer. De acordo com ele, como o setor não tem nenhum subsídio, quanto menos passageiros, mais cara será a tarifa, o que acaba acarretando em ainda mais queda.

 

Crédito: Guilherme Testa


Queda de 7% na Capital 


Somente na estação de Porto Alegre, entre 2016 e 2018, o número de passageiros caiu em mais de 380 mil, cerca de 7%. Na comparação entre os primeiros seis meses de 2019 e do ano passado, a redução é de 8,9%, o que em números representa mais de 230 mil usuários. No Interior, a queda tende sempre a ter impacto maior. O presidente do SAEERRGS, Nelson Noll, cita que a emancipação de municípios de menor porte ao longo dos anos influenciou no fechamento de diversas estações porque os locais cresceram e começaram a ter vida própria. Sem a necessidade de sair para serviços básicos, muitos usuários deixaram o sistema.

Uma alternativa pode ser a mudança no modelo. Segundo o diretor do Daer, a concepção de uma agência rodoviária que funcionaria como um posto de vendas foi identificada como mais atrativa e adequada. A ideia é que ela seja compartilhada com um outro comércio já existente, agregando outros serviços e sem depender somente dessa fonte de renda. A previsão é que sejam lançados 120 editais voltados para municípios de pequeno porte, com baixa movimentação financeira e de passageiros. A expectativa é tirar a proposta do papel ainda em 2019, mas não há uma previsão oficial. 

Apesar de apresentar uma solução a um dos problemas do fechamento de rodoviárias, as agências não resolveriam a falta de estrutura para receber o público. Para o diretor do Daer, tal adversidade poderia ser contornada por meio de articulações com o poder público dos municípios para estabelecer uma parada fixa. Apesar disso, ele comenta que municípios menores não têm um volume de linhas e horários como as cidades médias e grandes: “A demanda por um espaço físico tornaria o negócio insustentável, preferimos um lugar em que as pessoas possam se organizar com antecedência e adquirir uma passagem do que elas ficarem ao relento e não conseguirem viajar”. A proposta implica menos obrigações ao permissionário do que as de uma rodoviária tradicional, mas, mesmo assim, o presidente da SAERRGS entende que haverá dificuldades para implementação do modelo por falta de interesse nos editais. O Sindicato vai sugerir, então, que as agências sejam implementadas atreladas à estação de maior porte de cada região. Dessa forma, as rodoviárias das cidades médias e grandes estariam interligadas com tais postos.

Crédito: Fernanda Bassôa/ Especial/ CP


Região Metropolitana


Passageiros que embarcam da Região Metropolitana com destino a Porto Alegre têm demonstrado descontentamento com os serviços oferecidos. As reclamações vão desde tarifas altas, veículos sem manutenção, pouca frota, desrespeito à tabela de horários, atrasos e outros transtornos causados por omissões e alterações na grade de horários. Regina de Moura, 43 anos, que diariamente embarca em Canoas para a Capital, conta que a tarifa paga pelo usuário está em total desacordo com o serviço prestado. “Ônibus velhos, que estragam no meio do caminho. Sem falar nos bancos quebrados, janelas emperradas e limpeza zero. Há poucas linhas e muito desrespeito com os horários”, diz. O valor também é contestado pela jornalista Nathália Porto Bastos, 23 anos, que mora na Vila Silveira Martins, em Cachoeirinha, e vai e volta de Porto Alegre há cinco anos. “O que mais me incomoda é o preço da passagem. Todo o ano aumenta e os problemas continuam os mesmos. Mudanças de horário sem avisar, ônibus lotados e muitas vezes estragando o tempo todo. O terminal de Porto Alegre, o camelódromo, também é um grande problema para os usuários, pois não há segurança em nenhum momento do dia”, comenta. Nathália também reclama da lotação.

O chefe do Departamento de Trânsito Metropolitano da Metroplan, Danilo Landó, diz que são atendidos 34 municípios e cerca de 200 mil usuários por dia, o que abrange um serviço com 900 linhas distribuídas em nove mil horários e uma frota de 1,8 mil ônibus. Atualmente, a entidade conta com uma equipe de 20 fiscais. A fiscalização, segundo ele, se dá nos terminais de ônibus e nas rodoviárias. Os atrasos lideram as reclamações recebidas pelo Serviço de Atendimento do Consumidor (SAC).

