Renda extraída da floresta

Renda extraída da floresta

Coleta de goma-resina das florestas de pinus se tornou uma alternativa de diversificação de renda para a agricultura familiar, sobretudo no litoral gaúcho, e vem crescendo nos últimos anos

Sacos de resina

Por
Carolina Pastl (Sob supervisão de Elder Ogliari)

Típica da Amazônia, a extração do látex da seringueira tem uma atividade similar no Sul do país, a coleta de goma-resina do Pinus elliotti. A resinagem, como também é conhecida, vem crescendo sobretudo no Rio Grande do Sul, onde deixou de estar concentrada nas mãos de empresas e passou a ser adotada como uma alternativa de diversificação de renda pela agricultura familiar, principalmente em zonas litorâneas do Estado.

A Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor) estima que, nesta safra, o Brasil tenha produzido mais de 200 mil toneladas de resina de pinus, entre tropicais e o elliottii. Destas, de 50 mil a 60 mil são oriundas do território gaúcho, que trabalha apenas com a variedade elliottii. Na safra 2017/2018, último dado divulgado pela Associação dos Resineiros do Brasil (Aresb), o país produziu 185,6 mil toneladas de goma-resina e o Estado 45,7 mil toneladas. O crescimento registrado ocorre pelo menos desde 2014/2015, quando o país produziu 92,8 mil toneladas e o Estado 18,2 mil toneladas.

Entre os motivos para este cenário, a cadeia produtiva destaca a versatilidade da goma-resina, que, depois de processada pela indústria, resulta em dois componentes, o breu e a terebintina. O primeiro é usado principalmente na fabricação de adesivos, tintas, vernizes, goma de mascar, ceras depilatórias e sabão; e o segundo na indústria dos solventes, desinfetantes, perfumes, cânfora e produtos fármacos.

“Toda floresta que é resinada vai para a serraria, então por que não aproveitar de 10 a 20 anos resinando antes de vender?”, questiona o gerente de resinagem do Grupo RB, Airton Vieira.

Embora os produtos não permitam comparações diretas, enquanto o metro cúbico da madeira tem cotações próximas de R$ 35,00, a tonelada da goma-resina tem sido vendida a R$ 7 mil, constata a Aresb.

A aposta na atividade também é reflexo de períodos de demanda desaquecida pela madeira, que reduziram a oferta de toras. “A resinagem entrou como uma oportunidade de rentabilizar os ativos florestais”, comenta o coordenador da Câmara Setorial de Florestas Plantadas da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) e vice-presidente da Ageflor, Daniel Chies.

Além da boa rentabilidade, a alta procura é um fator que estimula o setor. “A goma-resina é aplicada em muitos segmentos que fazem parte do nosso dia a dia, e a China, líder de produção, está aumentando a sua demanda pelo produto”, afirma Vieira. Ele lembra que as exportações brasileiras cresceram de 15% a 20% ao ano num período de cinco anos. O último dado da Aresb, de 2015, indicava que o Brasil havia embarcado um total de 61,2 mil toneladas de breu e 15,2 mil toneladas de terebintina. Atualmente, o país é o segundo maior produtor e o maior exportador mundial desses itens.

ALENTO

O crescimento desse mercado já produz impactos na vida da população do Litoral Gaúcho, região que concentra 90% da produção do Estado. Resumindo o pensamento geral, o agricultor Valério Scott Hood, de São José do Norte, avalia que o pinus deu alento a agricultores que estavam sem saber que futuro teriam diante dos altos e baixos do preço da cebola, cultivo típico da região. “Hoje, desconheço atividade agrícola ligada à matéria-prima no Estado com capacidade de empregar tanta gente como a resinagem”, concorda Chies. A Ageflor estima que a atividade ocupe diretamente 5 mil pessoas.

Em Tavares, a extração de goma-resina já se coloca como a terceira maior atividade econômica do município, movimentando R$ 10,9 milhões por ano, conforme a prefeitura. “Isso pode até mesmo segurar jovens no campo”, acredita o extensionista rural do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar de Porto Alegre, Guilherme Costa.

