Orizicultura discute seus rumos

Orizicultura discute seus rumos

Abertura da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas ocorre em cenário de preocupação com as consequências da estiagem e com altos custos do cultivo. Em meio a isso, aponta soluções como rotação e integração com outras culturas

Por
Nereida Vergara

A cultura orizícola do Estado irá discutir seus rumos durante a 32ª Abertura da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas, entre os dias 16 e 18 deste mês, na Estação Experimental Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado, em Capão do Leão. Palestras e vitrines tecnológicas apontarão para as novidades no plantio, manejo e cultivares, rotação de culturas, mercados e comercialização. Ao mesmo tempo, a colheita estará começando nas lavouras cultivadas no Estado.

Neste ano, o contexto de estiagem preocupa os orizicultores, mesmo que o cultivo seja feito em área irrigada. Maior produtor do grão no Brasil, o Rio Grande do Sul deve sofrer alguma perda em suas plantações, espalhadas por 950 mil hectares nesta safra 2021/2022. O percentual, no entanto, ainda não está mensurado, admite o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho. 

O dirigente calcula que a estiagem tenha atingido de 10% a 20% da área plantada no Rio Grande do Sul, em regiões onde houve dificuldade para a irrigação. Segundo Velho, essas áreas tiveram de ser abandonadas pelo agricultor e não entrarão na conta final da produção. Mesmo assim, o clima seco deve causar danos generalizados ao arroz, mas em escala menor do que em culturas como a soja e o milho. “A expectativa é de um impacto de cerca de 500 quilos na produtividade por hectare, sobre os 9 mil quilos por hectare colhidos no ano passado”, estima o presidente da Federarroz.

Demonstrações em lavouras experimentais estão entre as atrações do evento. Foto: Fagner Almeida / Divulgação / CP

Velho destaca, porém, que há outros questionamentos que serão debatidos por produtores e entidades durante o evento em Capão do Leão, como custos e preços. Ele lembra que no último ano houve severa redução do preço pago ao produtor de arroz – de cerca de R$ 90,00 o saco no início de fevereiro de 2021 para R$ 67,00 no mesmo período deste ano, conforme o Cepea/Esalq/USP. Ao mesmo tempo, os custos de produção do setor dispararam, o que vai exigir estratégia do agricultor no próximo ciclo. “Hoje, em torno de 50% dos orizicultores não são mais dependentes do arroz, têm seus cultivos integrados à soja e à pecuária, o que facilita as decisões”, observa. “Ele não precisa vender abaixo de seu custo de plantio, já que há demanda e mercado, e tem outras fontes de rendimento.”

A questão dos custos de produção da lavoura será tema de painel no dia 17 de fevereiro. Um dos participantes é o diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), João Batista Camargo Gomes, que considera a futura safra 2022/2023 como uma incógnita no que diz respeito aos custos. “Nesta (safra 2021/2022), o produtor conseguiu comprar os insumos em um período adequado, com preços mais compatíveis com a realidade”, constata Gomes. “Em relação à próxima safra temos um problema instalado, pois além dos custos não terem baixado ainda, não sabemos o que vai acontecer.” Ainda no dia 17, a integração lavoura e pecuária será abordada no painel “Pecuária como aliada na melhor eficiência do sistema produtivo”, com a presença dos proprietários da Wolf Agricultura e Pecuária, de Dom Pedrito, Frederico Wolf, e da proprietária do Grupo Pitangueira, de Itaqui, Clarissa Lopes Peixoto.

A sustentabilidade ambiental da lavoura de arroz também vai estar em pauta, em painel no dia 18, que terá a participação do coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Domingos Antônio Velho Lopes. Ele afirma que pretende repassar aos arrozeiros as orientações da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima de 2021 (COP26). Lopes recorda que a conferência colocou a atividade agrossilvipastoril como parte da solução dos efeitos dos gases de carbono e que a ideia é informar o produtor rural disso. Além de 40 vitrines tecnológicas, a Abertura da Colheita prevê a presença de 90 expositores, 17 delegações estrangeiras, 7 mil visitantes presenciais e mais 3 mil participantes on-line.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895