O 14 Bis virou um drone

O 14 Bis virou um drone

Desafio proposto a estudantes pelo Sesi Com@Ciência foi o de elaborar um drone inspirado no modelo de avião criado por Santos Dumont, em 1906

Por
Maria José Vasconcelos e Vera Nunes

Unir invenções do início do século passado com equipamentos atuais parece ser algo difícil de acontecer. Mas este foi o tema e o desafio que o evento Sesi Com@Ciência 2021: “Do 14 BIS ao Drone” apresentou aos participantes. A proposta era que os alunos elaborassem um drone inspirado no modelo de avião criado por Santos Dumont, em 1906. A iniciativa mobilizou estudantes de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e dos ensinos Fundamental e Médio das Escolas Sesi-RS. Os vencedores foram conhecidos na noite da última quarta-feira (20/10), durante a programação do evento. Em 1° lugar ficou a equipe Bisclub, do Polo Guaporé. E completaram o pódio os grupos #juntosagenteconsegue, de Erechim; e Igrebótica, de Igrejinha.

Evento teve quase 50 especialistas, público de 18 mil pessoas, participantes de 26 estados, 100 projetos expostos por alunos das Escolas Sesi, 8 oficinas ao vivo e 2 painéis. Foto: Dudu Leal / Fiergs / CP

Materiais Reciclados

“Estou feliz com essa oportunidade que o Sesi me deu, de voltar a estudar e já conquistar essa grande vitória com a robótica”, conta Luciano de Oliveira Pilar, da equipe vencedora. Com os colegas Afonso Andrizzi e Andressa Evangelista, e sob a orientação da técnica da equipe, Vanessa Bagio, ele construiu o drone usando materiais reciclados. “Fomos discutindo o que poderia ser feito. Um dava uma ideia, o outro ajudava, e deu certo”, comemora o estudante de 39 anos. Para controlar os drones, as 10 equipes utilizaram a placa GogoBoard, um pouco mais complexa do que geralmente se aplica em projetos de iniciação. E a avaliação do trabalho foi feita por uma comissão do Sesi-RS, que levou em consideração critérios como design, estrutura, inovação, criatividade e apresentação. As três equipes vencedoras estão classificadas para o primeiro torneio estadual de robótica com alunos de EJA, que será realizado pelo Sesi-RS na próxima edição do Sesi Com@Ciência, no ano que vem.

Consolidado como um dos principais eventos de inovação na educação do Sul do Brasil, o Sesi Com@Ciência, promovido nos dias 20 e 21 de outubro, contou com reconhecidos palestrantes, que debateram os caminhos da educação sob diferentes perspectivas, contribuindo com o trabalho de gestores, educadores e estudantes – que puderam tirar dúvidas e interagir virtualmente. “O desafio traz, de forma contextualizada e interdisciplinar, conhecimentos que um aluno precisa desenvolver na sua trajetória escolar. Este ‘desenvolver’ é mais rico, na medida em que conversa com a realidade e o interesse desses alunos”, considera Sonia Bier, gerente de Educação do Sesi-RS.

Igualdade de oportunidades

Entre os palestrantes, Naercio Menezes Filho, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e da Universidade de São Paulo (USP), tratou da educação sob um olhar socioeconômico. Segundo ele, no Brasil, os indicativos apontam para um desenvolvimento insuficiente da maioria das crianças. E, para reverter esse quadro, elas precisam de estímulos em um ambiente saudável e integrado com a família e a sociedade. “Por que será que a gente não consegue crescer, num país, como um todo, em inclusão social? Um dos principais aspectos está na falta de igualdade de oportunidades para todas as pessoas, crianças e empresas”, defendeu.

Naercio ressaltou, ainda, a importância dos primeiros anos de vida para a carreira das pessoas. “Isso se reflete na qualidade da educação e nas habilidades socioemocionais, cada vez mais importantes para lidar com os desafios do mercado de trabalho”, pontuou. Por fim, o professor chamou atenção para o fato de que os efeitos da pandemia podem se reverter em ganhos na área social nos últimos 30 anos; e assinalou que o próprio desemprego dos pais tem reflexo direto e praticamente imediato no desenvolvimento das crianças.

Viciados em Internet

Também palestrante, Raquel Franzim, diretora de Educação e Cultura da Infância do Instituto Alana, expôs dados sobre a relação de crianças e adolescentes com as múltiplas telas. Segundo ela, antes da pandemia, quase metade das crianças brasileiras já passavam mais de três horas por dia em frente à tela de dispositivos eletrônicos; e metade dos jovens no mundo se consideram viciados em Internet. “No entanto, nunca devemos pensar só numa perspectiva de tempo. Sobretudo, o que o espaço digital nos provoca a pensar é que podemos, assim como numa escada, subir apenas um degrau ou ir até o fim. Tão importante quanto o tempo é o que acontece: experiências no espaço digital. Mas, infelizmente, um relatório da Unicef mostra que nossas crianças e jovens não vêm aproveitando as oportunidades mais criativas, éticas e seguras que o digital pode oferecer”, lamentou Raquel, ao destacar o papel da escola no desenvolvimento de experiências que estimulem o aprendizado a partir das tecnologias.

No evento, estudantes ainda compartilharam projetos desenvolvidos com o objetivo de resolver problemas cotidianos, a partir de tecnologias. Entre eles, kit anti-assédio (alerta instantâneo sobre qualquer alteração no líquido prestes a ser ingerido); tênis que carrega a bateria do celular; e dispositivo para trabalhadores surdos na indústria (traduz, em estímulos visuais, qualquer som repentino em ambientes laborais – como quedas, impactos e alarmes).

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