O gerente da Associação dos Transportadores Intermunicipais Metropolitanos de Passageiros (ATM), Erico Michels, afirma que a oferta do serviço caiu na proporção da demanda, que diminuiu cerca de 25% nos últimos cinco anos. De acordo com ele, para manter um preço que, sabe-se, já não é barato, foi necessário fazer reduções. A qualidade, explica, é um misto de diversas questões como velocidade e idade dos veículos. “Outro item de qualidade é a questão do tempo de viagem. Praticamente não existem corredores e os ônibus acabam demorando muito mais hoje do que demoravam anos atrás”, comenta. Michels admite que problemas de manutenção podem ocorrer, mas de maneira pontual, já que as transportadoras precisam fazer inspeção veicular com empresas credenciadas pelo Detran e apresentar ao poder concedente. Com relação ao envelhecimento da frota, a ATM, formada por nove empresas que representam 85% do transporte metropolitano, tem investido ao longo de 2019, comprando ônibus novos e seminovos. Atualmente, conforme o gerente, a média de tempo da frota é de oito anos.

Desde o segundo semestre de 2018, a Logit Engenharia, empresa contratada pelo governo do Estado, vem desenvolvendo o Plano de Gestão do Sistema Estadual de Transporte Metropolitano, que servirá como marco regulatório para o processo de licitação das concessões dos serviços de transporte metropolitano. Com previsão para dezembro de 2019, os estudos envolvem cinco etapas e estão avançados. Paralelamente ao projeto, a Metroplan articula com os municípios a possibilidade de integração do transporte metropolitano, o que pode vir a solucionar parte dos gargalos do sistema.

Ao longo de julho, representantes da entidade se reuniram com a prefeitura de Porto Alegre para articular aquela que pode ser a primeira possibilidade de integração. As negociações, de acordo com o superintendente Rodrigo Schnitzer, ainda são embrionárias, mas a expectativa é que no dia 12 de agosto a Metroplan encaminhe uma proposta formal para que o Executivo municipal analise as questões operacionais que o transporte integrado acaba envolvendo. Um possível projeto-piloto pode envolver os ônibus que transportam passageiros de Alvorada, Cachoeirinha e Gravataí. 

Segundo Schnitzer, fora dos horários de pico, essas linhas que chegam diariamente ao terminal Triângulo da Avenida Assis Brasil costumam operar com aproximadamente 30% de suas capacidades. Nesse caso, a ideia seria que os passageiros, quando chegassem à Capital, pudessem ser integrados em um único veículo. O plano começaria a entrar em prática gradativamente, inicialmente nos finais de semana, quando o movimento é mais baixo.

* 96% das viagens foram pontuais e 99% das viagens não tiveram interrupção
* A cada mil viagens, ocorreram 0,76 quebras de ônibus e 0,15 desvios de itinerários
* Em 85% das vezes, os ônibus tiveram ocupação menor do que 80% da capacidade
* Em 6,84% das viagens houve lotação acima dos 100% da capacidade 

Fonte: Dados da Agergs entre outubro de 2016 e julho de 2019

O superintendente da Metroplan explica que a integração precisa ser interessante também para os usuários. Por isso, os preços teriam que ser promocionais para compensar o transtorno dos passageiros em ter que trocar de ônibus. Para a Capital, o ganho seria a diminuição do intenso fluxo nos corredores de coletivos. Por enquanto, porém, a questão ainda é articulada. Apesar de se mostrar receptivo às ideias, o município de Porto Alegre precisa avaliar os possíveis impactos no seu próprio sistema de transporte de passageiros. Depois da Capital, a ideia é dar continuidade à integração com outros municípios da Região Metropolitana.

