Normativa facilita produção integrada da uva

Normativa facilita produção integrada da uva

Em vigor a partir deste mês, atualização do regramento do Ministério da Agricultura, que existe desde 2016, torna menos oneroso o processo de certificação dos produtores de uvas destinadas à fabricação de vinhos e sucos

Por
Celso Sgorla

Desde a última sexta-feira, dia 1º de julho, está em vigor a Instrução Normativa nº 21 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que atualiza a regulamentação para a Produção Integrada de Uva para Processamento (PIUP). O sistema é de adesão voluntária e possibilita a certificação da produção de vinhos e sucos de alta qualidade. Prioriza a segurança do alimento, por meio do monitoramento de insetos e ácaros causadores de pragas e doenças, dando preferência a métodos seguros, com uso correto de agroquímicos, com foco na sustentabilidade e no aumento da rentabilidade, tornando o produtor mais competitivo. Para o consumidor, além de ter acesso à rastreabilidade das uvas e dos produtos elaborados, garante o acesso a alimentos com riscos de contaminação reduzidos, sejam de ordem química (resíduos de agrotóxicos, nitratos e outros), física (solo, vidro, metais e outros) ou biológica (dejetos, bactérias, fungos e outros).

A novidade da versão de 2022 é a flexibilização das regras para certificação, que antes exigiam auditoria individual da produção e, agora, permitem que esta seja feita em grupos, o que diminui custos e pode aumentar a adesão de agricultores e vinícolas. O pesquisador da Embrapa Uva e Vinho Samar Velho da Silveira observa que a produção integrada resolve problemas de contaminação ambiental e também econômicos, pois o agricultor vai seguir os conceitos técnicos, respeitando a carência dos produtos e aplicando somente a concentração que o fabricante recomenda. “Adotar o sistema na prática é uma coisa, certificar é outra porque a certificação envolve custos, e não é sempre que o produtor ou a vinícola encontram um nicho de mercado que compense o custo”, completa.

O coordenador-geral de Sistemas Integrados de Produção Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Marcus Vinícius Martins, destaca que as normas técnicas são uma ferramenta importante para orientar os produtores e vinícolas a produzirem sucos de uva e vinhos com maior qualidade no cenário nacional. “A certificação do processo produtivo permite aos agricultores e às vinícolas agregar valor aos produtos comercializados e a utilização do Selo Brasil Certificado: Agricultura de Qualidade”, ressalta Martins.

O agrônomo e diretor executivo do Instituto Certifica, Nede Lande Vaz da Silva, confirma que o custo da certificação era realmente um problema. Ele explica que a norma anterior estabelecia que todos os produtores, no primeiro ano, deveriam ser auditados. A norma atual permite que a certificadora trabalhe com uma amostragem de raiz quadrada do número de produtores, ou seja, a cada 100 fornecedores, dez serão auditados. Silva esclarece que os custos variam dependendo principalmente das distâncias entre os produtores e a vinícola, e a distância do auditor. O custo de certificação da vinícola, sem considerar o custo com as auditorias dos produtores, é de aproximadamente R$ 5 mil. Já a auditoria de vinhedo, em grandes propriedades, fica em torno de R$ 6 mil. Para grupos de 100 produtores, onde 10 seriam auditados, o custo ficaria em aproximadamente R$ 12 mil, sendo dividido pelos 100 produtores, dando um valor de R$ 120,00 por produtor.

Na região da Serra poucas vinícolas e praticamente nenhum produtor aderiram à Produção Integrada de Uva para Processamento. Uma das vinícolas é a Ravanello, de Gramado, que foi a primeira empresa a receber o selo de Produção Integrada no Rio Grande do Sul, em 2016. O proprietário, Normélio Ravanello, relata que nos vinhedos de produção própria técnicos procedem a um rigoroso acompanhamento da uva ao longo de todo o ciclo de produção. Na maturação, a qualidade sanitária e bioquímica é monitorada diariamente. Apesar do pouco retorno do investimento realizado, ele diz que vale a pena seguir nesse caminho. “Nós queremos um produto realmente elaborado e que tenha o melhor benefício para o cliente final”, completa.

Outra vinícola que já aplica as normas da Produção Integrada de Uvas é a Chandon, de Garibaldi. O diretor de produção, Philippe Mevel, informa que, com a publicação das normas da PIUP e com os treinamentos para técnicos, em 2016, a empresa decidiu aderir ao sistema. “Conseguimos certificar nosso vinhedo próprio de Encruzilhada do Sul pela primeira vez em 2020 e, assim, continuamos hoje depois de passar com sucesso pelas auditorias de 2021 e 2022”, aponta. Mevel crê que o movimento de adesão à produção integrada ainda demore. 

O Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) ainda não debateu o assunto, segundo reporta o seu presidente, Darci Dani. Ele entende, entretanto, que a normativa é interessante porque garante maior qualidade à produção da uva para elaboração de suco ou vinho e impacta de forma positiva nos custos. 

O presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), Sandro Valduga, também revela que a entidade ainda não tem posição sobre a normativa e que o assunto vai ser tratado na próxima reunião da direção da Aprovale. Ele salienta, porém, que o Vale dos Vinhedos obteve em 2002 o reconhecimento como Indicação Geográfica, podendo conceder aos vinhos que estivessem dentro dos padrões estabelecidos no Caderno de Especificações Técnicas, o selo de Indicação de Procedência (IP). A partir de 2012, com o reconhecimento do Vale como Denominação de Origem (DO), para ostentarem esta classificação, os produtos devem obedecer a regras mais específicas em relação ao cultivo da uva e à elaboração do vinho.

 

 

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