Outro impacto social, observado pelo extensionista rural do Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar de Mostardas, Gustavo Alves, é o populacional, motivado pela geração de emprego. “As grandes empresas atraíram muitos paulistas, mineiros, catarinenses e baianos para a região e muitas cidades estão com dificuldades de infraestrutura para atender tanta gente”, relata o técnico.

O reflexo mais polêmico talvez seja o ambiental. Espécie exótica, o Pinus elliottii nasce em qualquer tipo de solo, até mesmo nos arenosos. Além disso, por serem leves, as sementes têm fácil dispersão. Municípios como Tavares e unidades de conservação como os parques nacionais da Serra Geral e da Lagoa do Peixe conhecem bem essas características. “A invasão biológica nesses locais está reduzindo muito a biodiversidade”, preocupa-se o professor e pesquisador na área de Botânica e Ecologia Vegetal na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Gerhard Overbeck. Um artigo publicado no mês passado pela revista NeoBiota mostra que espécies invasoras já custaram mais de 100 bilhões dólares à América Latina na agricultura, saúde e meio ambiente.

“O grande desafio (para a atividade) será estabelecer a sustentabilidade desse processo”, avalia o presidente da Ageflor e diretor da Flopal e da Âmbar Florestal, Paulo Cesar Azevedo.

Coleta integrada com outros cultivos

A resinagem do pinus cultivado por agricultores tem sido feita pelo proprietário da floresta ou por terceiros, que podem ser empregados da indústria compradora, vizinhos em sistema de parceria ou prestadores de serviços

Operário prepara estrias pelas quais a goma-resina vai escorrer da árvore / Foto: Grupo RB / Divulgação / CP

Nos últimos anos, a coleta da goma-resina do Pinus elliottii passou a ser uma alternativa de renda para a agricultura familiar, principalmente quando integrada ao cultivo da cebola e à pecuária. No entanto, a grande maioria dos pequenos produtores ainda não sabe fazer a resinagem e terceiriza o serviço para as mesmas empresas que posteriormente compram o produto. Mesmo assim, a rentabilidade é garantida pelo atual preço pago pela goma-resina, que está em quase R$ 7 mil a tonelada. “Se não fosse o pinus, não sei o que seria dessa população”, reconhece o extensionista rural do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar de Porto Alegre, Guilherme Costa, referindo-se às dificuldades financeiras enfrentadas pela agricultura familiar na região, principalmente por causa das oscilações da cultura da cebola.

Há um ano, o produtor Enio José do Evangelho, de Tavares, aderiu ao negócio para diversificar sua renda. “O investimento é baixo e estou ganhando dinheiro em uma área de campo que era ruim, onde não conseguia plantar muita coisa”, explica o agricultor, que terceiriza o trabalho e recebe 30% do preço do volume de resina vendido. Além de três hectares de pinus, ele também tem cerca de 10 hectares de arroz, quatro de milho e 30 cabeças de gado.

Em Tavares, Elisauro Gonçalves, que tem 30 mil árvores, 60 cabeças de gado e dois hectares de cebola, também terceiriza a extração da goma-resina há cinco anos. “A Emater estava fazendo um experimento de integração floresta-pecuária e resolvi participar, já que nasciam muitas árvores espontaneamente na minha propriedade”, conta o produtor, que recebeu sementes e adubos para pastagem da instituição. Satisfeito, tendo em vista que, além de ser rentável, o pinus serve os animais com abrigo no frio e sombra no calor, ele pretende assumir a resinagem na sua propriedade no ano que vem, pois aprendeu a técnica. “Mas eu sou cauteloso, vai que saia de moda”, admite.

Em São José do Norte, Valério Scott Hood presta o serviço de resinagem a alguns vizinhos. Por ter trabalhado seis anos na Âmbar Florestal, ele aprendeu a técnica e, desde 2013, é autônomo na área. Hoje, além de cultivar 3,5 hectares próprios com cebolas, ele, a esposa e um diarista trabalham em seis hectares de florestas de terceiros, com 11 mil árvores no total. “Ganho cinco vezes mais e trabalho menos”, comemora. “Pena que é proibido plantar mais”, brinca. Scott Hood desconta as despesas, que incluem um estriador, sacos, arames e uma bisnaga, e reparte o valor total da goma-resina extraída em partes iguais com os donos das terras.

