Recomeço no milharal

Recomeço no milharal

Prejudicado pelas últimas estiagens, cultivo do milho tem perspectiva de crescimento no Rio Grande do Sul, mas clima, pragas e aumento nos custos preocupam produtor

Por
Danton Júnior, Camila Pessoa

Castigado pelo clima na safra passada, o cultivo do milho tem pela frente uma temporada desafiadora no ciclo 2021/2022. As estimativas de entidades do setor apontam para um aumento de área plantada no Rio Grande do Sul, embora abaixo do potencial do Estado, mas os produtores irão enfrentar alta nos custos de produção, risco de déficit hídrico e a concorrência com a soja, que vive um período de valorização. A safra gaúcha começou a ser semeada nos últimos dias em meio a um cenário de alta demanda e de escassez de milho no país, o que leva a um aumento no preço pago pela saca - que já chegou a ser maior - e a uma série de medidas dos governos estadual e federal que visam baratear o custo do cereal para a indústria de aves e suínos, que o utilizam como o principal componente da alimentação animal.

Levantamento divulgado pela Emater no início de setembro, durante a Expointer, prevê o crescimento na produção de milho no Rio Grande do Sul, influenciado pelo fato de a cultura ter sido a mais prejudicada com a estiagem da safra anterior. A estimativa inicial de produção é de 6,11 milhões de toneladas, o que representa um incremento de 39,23% em relação ao último ciclo. A área a ser cultivada deve ficar em 834 mil hectares, segundo a Emater, 6,89% a mais do que no ciclo 2020/2021, quando as lavouras alcançaram 780 mil hectares. A produtividade é estimada em 7,3 toneladas por hectare, 29,59% a mais do que na última safra. Já o milho silagem apresentou estabilidade na área cultivada, com 360 mil hectares, porém tanto a produção quanto a produtividade devem aumentar, chegando a 13,25 milhões de toneladas e 36,8 toneladas por hectare, respectivamente.

O presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho/RS), Ricardo Meneghetti, acredita que a área de plantio estimada pela Emater pode não ser confirmada. Isso porque ele entende que muitos produtores podem se sentir desestimulados frente aos altos custos, além do risco de incidência da cigarrinha-do-milho (leia mais na página 2) e da concorrência com a soja, que conta com preços atrativos.

Com relação aos preços, Meneghetti afirma que a escassez de milho e a consequente valorização prejudica outros elos da cadeia, como os produtores de aves e suínos. Por isso, ele não vê como negativa a isenção de PIS/Cofins para o milho importado, confirmada na última quinta-feira pelo governo federal por meio de medida provisória. “Precisamos que o nosso cliente sobreviva. Não temos milho dentro do Estado para oferecer”, observa. O indicador Esalq/BM&FBovespa apontava na última quinta-feira para um preço de R$ 90,83 a saca. Até o início de agosto, o índice estava ao redor dos R$ 100,00. Meneghetti acredita que possa haver novas quedas, mas espera que elas não sejam tão acentuadas quanto no passado.

O último Informativo Conjuntural da Emater, publicado na última quinta-feira, traz informações sobre o impacto do clima na cultura. Na região Noroeste do Estado, o clima chuvoso fez com que o plantio não registrasse avanços em alguns casos nos últimos dias, ao mesmo tempo em que a manutenção das chuvas favoreceu a emergência das lavouras já implantadas, de modo que os produtores avaliam positivamente o desenvolvimento das plantas com a maior disponibilidade de água e temperaturas mais elevadas.

De acordo com Meneghetti, as lavouras já semeadas estão se desenvolvendo bem. Apesar do risco de chuvas escassas, ele torce para que o déficit hídrico não ocorra durante as etapas cruciais para o desenvolvimento da planta. “Esperamos que o clima se normalize e ande até o final da safra sem muita intercorrência”, observa o dirigente. Outro fator de preocupação do produtor para esta safra é o custo de produção. Meneghetti calcula que os insumos sofreram um acréscimo de 60%. “O investimento só não é maior porque tivemos muitas compras (de insumos) antecipadas”, justifica o produtor.

