Mudança no currículo

Mudança no currículo

O Novo Ensino Médio já está sendo aplicado em algumas escolas gaúchas, mas em 2022, todas as escolas deverão começar a adotá-lo

Por
Vera Nunes

Os educadores brasileiros que atuam no Ensino Médio têm grandes desafios a serem enfrentados em 2022. Além de uma pandemia, que ninguém sabe ao certo se estará controlada, eles terão que levar para a sala de aula as mudanças estabelecidas pela Lei n° 13.415/2017, que definiu uma nova organização curricular para essa etapa do ensino. Enquanto a mudança não chega a todas as salas de aulas, especialistas e entidades de ensino ainda questionam se a mudança realmente trará a qualidade desejada, assim como a efetiva participação dos estudantes. Alheio ao debate, o Ministério da Educação (MEC) definiu que todas as instituições têm até março de 2022 para começar a colocar em prática o novo currículo, dividido em Formação Geral Básica (conteúdos obrigatórios) e Itinerários Formativos (que podem ser escolhidas pelos alunos).

Com cerca de 400 alunos já vivenciando o Novo Ensino Médio (NEM), a Escola Estadual Vila Prado, em Sapucaia do Sul, foi uma das 299 escolas piloto escolhidas pela Secretaria Estadual da Educação para servir como “laboratório” para a mudança no RS. Partindo de preceitos de autonomia e participação dos alunos, em 2018, um hackathon foi organizado com as turmas do 9° ano do Ensino Fundamental e do 1° ano do Ensino Médio, para discutir quais áreas os alunos tinham mais afinidade. Reunidos em grupos, eles definiram como Itinerários Formativos a Sustentabilidade e a Tecnologia, que, por sua vez, atendem as quatro áreas do conhecimento: Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas.

Professor Referência

A implantação começou em 2019. “Foi um ano bem difícil”, conta a diretora Naiara Molon, lembrando que os professores não estavam preparados para essa nova grade curricular. “Nós tínhamos os nomes das disciplinas, mas não havia conteúdo. Era preciso pesquisar, ir atrás. Não eram temas que estavam nos livros”, recorda. O grande apoio, salienta, é o professor referência na escola, no caso da Vila Prado, o professor Olívio Guedes, encarregado de reunir, quinzenalmente, os docentes para sistematizar e dar forma aos conteúdos pesquisados. Mas, se 2019 foi desafiador, não é difícil imaginar 2020, em plena pandemia. “As aulas práticas não puderam acontecer. Então criamos uma página no Facebook, onde os alunos apresentavam seus trabalhos em forma de vídeo e os professores corrigiam. O processo acabou acontecendo, mas nunca como no presencial”, admite.

Para os alunos que ingressaram no Ensino Médio em 2021 foi mais complicado ainda, pois, sem os encontros presenciais, eles não tiveram as palestras iniciais, que ajudam na escolha dos Itinerários. “Mais uma vez, os professores se organizaram para driblar essa situação e conseguiram superar e organizar as turmas”, garante. Mesmo sem um contato presencial diário, no último ano, a escola tem tido bons retornos. “Os alunos gostam do novo formato, porque podem escolher e desenvolver melhor as suas habilidades”, garante. Os professores, apesar de ainda não terem a formação quinzenal desejada, observam avanços, como a construção da Sala Maker, para a Tecnologia, e a reforma dos laboratórios de Química e Física, entre outros espaços.

Renovação curricular

Já nas 18 escolas Maristas no RS e nas unidades do DF e do MT, que possuem Ensino Médio, a mudança começará a ser vivenciada em 2022. Como explica a supervisora pedagógica da Rede, Camila Fabis, não se trata de uma “reforma”, mas de “renovação curricular”. Segundo ela, a proposta de reestruturação desta etapa de ensino, que busca maior diálogo com o jovem contemporâneo, vai ao encontro do que a Rede já fazia. “Aproveitamos a oportunidade de mudança na legislação para ampliar e inovar nos currículos e conteúdos oferecidos”, afirma. Assim, em 2019, de maio a novembro, os educadores da Rede participaram de um curso de formação, ministrado pela PUCRS, com reuniões internas nas escolas, para sistematizar o conhecimento. E, ao final do curso, foram, então, definidos os Itinerários Formativos.

“Em 2020, nós seguiríamos com a formação, mas veio a pandemia e nos impactou, como a todo o ensino”, relembra. O Projeto Estratégico, porém, seguiu adiante e grupos de trabalhos (GTs) locais foram encarregados de definir os itinerários híbridos, compostos por núcleos de aprofundamento (para toda turma, visando à formação integral) e os percursos investigativos (com carga horária menor e disciplinas que podem ser escolhidas pelos alunos). Conforme Camila, os cerca de 1.400 estudantes que hoje estão no 9° ano do Ensino Fundamental da Rede serão apresentados a seis Itinerários Formativos: Educação Financeira; Tecnologia e Sociedade; Contexto e Movimentos do Século XXI; Ciências da Saúde e da Vida; Cultura Digital; e Processos Criativos. “A ideia é que eles conheçam as mudanças, nos próximos meses, para que façam suas escolhas ao longo do Ensino Médio, já que a implementação será gradativa”, explica. Junto com toda a mudança, Camila comemora a carga horária específica para o Projeto de Vida do aluno, que inclui discussões sobre suas experiências, com foco no autoconhecimento.

Construção do NEM

  • Em junho deste ano, a Rede Sinodal de Educação promoveu um curso on-line sobre a reestruturação do Novo Ensino Médio. Em quatro encontros, os professores compartilharam experiências, diferentes propostas e materiais didáticos, com o objetivo de auxiliar as escolas no processo de construção do Novo Ensino Médio (NEM).
  • As coordenadoras da Escola Setrem, da Sociedade Educacional Três de Maio, Fernanda Sartor, Ana Cláudia Leite e Renati Chitolina elencaram, como principais mudanças, a carga horária, os itinerários formativos, o projeto de vida e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 
  • A carga horária do NEM é de 3.000 horas, distribuídas entre Formação Geral Básica (1.800h) e Itinerários Formativos (1.200h). E ainda, será trabalhado o Projeto de Vida, o qual busca auxiliar o estudante nas escolhas futuras, traçando um caminho para as suas experiências no itinerário formativo, devendo contribuir para as suas escolhas profissionais.
  • Ana Cláudia, coordenadora-geral da Escola, assinala que “podemos afirmar, que muito do que propõe o NEM já é desenvolvido pela Escola Setrem. Mas o novo formato trará, ainda mais, experiências significativas, criatividade e inovação, proporcionando ao aluno interação, aprendizagem, vivências, conhecimento e protagonismo, que são demandas contemporâneas. O DNA da Setrem permanece o mesmo, pautado no desenvolvimento de bases sólidas para o conhecimento”.

*Na próxima semana: críticas e protagonismo do aluno no NEM

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895