Jones (E) e Israel Jardim (D) montaram indústria para processar goma-resina / Foto: Arquivo Pessoal

Ex-produtor de cebola em Tavares, Israel Jardim resolveu fazer uma aposta ousada neste mercado há três anos e hoje é empresário, junto com um primo, Jones. “Comecei resinando 16 mil árvores do meu avô, foi tudo meio no escuro”, lembra. Atualmente, os primos e 65 colaboradores resinam 650 mil árvores de áreas próprias e arrendadas. Além de extrair a goma-resina, também compram de pequenos agricultores, fabricam breu e terebintina numa indústria que processa 1,2 tonelada por dia e exportam os produtos. “Nos próximos anos queremos abrir uma nova fábrica em Capivari do Sul”, revela Jardim.

Custeio pode ser financiado

Há dois anos foi criado o primeiro projeto de custeio de extração de resina do país, pelo Banco do Brasil. Hoje, o Banrisul também oferece crédio agrícola de custeio e de implantação de florestas. “Achava injusto os resineiros, que eram da classe dos produtores, não terem esse benefício”, explica a empresária e engenheira agrônoma Camila Eckert, que apresentou o modelo às instituições financeiras.

Para acessar o crédito, os resineiros que se enquadram no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) pagam juros de 3% a 4,5%. Já para os que se encaixam no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) a taxa fica em 6,5%. Para os demais, é de 7,5%.

Empresas processam e exportam

Antes de serem cortadas para uso da indústria madeireira, florestas são fontes de goma-resina por períodos que podem variar de 10 a 15 anos / Foto: Âmbar Florestal / Divulgação / CP

Depois de extraída, a goma-resina é vendida para empresas que a processam e vendem seus derivados, como o breu e a terebintina, para indústrias alimentícias, químicas e farmacêuticas, grande parte delas no exterior. Entre os principais participantes deste mercado no Rio Grande do Sul estão o Grupo RB, a Âmbar Florestal e a Irani. Apesar da pandemia do coronavírus ter gerado dúvidas em toda a cadeia produtiva, o segmento mantém a perspectiva de crescimento.

A presença da Irani em Balneário Pinhal, no Litoral Gaúcho, sucede uma das primeiras empresas do ramo instaladas no Rio Grande do Sul, a Habitasul Florestal, que em 1982 apostou na resinagem na região. Até então, o Pinus elliottii era cultivado apenas na Serra Gaúcha para a produção de madeira, estimulado por incentivos fiscais. Em 2006, a Irani incorporou o empreendimento.

Hoje, a base florestal da empresa espalha-se pelos municípios de Mostardas, Tavares e São José do Norte e tem 5,8 mil hectares, dos quais 3,9 mil são voltados para a extração de goma-resina e comercialização de madeiras em toras. No ano-safra 2019/2020 foram coletadas 3,7 mil toneladas de goma-resina dessa floresta, o que correspondeu a 22% da demanda total da indústria processadora, também localizada em Balneário Pinhal. Lá, a goma passa por etapas de aquecimento, filtragem, decantação e destilação para a separação do breu e da terebintina, que são, respectivamente, a parte sólida e líquida da resina. Quase a totalidade desses derivados é exportada. A Irani atua em mais três estados e conta com um total de 2,2 mil colaboradores.

A Âmbar Florestal, que pertence ao Grupo Flopal – Florestadora Palmares, surgiu na sequência, em 1997. Hoje, a empresa recebe goma-resina de mais de 4 milhões de árvores. Ao todo, são extraídas 15 mil toneladas de florestas próprias, localizadas em Rio Grande, e compradas mais 10 mil toneladas de produtores de São José do Norte, Santa Vitória do Palmar e Rio Grande. “Já estamos ampliando nossos negócios para a Serra Sudeste e Piratini”, relata o diretor da empresa, Paulo Cesar Azevedo. O beneficiamento do produto é feito em uma unidade industrial localizada em Portugal, onde se produz breu e terebintina, que são, em seguida, exportados para outros países. A empresa conta com 1 mil funcionários.