No Brasil, segundo o relatório Céleres/Abramilho, a área plantada deve crescer 4%, principalmente no Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais, estimulada por um estoque de passagem apertado e pela taxa de câmbio. Conforme a última edição do levantamento, a dinâmica das exportações segue normal para o período do ano, com aceleração no mês de setembro - ainda assim, ficou 30% abaixo do observado em setembro do ano passado. A estimativa é de que a forte quebra da safra de inverno e o nível de preços do mercado interno devem contribuir para limitar as exportações brasileiras em 22 milhões de toneladas, 12 milhões de toneladas a menos em relação à safra anterior.

Alerta contra cigarrinha

Camila Pessoa*

Praga que afetava originalmente cultivos tropicais já causou problemas para as safras de Santa Catarina e Paraná e agora exige cuidados nas lavouras gaúcha

Em Santa Catarina, produtor utiliza armadilhas como ferramenta de monitoramento. Foto: Leonardo Zeni / Divulgação / CP

Em 31 de agosto, a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul (Seapdr) emitiu um alerta para a ocorrência das cigarrinhas-do-milho no estado. Este alerta é baseado em estudos da Seapdr em parceria com a Emater que detectaram a presença da praga no Rio Grande do Sul, além de um histórico de infestações na safra anterior e a previsão de poucas chuvas para a próxima safra.

A cigarrinha-do-milho é um inseto do tamanho de um grão de arroz que pode transmitir dois tipos de doenças causadas por bactérias da classe Mollicutes (chamadas de enfezamentos) e o maize rayado fino vírus (ou vírus da risca do milho). As plantas de milho com enfezamento formam menos raízes, podem ficar pequenas e improdutivas. As espigas produzidas podem ter um tamanho reduzido e menos grãos. Além disso, as plantas com enfezamento ficam vulneráveis a outras doenças. No alerta feito pela secretaria, há recomendações de medidas que podem ser tomadas pelos agricultores, como cultivar variedades de milho tolerantes à cigarrinha, tratar as sementes, procurar assistência técnica, evitar plantar em áreas com histórico de contaminação, otimizar o período de plantio para evitar a disseminação e eliminar o milho que cresce espontaneamente na lavoura (que pode facilitar a disseminação).

A Seapdr monitorou lavouras para acompanhar a disseminação da praga. O chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Seapdr (DDSV), Ricardo Felicetti, afirma que colheitas com perdas de até 90% foram observadas no estudo. A média constatada nas lavouras contaminadas foi de 30% da produção perdida. “Por isso, é importante que o produtor esteja atento”, observa o chefe do DDSV. De acordo com ele, como há previsão de ocorrência do fenômeno La Niña, o que pode diminuir as chuvas no início do verão, é possível que o problema da cigarrinha se intensifique e que o Rio Grande do Sul, que não é autossuficiente na produção de milho, tenha que importar ainda mais, o que pode prejudicar toda a cadeia pecuária. A única medida tomada pela secretaria, por enquanto, foi o alerta emitido. “É um problema de dentro das propriedades, então não estamos intervindo ainda. Mas, se for preciso, vamos intervir. O objetivo agora é alertar o produtor para que ele evite a disseminação da cigarrinha”, completa Felicetti.

O estado do Paraná também sofreu com a praga. Segundo Marcílio Martins Araújo, coordenador do Programa de Sanidade Agrícola da Secretaria de Agricultura do Paraná, o problema, intensificado pela seca, somou-se à geada, dificultando inclusive o monitoramento preciso dos danos causados pela cigarrinha. Para ele, essa intensificação foi uma surpresa, porque a cigarrinha costumava ser um problema do cultivo tropical. “Achávamos que no frio não iria se desenvolver, mas ela se desenvolveu no Sul também.” De acordo com Araújo, dependendo das condições climáticas futuras, as cigarrinhas podem se tornar um dos grandes problemas da safra.

Em Santa Catarina não foi diferente. De acordo com Leandro Ribeiro, entomologista da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), em Chapecó, devido a temperaturas acima da média e estiagem em agosto e setembro, período de semeadura, houve uma maior incidência de plantas contaminadas. “Como não ocorreu esse frio com intensidade, há sobrevivência dos insetos entre uma safra e outra”, diz o entomologista. Para ele, existem métodos eficazes de conter a praga, mas são medidas complexas: a integração de estratégias como manejo cultural, tratamento de sementes e aplicação de defensivos são eficientes, mas precisam ser aplicadas de forma regionalizada, em cooperação entre produtores.

