Espécies de ácaros característicos do Bioma Pampa podem atuar como predadores naturais de pragas como a mosca branca, que dizima culturas de soja, tomate e uva. É o que indica uma pesquisa de doutorado do Programa de Pós-graduação em Ambiente e Desenvolvimento (Ppgad) da Universidade do Vale do Taquari (Univates) feita pelo biólogo Maicon Toldi, orientado pelo doutor Noeli Juarez Ferla.
O trabalho é mais um exemplo da tendência nacional de incentivo ao uso de agentes biológico ou de produtos à base deles para controle de pragas. Só neste ano, o Ministério da Agricultura já autorizou 63 defensivos agrícolas formulados a partir de agentes biológicos ou orgânicos, o que é um recorde. Esses defensivos atuam controlando pragas específicas em culturas e não causam efeito tóxico em seres humanos ou ao meio ambiente.
Para chegar à conclusão da tese de doutorado, Toldi analisou 61 plantas nativas em três áreas distintas, em Pantano Grande. Um local era campo, outro floresta e o último estava em recuperação ambiental. Em 55 das espécies vegetais observadas foram encontradas 30 espécies diferentes de ácaros predadores. Quatro delas, inclusive, eram desconhecidas. A Aculus pampae, por exemplo, foi nomeada durante a pesquisa, em homenagem ao bioma gaúcho.
Depois, o pesquisador comparou quais plantas e quais áreas eram mais atrativas para os ácaros nativos do Pampa. As áreas de campo e floresta nativa conservadas foram as que mais apresentaram número absoluto de ácaros. “Esses animais fazem um serviço ambiental gratuito nessas regiões”, resume Toldi. Em relação à área em recuperação ambiental, o pesquisador descobriu que não havia muitos ácaros porque a fiscalização estava plantando árvores grandes onde antes era campo.
Área em restauração ambiental tinha poucos ácaros predadores. | Foto: Arquivo Pessoal.
Os dados compilados e interpretados estão publicados no site do Ppgad. Lá, o produtor interessado pode verificar quais plantas atraem mais ácaros. Para evitar uso de agrotóxicos, a sugestão é plantar ou conservar algum dos vegetais que estão na lista para contar com o aliado natural para o controle biológico.
“Esse é o futuro da produção de alimentos”, projeta Toldi, lembrando que os produtos químicos podem matar tanto o predador como a presa. “Usar os predadores biológicos reduz a possibilidade do produtor se tornar refém de agrotóxicos”, acrescenta.
O trabalho acadêmico chegou ao fim, mas os pesquisadores estão voltados a novos projetos. Um deles é multiplicar predadores em escala industrial a partir de uma das plantas nativas que atraem os ácaros, ao invés da folha de feijão, como é feito hoje. O trabalho também contou com parceria do pesquisador italiano Enrico de Lillo e do Laboratório de Botânica da Ufrgs.
*Sob supervisão de Elder Ogliari