O Grupo RB identificou o potencial do Litoral Gaúcho em 2012, quando instalou uma de suas 11 unidades industriais em Rio Grande, onde produz anualmente 14 mil toneladas de breu e mais 3 mil toneladas de terebintina. Maior exportador brasileiro de derivados de goma-resina, o grupo embarca mais de 95% de sua produção para parceiros comerciais e para sua unidade fabril espanhola. Atualmente, para abastecer a fábrica gaúcha, são extraídas 6 mil toneladas de goma-resina em 3 mil hectares de florestas com resinagem própria e compradas 14 mil toneladas de produtores de São José do Norte, Canguçu e Mostardas. “O Rio Grande do Sul tem um grande potencial para crescer ainda mais e queremos trabalhar nisso”, afirma o gerente de produção da RB Sul, Júlio Acosta.

O Grupo também aproveita integralmente a floresta plantada, destinando, ao final do ciclo de resinagem, as toras para a fabricação de camas box e pallets de marca própria.

Um esforço no Alto Uruguai

Família levou para o Norte do Estado a experiência que tinha com a coleta da goma-resina no Litoral

Fora do eixo litorâneo, o Alto Uruguai tem se desenhado como um polo de produção de goma-resina. Mas, ao invés das empresas terem se estabelecido no local e estimulado o início da atividade, como aconteceu no Litoral, o pioneirismo nessa região foi dos produtores. Períodos de baixa demanda das indústrias por madeira motivaram os agricultores a se voltarem para a extração da matéria-prima em 3,8 mil hectares de Pinus elliottii e taeda.

Hoje, apesar de ainda não existirem empresas que beneficiem a goma no local, a venda do produto é feita para São Paulo, Santa Catarina e o próprio Litoral Gaúcho. No caso do município de Erval Grande, que, junto com Itatiba do Sul e Severiano de Almeida, concentra a resinagem na região, a atividade surgiu com a família de Cacildo Borges da Silva. Depois de ter trabalhado dez anos em Rio Grande, numa empresa própria, os resineiros se mudaram para Santa Catarina em 2008 em meio a uma queda brusca do preço da goma-resina. Dois anos mais tarde surgiu a ideia de oferecer o serviço de resinagem nos municípios gaúchos do Alto Uruguai. “Desde os 16 anos trabalho com isso; é a única coisa que sei fazer”, explica Silva, hoje com 38 anos.

Atualmente, em Erval Grande, que concentra 500 hectares de Pinus elliottii, cinco proprietários de terra pagam pelo trabalho de Silva. O agricultor e atual secretário da Indústria e Comércio da prefeitura, Adilson Morona, é um deles. “Como já tinha essas árvores plantadas há oito anos e o consumo da madeira estava oscilando, resolvi apostar”, conta Morona, que, além de 100 hectares com Pinus elliottii, também cultiva eucaliptos e cítricos.

Ao todo, Silva e mais oito familiares resinam 100 mil árvores por safra. Destas, 20 mil são de Morona. “A gente sai às 7 horas da manhã todos os dias, compra marmita na cidade, almoça no meio da floresta e volta para casa antes de escurecer”, conta o trabalhador, que arca com o custo do equipamento que usa e fica com 60% do preço da resina vendida para a indústria.

Adilson Morona produz cítricos e extrai goma-resina da floresta ao fundo / Foto: Arquivo pessoal

Em relação ao futuro da atividade na região, o resineiro não é otimista. “Aqui não tem mais mato; o que tinha já achamos”, justifica. Já Morona diz que só não investe mais pela instabilidade do preço da goma-resina. “Teve períodos que eu quase desisti do negócio porque o valor estava baixo (R$ 2 o quilo) e o preço da mão de obra alto”, relata. Técnicos do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar de Erechim também são céticos. “Está surgindo novamente a oportunidade de vender madeira para as indústrias; sem contar que muitos produtores estão pensando em derrubar a floresta para plantar soja, que traz lucro mais imediato”, diz um deles.