Diariamente, enquanto milhares de pessoas pagam tarifas para embarcar com conforto e segurança na rodoviária, há quem opte por um transporte mais barato, paralelo ao sistema, mas que prejudica quem está dentro da lei. O diretor do Daer Lauro Hagemann, afirma que o problema é complexo de solucionar. O órgão faz operações sistemáticas nas estradas, mas, como não tem poder de polícia, em muitos casos há dificuldades de se abordar esses veículos, se eles estiverem estacionados em locais privados, por exemplo. Entre esse tipo de transporte, há os que são clandestinos, ou seja, que não tem nenhum registro, e os irregulares, que estão autorizados para prestar um tipo de serviço e acabam executando outros.

Existem três modalidades que precisam ser autorizadas pelo Daer: o sistema de linhas das rodoviárias; os serviços de fretamento, em que empresas contratam uma transportadora para levar seus funcionários, por exemplo; e turismo, que, somente no ano passado, teve 200 mil listas de passageiros emitidas. No caso dos transportes irregulares, a autuação pode ser complicada porque o veículo está autorizado a rodar e tem a documentação em dia, então é necessário fiscalizar apenas o serviço prestado. Apesar disso, por ter um registro no departamento, é possível punir quando há um flagrante. Já no caso das transportadoras que atuam de maneira clandestina a punição é quase impossível. Isso porque, como o veículo sequer tem registro, o departamento fica sem mecanismos de cobrança “Em tese, só consigo punir aqueles que estão registrados”, diz o diretor do Daer. A única forma de impedir a circulação clandestina é em abordagens nas estradas, quando o veículo é guinchado e a empresa recebe uma multa administrativa. Conforme Hagemann, no entanto, o proprietário consegue liberar o automóvel em 72 horas com menos de R$ 2 mil.

O gerente da Associação dos Transportadores Intermunicipais Metropolitanos de Passageiros (ATM), Erico Michels, explica que o setor tem expectativa de uma melhora econômica para retomar o número de passageiros. Entre os motivos listados por ele para a queda do número de usuários estão os transportes sem regulamentação que têm ganhado as estradas ao longo dos últimos anos. “Que haja aplicativos, ok, isso é da modernidade, mas alguns fazem transporte coletivo e estão sem o mesmo nível de exigência do transporte regrado”, critica. 
 

Santa Cruz do Sul

Crédito: Otto Tesche / Especial / CP


Os ônibus de algumas das principais linhas que param na estação rodoviária de Santa Cruz do Sul estão cada vez mais modernos, com Wi-Fi, carregador, USB individual, câmeras de monitoramento e rastreamento e outros equipamentos, mas contrastam com a falta de estrutura, conforto e segurança do local, no bairro Goiás, às margens da BR 471. Os velhos bancos de madeira, a sala de espera acanhada, os banheiros mal cuidados e a pouca segurança em muitos períodos do dia incomodam os passageiros. A maioria dos pilares no terminal de embarque e desembarque ainda têm publicidade de tradicionais empresas do município que permanecem na memória dos moradores, mas que há muitos anos fecharam as portas, sinal da falta de manutenção no prédio. Quase metade dos espaços para a instalação de lojas está vazia. 

Sob a alegação de descumprimentos contratuais, o Conselho de Tráfego do Daer decidiu, em novembro do ano passado, romper o contrato com a empresa responsável pela gestão do terminal e encaminhar uma nova licitação. A cassação foi determinada a partir de uma sindicância aberta para apurar denúncias contra a concessionária. Uma delas envolvia atrasos no pagamento do aluguel do prédio do terminal, que pertence à prefeitura, enquanto outra envolvia falta de repasses de valores devidos a uma empresa de transporte. A empresa concessionária considerou a cassação irregular e conseguiu reverter a situação. O contrato de cessão do uso do prédio vinha sendo prorrogado pela prefeitura sistematicamente há mais de 20 anos. No entanto, venceu em 2014 e não pôde mais ser renovado porque a empresa não tinha regularidade fiscal. Em 2015, uma licitação foi aberta, mas, assim como em 2008, não houve participantes. O edital lançado pelo município previa uma série de melhorias na infraestrutura da rodoviária, além de um aumento de mais de 150% no valor do aluguel, que hoje gira em R$ 11,3 mil.