Manejo preventivo

O produtor Leonardo Zeni, de Chapecó (SC), foi um dos prejudicados pela cigarrinha. “Nunca tivemos problemas com essa praga, mas na safra passada houve um dano terrível. Por conta da cigarrinha, junto com a seca, colhemos 25% do que esperávamos”, diz Zeni. A produção média da propriedade havia variado entre 235 e 240 sacas por hectare nos três anos anteriores. Em 2020/2021, com os investimentos do produtor em insumos e maquinários, as expectativas eram ainda mais altas: 250 sacas. A produção total foi de 67 sacas.

A cigarrinha não foi identificada como um problema grave desde o começo. “No início percebemos o inseto pequenininho branco, mas acreditamos que aquela praga não estava afetando. Mas chega um ponto do desenvolvimento da planta em que se observa o dano. A gente identificou a praga, mas não se preocupou, porque a folha não estava comida nem tinha outros danos aparentes, o dano só foi identificado na colheita”, afirma Zeni. Agora, o produtor está tomando providências para evitar os prejuízos das cigarrinhas. Uma das medidas que tem sido eficaz no monitoramento de sua plantação é a chamada “armadilha para cigarrinha”, uma plaqueta amarela com hormônios que atraem os insetos. Estes, então, ficam colados na superfície. A armadilha contém e facilita a identificação precoce da praga.

Zeni alerta os produtores que podem sofrer no futuro: “É preciso procurar fazer um manejo preventivo. Não menospreze os danos que a praga pode causar: monitore diariamente, porque ela migra rápido”.

Como reaproveitar resíduos

Composteira de uso doméstico é opção para descarte de material orgânico, que pode ser utilizada inclusive em pequenos ambientes

Cascas de frutas, restos de verduras, cascas de ovos e outros materiais, que geralmente vão para o lixo, podem servir como matéria-prima para um composto rico em nutrientes, aproveitado para o cultivo em ambiente doméstico. A compostagem é um método de aproveitamento de resíduos orgânicos. Ela pode ser feita de diferentes formas, em diferentes espaços.

Segundo o extensionista rural da Emater Marcelo Biassusi, é possível realizar compostagem até na área de serviço de um apartamento. O método consiste em alternar camadas de resíduos orgânicos e material seco para que aconteça a decomposição e transformação do material em adubo. Além de melhorar a fertilidade, o composto produzido também ajuda na retenção de água e capacidade de troca de nutrientes do solo.

“Uma pessoa, ao longo do ano, deixa de mandar para os aterros 238 litros de lixo por ano (fazendo compostagem)”, diz Julhana Figueiredo, agroecóloga na Composta São Lou, startup da região de São Lourenço do Sul que realiza coleta de resíduo sólidos e comercializa composteiras domésticas feitas de baldes industriais de margarina reutilizados. Também é uma forma de conscientização, pois faz com que as pessoas tenham noção de sua própria produção de lixo.

A composteira em balde, por ter contenção dos resíduos líquidos, evita a sujeira e o mau cheiro. O extensionista rural da Emater Antônio Paganelli ensina como fazer. São necessários três (para o verão) ou quatro (para o inverno) baldes de plástico com tampa, uma torneira de PVC e uma tela. Para construir a composteira, é necessário fazer um furo na parte inferior de um dos baldes e instalar a torneira, de modo que o chorume possa ser descartado. Depois, faça uma linha de furos pequenos em volta da parte superior do mesmo balde, próximo à borda. Nos outros baldes, faça a mesma linha de furos na lateral e, depois, faça furos por todo o fundo do balde. Preserve uma das tampas (para tampar a parte superior) e corte o centro das outras, deixando apenas as laterais. Cubra o balde inferior (o que tem a torneira) com tela e encaixe sobre ele uma das tampas cortadas. Por fim, encaixe outro balde em cima.

*Sob supervisão de Danton Júnior

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895