Trabalho na floresta tem muitas etapas a cada ano

Transporte do produto extraído da floresta para a fábrica é uma das etapas do processo / Foto: Âmbar Florestal / Divulgação / CP 

Líquido viscoso e translúcido de cor amarela a branca, a goma-resina é extraída principalmente das espécies Pinus elliottii e tropicais. No Rio Grande do Sul, onde há 289,7 mil hectares de florestas de Pinus elliottii plantadas, o ano-safra começa em setembro e termina em agosto do ano seguinte. Mas, antes de chegar à fase da extração da goma-resina, é preciso fazer crescer a floresta. A distância entre as mudas deve ser de pelo menos três metros para garantir a captação de água, luz e nutrientes. Até os dez anos, é preciso desbastar a árvore e fazer uma desrama. Com a árvore crescida, a goma-resina já pode ser coletada.

A extração começa com estrias de 14 a 18 centímetros de largura no tronco, a 20 centímetros do nível do chão, e é necessário aplicar uma pasta para que a incisão não feche, já que a liberação de goma-resina é um mecanismo natural de defesa da planta para cicatrizar a ferida. Cada face produz, aproximadamente, de três a seis quilos de goma-resina por ano. A coleta é feita de duas a quatro vezes por ano-safra, por meio de um saco que fica pendurado na árvore. Com o balde cheio, o trabalhador se desloca e faz a transferência para o tonel, que é transportado para a fábrica. Do processo industrial saem o breu e a terebintina. A resinagem dura de 10 a 15 anos. Ao final desse ciclo, a floresta estará com idade próxima a 20 anos e pode, então, ser cortada para a utilização da madeira.

Breu é um dos produtos extraídos da resina / Foto: Âmbar Florestal / Divulgação / CP

Questões ambientais controversas

É comum encontrar em volta de áreas com monocultura de Pinus elliottii populações da espécie que brotaram espontaneamente. O que para produtores é um indicativo de dinheiro fácil, já que a floresta se mostra capaz de nascer em qualquer tipo de solo, para ambientalistas é preocupante. No Litoral Gaúcho, o avanço do pinus chegou até mesmo em unidades de conservação, como é o caso dos parques nacionais da Serra Geral e da Lagoa do Peixe. O problema, de acordo com o professor e pesquisador na área de Botânica e Ecologia Vegetal na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Gerhard Overbeck, é que a invasão biológica do Pinus reduz a biodiversidade local e pode interferir na produtividade do solo. Em ambientes abertos, como é o caso do Litoral, a dispersão de sementes é ainda mais facilitada.

No caso do Parque Nacional da Serra Geral, o plantio do pinus foi feito antes da sua criação, em 1992. Em 2014, o Ministério Público Federal moveu uma ação civil pública solicitando a erradicação da espécie em área localizada a 300 metros da unidade ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o que foi cumprido.

Na margem leste da Lagoa do Pai João do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, em 1982, houve situação semelhante, conforme relatou o analista ambiental do ICMBio, Lisandro Signori, em seu mestrado, em 2018, na Ufrgs. No entanto, como a empresa que havia plantado a floresta ganhou o direito de colher, o final não foi o mesmo. A colheita da madeira parou em 2013 em virtude da alegação de dificuldades no transporte das toras e de acesso ao local. A questão hoje está judicializada.

Ainda que reconheça que o problema ocorra, a engenheira agrônoma e extensionista rural do Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar de Tavares, Sarah Fiorelli, lembra que o cultivo florestal com coleta de goma-resina tem um papel econômico importante para diversas famílias de pequenos agricultores. “Diferentemente da cebola, o pinus não é tão suscetível ao clima e necessita de pouco manejo”, justifica.

Hoje se sabe que a dispersão do pinus pode ser contida por meio de raleio, fogo controlado e roçadas de campo. “As empresas também precisam ter esse cuidado com o entorno”, reconhece o coordenador da Câmara Setorial de Florestas Plantadas da Seapdr e vice-presidente da Ageflor, Daniel Chies. “Mas tudo isso tem um custo”, lembra Overbeck.

 

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895