Em maio deste ano, a Câmara de Vereadores aprovou uma nova regulamentação para a concessão da estação rodoviária. A concessionária ficou responsável por guichês, lanchonete, sanitários, setor administrativo e área dos ônibus. Já ao Executivo cabe a locação do restaurante e lojas. O projeto ainda prevê a transferência da sede da Guarda Municipal para o complexo, no espaço onde funciona o restaurante, como forma de aumentar a segurança, além de fazer investimentos na infraestrutura. A modificação foi negociada pela Prefeitura com a empresa concessionária, como forma de reduzir o valor do aluguel e regularizar o contrato, que está vencido desde 2014. Após a aprovação na Câmara, a administração municipal de Santa Cruz do Sul iniciou o processo administrativo para cessão de uso do espaço do restaurante por inexigibilidade para a instalação da sede da Guarda Municipal. Atualmente, o local ainda é ocupado por um inquilino, que se nega a sair. Por isso, a prefeitura pretende ingressar com uma ação na Justiça para que ele deixe de ocupar o imóvel. A administração municipal planeja revitalizar a rodoviária. Um projeto está em elaboração pelo concessionário.

Nos demais municípios do Vale do Rio Pardo, apesar de a maioria não ter estrutura adequada para o embarque e desembarque de passageiros, a situação mais precária é de Vera Cruz. A estação no município foi desativada em março de 2014 após mais de um ano de tratativas e de duas licitações sem interessados na concessão do serviço. Desde então, o prédio na rua Tomáz Gonzaga se tornou apenas uma parada de ônibus. A venda dos bilhetes ocorre dentro dos ônibus. Atualmente, o Daer está com os trâmites em andamento para nova licitação. O processo está na Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs) para homologação do edital.
 

Santa Maria

Crédito: Renato Oliveira/ Especial / CP


“A maior preocupação em relação ao transporte intermunicipal nas cidades da Região Central do Estado está na queda do movimento de passageiros.” A afirmação é de Jorge Aita, administrador da rodoviária de Santa Maria, a maior da região. Segundo ele, as causas seriam a situação econômica, o transporte clandestino e alternativo e, inclusive, a facilidade que, até recentemente, as pessoas tinham para comprar veículos novos. Na estação de Santa Maria chegam ônibus de 14 empresas, com 250 horários diários. O acesso ao local acontece pelas BRs 158 e 287. “Considero o estado das rodovias bom e a estrutura da rodoviária, com a demanda atual, também”, comenta Jonas Silva, 24 anos, morador de Agudo e que viaja semanalmente para a cidade.

Em Mata, onde o turismo influi diretamente na economia, a rodoviária foi fechada no ano passado. O administrador não fala sobre o fechamento, mas o prefeito Sergio Roni Bruning comenta: “O movimento fraco, pagar água, luz e um funcionário tornou inviável continuar com o trabalho”. Atualmente, há um ponto de venda de passagens que fica em um estabelecimento e o fluxo fica concentrado nos finais de semana, por conta de estudantes de outras cidades da região, principalmente Santa Maria. O acesso ao município é pela BR 287, que conecta com a RSC 532. O município de Santiago, com pouco mais de 50 mil habitantes, tem um transporte intermunicipal satisfatório, assegura o prefeito Tiago Gorski Lacerda. Sobre a frota de ônibus que passa pela região, Gorski informa que uma empresa, a Expresso São Pedro, apresentou problemas, que foram solucionados. “A nossa rodoviária é antiga, mas está conservada e comporta o movimento que temos”, destaca Ana Maria Notargiacomo, que trabalha com vendas pela região e reside em Santa Maria.

Com pouco mais de 11 mil habitantes, o município de Jaguari tem um transporte intermunicipal considerado satisfatório. “Existe uma empresa que vem tendo problemas com seus ônibus, principalmente no que diz respeito aos horários, e os veículos são antigos. Mas a estrutura da rodoviária é boa”, comenta o morador Miguel Monte. Os acessos à cidade são pelas RSC 377 e 241, que, conforme moradores, precisam de uma recuperação e manutenção.

