Pesquisa revela que os alunos brasileiros estudaram menos durante a pandemia
Por
Por Júlia Provenzi, sob supervisão da editora Vera Nunes

Crianças e adolescentes em idade escolar estão estudando menos desde o início da pandemia. É o que demonstra a pesquisa "Retorno para escola, jornada e pandemia"feita pela FGV Social. Marcelo Côrtes Neri, um dos autores, indica que, entre os principais resultados, está o fato de que as crianças mais novas foram as mais afetadas, e o tempo de estudo dos alunos brasileiros, incluindo horas por semana de estudo remoto, teve uma piora ainda maior.

Indicadores da qualidade dos primeiros anos do Ensino Fundamental vinham melhorando desde o início dos anos 90. Um deles era a evasão escolar, índice mais afetado durante a pandemia. "Essa tendência foi revertida, não só no sentido de que aumentou muito, mas também voltou pouco quando a pandemia cedeu. Então, no que o Brasil vinha fazendo mais progresso, foi o que a pandemia afetou mais", diz o economista, acrescentando que o Brasil retrocedeu para níveis de evasão escolar equivalentes a 2006, com índice de 4,25% em nível nacional. O índice é 128% maior que o registrado no mesmo trimestre de 2019.

Desigualdade

No RS, esses índices também cresceram. Em 2019, o Estado registrava 2,43% e, em 2020, a evasão aumentou para 4,28%. A lacuna na educação dessa faixa etária pode repercutir no futuro da educação brasileira e aumentar a desigualdade. "É uma fase crítica, principalmente para as crianças mais pobres. A questão da presença escolar nessa faixa etária é onde você consegue equilibrar, de maneira menos precária, a questão de desigualdade de oportunidades", alerta o especialista.

Tempo na escola

O tempo escolar teve uma piora ainda maior que a evasão: se esta voltou a 2006, aquele está 43% abaixo que o tempo médio que se tinha na mesma época. Estudantes que permaneceram matriculados reduziram a jornada, mesmo incluindo atividades realizadas em modelo remoto. "Em termos nacionais, nas crianças mais pobres, a jornada escolar caiu duas horas entre 2006 e 2020", informa Neri.

No RS, o tempo médio de escola na pandemia para estudantes entre 6 e 15 anos de idade é de 2h14min por dia, o que coloca o RS em 14º lugar no ranking nacional. Na faixa de 15 a 17 anos, são 2h22min por dia útil de estudo - incluindo os que não estão matriculados e, portanto, têm tempo zerado. No Estado, nas duas faixas etárias o tempo médio de escola ficou na metade do ranking nacional. A jornada escolar no Brasil corresponde a 4 horas por dia de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o que é baixo se comparado a outros países. "O que já era baixo para padrões internacionais caiu à metade durante a pandemia. Então, de fato, as crianças estão estudando pouco”, afirma.

Sem atividades

A proporção de alunos que não recebeu atividades escolares remotas na pandemia, na faixa etária entre 6 e 15 anos, ficou em 6,14% no estado, que é o sétimo melhor entre as 27 unidades da federação. A média nacional ficou em 12%. Esse índice ajuda a explicar o resultado anterior, já que a ausência de atividades reduz o tempo médio de escola.

O economista aponta para o fato de que as matrículas foram caindo ao longo do ano, por isso defende que a vacinação pode ser importante para normalizar a educação. "O ideal é que no início do ano letivo as crianças já estejam vacinadas para poderem voltar à escola com tranquilidade."

Para o especialista, um dos grandes desafios de curto prazo é trazer a criança de volta para a escola e o outro é recuperar o atraso. “Não se trata só do progresso que não se fez em aprendizagem, mas do retrocesso que as crianças tiveram no seu processo de aprendizado", aponta. Nesse sentido, diz ele, pode ser necessário que as escolas adotem ações complementares, como aulas no contraturno, por exemplo. “O ensino remoto pode ser, inclusive, um aliado para ajudar a complementar as tarefas”, sugere.

Neri destaca que, agora, um dos investimentos cruciais para o país é o de reverter a evasão escolar nas séries iniciais. "Era um dado que havia melhorando continuamente há 40 anos nessa faixa etária. É um desafio novo que se apresenta e temos que estar à altura deste desafio", destaca o pesquisador da FGV.

Censo Escolar Brasil 2020

Segundo o Censo Escolar, em 2020, no Brasil

  • 2.449 cidades não tiveram nenhuma aula ao vivo ou com interação entre aluno e professor,
  • 1.286 municípios tiveram mais que 50% de aulas ao vivo, 417 cidades tiveram estrutura para oferecer 100% das aulas on-line.
  • O acesso à Internet esteve disponível em 89,4% das escolas da rede federal, 74,1% da estadual e 39,8% das municipais.
Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895