Em Restinga Seca, a rodoviária de beira de calçada tem uma estrutura antiga. As linhas de ônibus que chegam ao município oferecem boas condições aos moradores que precisam viajar, segundo o prefeito Paulo Ricardo Salerno. Os acessos, pelas rodovias RSC 287 e RS 149, para ele estão em bom estado. A tendência, ainda conforme o prefeito, é de melhorias com a duplicação da RSC 287.

Localizada a 35 quilômetros de Santa Maria, São Pedro do Sul tem sua rodoviária localizada no centro da cidade, o que, apesar da estrutura já antiga, facilita o acesso. A prefeita Ziania Bolzan lembra que alguns dos ônibus estão defasados e que é necessário renovar a frota. Já em Júlio de Castilhos, às margens da BR 158, a rodoviária é considerada boa por alguns usuários, que também elogiam a qualidade dos veículos. 
 

Uruguaiana


Em Uruguaiana, na fronteira-oeste do Estado, o secretário de Governo Paulo Fossari destaca que, apesar de ser de competência do Daer e do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNER), o serviço tem sido prestado com eficiência, pontualidade e que a cidade é bem atendida, com relação a rotas, para praticamente todas as regiões do Rio Grande do Sul. Quanto às estradas, a malha deixa a desejar apresentando precariedade e não oferecendo as condições ideais de trafegabilidade, eventualmente colocando em risco os passageiros e provocando danos aos veículos. A BR-472, trecho entre Uruguaiana/São Borja e Uruguaiana/Barra do Quaraí, é deficiente. A BR-290, em alguns trechos, entre a cidade e Porto Alegre, também apresenta dificuldades aos condutores.

Já o presidente do Sindilojas Uruguaiana, Read Barakat, considera a situação das rodovias que ligam a cidade a outras localidades sofrível, principalmente as BRs 290 e 472. Lembra que Uruguaiana pode perder o status de maior Porto Seco da América Latina para Foz do Iguaçu (PR) exatamente pelas péssimas condições viárias, onerando custos ao transporte internacional. “Muitas vezes é melhor viajar de ônibus do que colocar o carro particular na estrada”, justifica. Sobre a rodoviária, Read considera o terminal de passageiros estruturado e capaz de atender à demanda de transportadores e passageiros. “As reiteradas audiências públicas sobre a matéria servem mesmo para currículo, visto não haver soluções concretas. As pontes e BRs seguem deficientes e as obras nulas”, conclui. Os transportadores, por sua vez, sentem o reflexo da retração da economia no guichê. O número de passagens vendidas caiu desde o início do ano e empresas apelam para promoções. Passagens de R$ 175 chegam a ser comercializadas por R$ 100, como forma de minimizar os efeitos da crise.
 

Pelotas


A estação rodoviária de Pelotas é uma empresa pública municipal que movimenta cerca de 280 mil pessoas e vende em torno de 90 mil passagens por mês, a maioria para Porto Alegre e Rio Grande. O cobrador de ônibus Cláudio Cabreira, que há quatro anos trabalha na linha Pelotas/Rio Grande, acredita que falta limpeza e uma pintura nova no prédio. “Está feio o caso aqui. A rodoviária é muito fria, escura, dá um aspecto de sujeira. Na de Rio Grande, o pior problema é a localização”, observa. Ele acredita que a estação pelotense deve renovar sua estrutura, mas também critica outras estações. “A do Chuí é um galpão com três boxes. Lá é mais complicado, pois não tem nem onde descansar”, relata.

Já para a aposentada Enilda de Jesus Silveira, que viaja todos os meses entre Herval e Pelotas, a rodoviária de Pelotas é limpa, mas não se pode afirmar que seja um ambiente aconchegante. Ela conta que, em Herval, o local foi fechado e que resta um ponto de embarque e desembarque: “Eles colocaram uns banquinhos de plástico onde sentamos e esperamos. Se está chovendo, ficamos na rua esperando”. Neida Borges, por sua vez, viaja entre Pelotas e Canguçu, onde, segundo ela, a rodoviária é pequena, mas tranquila. “É mais limpa que Pelotas. Aqui abrem as portas e fica gelado em dias frios. A estrutura do ônibus para Canguçu é boa, com ar condicionado e banheiro, mas os horários são espaçados demais”, opina. Para a agricultora Micheli Becker, o ônibus que faz o trajeto São Lourenço do Sul/Pelotas não tem boa estrutura. “Em São Lourenço, eles reformaram e é menos úmida que em Pelotas, que também deveria ter uma melhor orientação com placas indicativas para táxi”, diz.

A rodoviária de Pelotas movimenta cerca de 280 mil pessoas e vende em torno de 90 mil passagens por mês

A rodoviária de Rio Grande está há um ano e seis meses em um novo endereço. O local conta com sala de espera com cadeiras, carrinho para as malas e painéis eletrônicos com o horário dos ônibus, o que acaba agradando a maioria, como a aposentada Fátima Franco. “A estrutura é boa, assim como o visual, e os banheiros e os ônibus são limpos”, diz. Já o também motorista Luiz Eduardo Crizel acredita que o prédio da rodoviária de Pelotas precisa de manutenção, enquanto em Rio Grande o problema é o acesso dos ônibus, que tem muitos buracos. A situação da duplicação da BR 116 também é citada como um problema.

Uma das principais reclamações dos usuários do transporte coletivo na região de Frederico Westphalen é o elevado custo das passagens, especialmente em relação às empresas que fazem o transporte entre o município e Porto Alegre. Alguns passageiros observam que, dependendo do trajeto, algumas passagens tiveram uma elevação de preço em até 40% em menos de dois anos. João Passentin, de Ametista do Sul, cita que periodicamente viaja de Frederico Westphalen a Realeza, no Paraná, e aponta: “Há menos de um ano o custo da passagem era R$ 44 e agora subiu para R$ 74, um absurdo”. Ele avalia que as estações rodoviárias das cidades não apresentam boas condições. “Têm pequenos municípios que possuem pontos de venda de passagens e nem banheiro possuem”, reclama. Assim como ele, moradores de Frederico que viajam para a Capital afirmam que o custo da passagem varia de R$ 139 a R$ 161. Também há muitas reclamações em relação à qualidade dos coletivos das linhas intermunicipais da região norte. Soma-se a isso as más condições das rodovias, muitas ainda de chão batido, ou de asfalto cheio de buracos.

A sócia-proprietária da Estação Rodoviária de Frederico Westphalen, Ana Locatelli, cita que a obrigação das empresas de ônibus em garantir gratuidade de passagens a várias setores eleva custos e, automaticamente, aumenta o valor das passagens em geral. “Tem um percentual de passagens gratuitas em favor de idosos, policiais militares e deficientes físicos, além de descontos para estudantes e tudo isso reduz os ganhos das empresas, com certeza”, avalia. Ana cita que foram realizadas melhorias na estação, como a instalação de portão eletrônico, recuperação do pátio de estacionamento, acessibilidade, muros e cadeiras. “É um desafio manter toda a estrutura, pois o número de pessoas que viajam de ônibus está caindo ano após ano, essa é a realidade”, diz.


Vale dos Sinos


Pelo Vale do Sinos, o transporte intermunicipal perdeu muitos passageiros para o Trensurb. Nas cidades de São Leopoldo e Novo Hamburgo, o maior fluxo das viagens é para cidades da Serra e Vale do Caí. A estrutura das rodoviárias, porém, deixa a desejar. Em Novo Hamburgo, dois terminais concentram as linhas para outras cidades, sendo que a chamada Rodoviária Velha atua em condições precárias. “Em dias de chuvas não temos a proteção devida e acabamos nos molhando, fora a falta de bancos, lixeira e outros itens básicos, como bebedouros”, diz a estudante Valéria Dieter. Ela utiliza o terminal antigo, por ser mais próximo de sua residência, na área central. Já a Rodoviária Normélio Stabel, localizada no bairro Ideal, possui um fluxo maior de passageiros, somando cerca de 800 pessoas em dias normais e 1,2 mil em feriados.

A Prefeitura de Novo Hamburgo informa, por meio da assessoria de comunicação, que a Rodoviária Velha vai suspender as operações quando iniciar o funcionamento do Complexo Multimodal, que deve concentrar linhas do transporte coletivo, próximo à Estação Novo Hamburgo, da Trensurb. A implantação do projeto está sob responsabilidade da empresa, pois faz parte do programa de expansão do trem. Em São Leopoldo, por meio de uma ação popular movida pelos lojistas do terminal, um laudo aponta problemas na estrutura da rodoviária, como a corrosão em diversos pilares, fissuras e infiltrações na cobertura do prédio. A prefeitura lançou, ainda no ano passado, um projeto de revitalização e ampliação do terminal. Com investimentos previstos em até R$ 25 milhões, a reforma deve ser feita a partir de uma parceria privada, ainda sem interessados.

 

Caxias do Sul

Usuários reclamam de fatores como valores elevados das tarifas. Crédito: Celso Sgorla/Especial/CP

 

O transporte intermunicipal na região de Caxias do Sul vem sofrendo nos últimos anos redução no número de passageiros. E as justificativas são as mais variadas dependendo de cada parte envolvida no processo. O diretor da empresa Ozelame Transportes, Júlio Ozelame, diz que muitas pessoas que tinham o ônibus como meio de se deslocar de uma cidade para outra melhoraram sua condição de vida e adquiriram carro próprio. Outro aspecto ressaltado é a situação precária das estradas com buracos, pista simples e sem acostamento. Ele lembra que no passado, uma viagem entre Caxias do Sul e Bento Gonçalves levava 45 minutos. Hoje, com o aumento no número de veículos nas estradas somado à precariedade das rodovias, demora 1h15min e essas situações acabam por influenciar também o valor da tarifa da passagem. “Hoje transportamos em torno de 100 mil passageiros por mês, mas já chegamos em outras épocas a transportar 150 mil”, informa Ozelame. Pelo lado dos usuários, a fisioterapeuta Aline Lovera, que diariamente usa o transporte intermunicipal para se deslocar entre Farroupilha e Caxias do Sul, onde trabalha, considera que o serviço está deixando a desejar. Ela relata que os ônibus invariavelmente estão lotados, com pessoas de pé e seguidamente atrasam ocasionando transtornos para quem tem horário para chegar ao trabalho. Além disso, o valor da passagem é caro. “Acham que transportam mercadorias e não seres humanos”, critica. Aline conta que faz esse roteiro entre as duas cidades desde 2002 e sente que o serviço está piorando a cada ano. 

O chefe regional da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan), Ozório Rocha, diz que, de forma geral, considera que as empresas de transporte prestam um serviço de boa qualidade nos municípios da região no que se refere ao estado de conservação do ônibus e aos horários oferecidos. A maior reclamação dos usuários, segundo ele, é em relação ao preço da passagem. Ele diz ainda que a fiscalização tem sido feita para que as empresas mantenham a qualidade do serviço aos usuários e informa que, na Serra, os municípios de Flores da Cunha, Antônio Prado e Ipê não contam com estações rodoviárias. As empresas que operam nessas linhas abriram escritórios para atender os usuários. Já com relação à rodoviária de Caxias do Sul, os usuários em geral consideram que oferece boas condições com banheiros, cafés, revistarias e locais de espera para quem aguarda pelos ônibus.

Cruz Alta
 

Prefeitura de Cruz Alta estuda vender o prédio da rodoviária da cidade. Crédito: Djovana Souza / Divulgação / CP

 

Localizada na região central da cidade, a estação rodoviária de Cruz Alta é uma das maiores do interior do Rio Grande do Sul. Porém, as condições precárias da estrutura e atendimento à população provocam discussão há mais de um ano entre Executivo, Legislativo e a empresa que detém a concessão da estrutura. O vereador Vinicius Oliveira de Carvalho conta que a Câmara de Cruz Alta enviou um pedido de informações ao Executivo: “Queremos ter acesso às cláusulas do contrato de concessão, para poder cobrar das partes a manutenção da rodoviária”. Ele revela que a estrutura precisa urgentemente de manutenção. Segundo Vinicius, são necessárias melhorias na estrutura do prédio, como no telhado e calçadas, por exemplo, além de reformas nos banheiros e no acesso, que tem problemas na pavimentação. Ele conta ainda que há só uma lancheria no local e existe a demanda por um restaurante.

O vereador lembra ainda que, em 2018, houve uma discussão sobre a venda da rodoviária, em um sistema de troca de espaço com uma outra empresa que teria interesse no local. Chegou a ser criada uma CPI na Câmara para acompanhar a negociação e ocorreu também intervenção do Ministério Público. Após a desistência da venda por parte do Executivo, os vereadores realizaram pedido de informação, sem retorno há mais de sete meses. “Reenviamos no começo deste ano. Lembrando que o prazo para resposta de pedidos é de no máximo 60 dias”, destaca.

O secretário do desenvolvimento econômico de Cruz Alta, Emerson de Souza, admite que a situação da rodoviária é precária, mas revela que o Executivo tem uma única saída para o problema: a venda do prédio, pelo qual o município recebe um aluguel mensal de R$ 10 mil, o que em valores de mercado poderia chegar a R$ 50 mil. A estrutura pode ser vendida por R$ 7,5 milhões, que seriam investidos em um distrito industrial, asfalto e pista executiva para aviões, investimentos que, segundo ele, poderiam propiciar o desenvolvimento do município.

Com a venda do prédio, a proposta de concessão deixaria aberto ao vencedor a compra, aluguel ou construção de um prédio novo, em um espaço que não seja central. A prefeitura trabalha no desenvolvimento de um edital para renovação da concessão. “O ideal seria em uma rodovia, onde o empreendedor pudesse agregar outros serviços, com conveniência, por exemplo, tornando rentável o negócio”, observa o secretário. Ele destaca que a comercialização de passagens não é mais rentável como antigamente. Segundo Souza, há 10 anos se comercializava 40 mil passagens por mês. Hoje, o número caiu para 13 mil.

O secretário disse ainda que não teve acesso a nenhum pedido de informação e destacou que os vereadores sempre souberam do andamento das informações do caso da rodoviária, através de várias reuniões realizadas. “Inclusive, na época, aprovaram a permuta com a empresa, que mais tarde foi barrada pelo Ministério Público”, destaca. No ano passado uma rede de varejo faria uma permuta e investiria R$ 30 milhões, gerando 160 empregos e um retorno de ICMS de até R$ 50 mil. “Uma denúncia ao MP bloqueou o processo, pois o órgão entendeu como irregular. Como a empresa tinha pressa para o investimento, o negócio foi suspenso. Hoje estamos atrás de um novo comprador”, diz Souza.

Em nota, Tiago Jost, que detém a concessão das pesagens e encomendas da rodoviária de Cruz Alta, lembra que, desde a década de 60, a família é responsável pelo serviço, com prazo indeterminado. A nota destaca que a empresa tentou de várias formas realizar um acordo com o município para que a população pudesse ter um espaço mais agradável. “Inclusive, propusemos privatizar o prédio, gerenciar os espaços e salas do imóvel, retornando o valor dos aluguéis em prol das melhorias no imóvel, no entanto, não fomos atendidos”. A concessionária diz ainda que, com a diminuição do número de passageiros e os altos valores despendidos para manter as portas abertas, o negócio está inviável. E as únicas soluções visíveis para manter o terminal rodoviário aberto à população seriam uma readequação da porcentagem da comissão auferida pelos concessionários, de 11% a 15%, ou a criação de uma taxa extra por passagem vendida.

Reportagem: Henrique Massaro, Fernanda Bassôa, Otto Tesche, Renato Oliveira, Fred Marcovici, Angélica Silveira, Agostinho Piovesan, Stephany Sander, Celso Sgorla e Felipe Dorneles 

Correio do Povo
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