Revisão permitirá uso sustentável de florestas

Revisão permitirá uso sustentável de florestas

Desatualizado desde os anos 80, Inventário Florestal Nacional está sendo refeito há cinco anos e já analisou 10 mil pontos de matas do Brasil, de um total de 22 mil que serão visitados nos biomas do país

Por
Maria Amélia Vargas

Com mais da metade do território brasileiro coberto por florestas, conhecer e monitorar esta biodiversidade é uma necessidade permanente. Há mais de 40 anos, desde a década de 1980, o Brasil não realizava um Inventário Florestal Nacional, instrumento que visa a garantir o mínimo de impacto ambiental na exploração desta riqueza. Pelas dimensões continentais do país, o trabalho é detalhado e demorado. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) iniciou a tarefa de atualização do inventário em 2017, não havendo ainda uma data marcada para a finalização.

O manejo sustentável dos biomas nacionais propicia incentivos em diversas perspectivas: da conservação da biodiversidade ao desenvolvimento econômico. Conforme explica o biólogo e diretor de Desenvolvimento Florestal do Serviço Florestal Brasileiro, Humberto Navarro de Mesquita Júnior, até o momento já foram colhidas amostras de 10 mil pontos de um total de 22 mil pontos previstos para integrar o documento. “Os registros dos biomas Pampa e Mata Atlântica, presentes no Rio Grande do Sul, já estão com 100% concluídos. Isso permite que se possa começar a traçar estratégias mais assertivas para esta região”, destaca.

De posse destes dados, Mesquita Júnior aponta algumas conclusões pontuais, entre elas, a de que ainda há possibilidade de expansão de mercado para os produtos florestais nativos na zona rural do Rio Grande do Sul, especialmente os não madeireiros, como frutos, folhas e mel. Este entendimento baseia-se no fato de que o total dos entrevistados no Estado na pesquisa, 89% afirmaram utilizarem-se destas espécies para fins domésticos e apenas 22% declararam fazer uso comercial destas (37% para complemento de renda). A maioria classifica como “sem importância” ou “pouco importante” a utilização comercial dos recursos naturais.

Além disso, Mesquita Júnior enfatiza que os resultados indicam ainda para a possibilidade de um melhor aproveitamento das cadeias produtivas no Estado. “No ecossistema gaúcho, por exemplo, observa-se um grande potencial para as rotas de pinhão ainda não exploradas. Esta identificação permite a ampliação dos arrendamentos, favorecendo os produtores locais”, ressalta. 

Outra questão importante levantada pelo especialista são as descobertas de novas variedades botânicas identificadas neste censo e as potencialidades exclusivas de cada local. “Há cultivos de espécies em biomas os quais não tínhamos conhecimento e que podem alterar todo o sistema produtivo de uma determinada região”, complementa. Os dados coletados mostram, por exemplo, que o Rio Grande do Sul detém aproximadamente 100% de toda a área plantada com a acácia-negra do Brasil. Cientes disso, os produtores que dispõem desta espécie têm a possibilidade de elaborar melhores planos para seus negócios. 

Parte das estratégias do governo estadual para a preservação e aproveitamento das suas áreas florestais estão baseados na conclusão do Cadastro Ambiental Rural (CAR). 

De acordo com a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Florestas Plantadas, da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR), o atual sistema utilizado para este fim conta com cerca de 30 mil produtores registrados, mas está em processo de implementação de um novo sistema para a catalogação dos plantios.

Com objetivo de acelerar este processo, a Secretaria da Agricultura trabalha em parceria com a Procergs para viabilizar o início de um cadastramento on-line que permita ampliar e melhorar o banco de dados do segmento. 

A previsão é de que, no máximo em dois anos, seja possível gerar um Certificado de Produtor Florestal a partir do Sistema de Defesa Agropecuária (SDA): um registro de pessoas físicas e jurídicas consumidores e beneficiadores de matéria-prima florestal e seus produtos no território gaúcho.

Certificado vai melhorar fiscalização ambiental

Secretaria do Meio Ambiente monitora biomas Pampa e Mata Atlântica desde 2016 e aguarda finalização do Cadastro Ambiental Rural para implementar ações corretivas nas situações onde há uso inadequado de áreas

Atividades agrossilvipastoris nos biomas gaúchos, segundo o secretário da Agricultura, Domingo Velho Lopes, já atendem requisitos ambientais e projetos de agricultura de baixo carbono. Foto: Shutterstock

A partir da listagem que será gerada pelo Certificado de Produtor Florestal, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) poderá intensificar a fiscalização ambiental no Rio Grande do Sul. Segundo Diego Melo Pereira, diretor do Departamento de Biodiversidade da pasta, desde 2016 são feitos monitoramentos regulares por meio dos projetos denominados de Operação Mata Atlântica e Operação Pampa. “A definição das ações resultantes destas fiscalizações dependem da finalização do Cadastro Ambiental Rural (CAR), pois assim conseguiremos ter informações suficientes para saber se uma determinada intervenção realmente teve autorização. Estas inspeções geralmente resultam na aprovação de um projeto de recuperação de área degradada”, completa. 

Além disso, Pereira destaca ferramentas de controle ambiental utilizados pela secretaria, que somam-se às fiscalizações (de mineração, avicultura, pecuária e corte de árvores), como o inventário do uso de cobertura do solo, a integração regional ao Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor).

Os mais recentes resultados das diligências identificaram, em 2021, desmatamentos irregulares em 335,94 hectares de floresta em 24 municípios de Mata Atlântica no Estado, área 73,35% maior à detectada no ano anterior. Quanto ao Pampa, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) verificou, em 2018, que os remanescentes de vegetação nativa campestre se estendem por 6,5 milhões de hectares (33,6% do território).

Em relação aos impactos climáticos e o fomento da sustentabilidade para setor agropecuário nestas áreas, o Plano Setorial de Adaptação e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+) no Estado aposta nos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta-sistemas agroflorestais, florestas plantadas, bioinsumos, sistemas irrigados, manejo de resíduos da produção animal e terminação intensiva.

Tais atividades agrossilvipastoris são defendidas pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR) do Rio Grande do Sul como parte das ações voltadas à neutralização dos gases de efeito estufa. A medida, inclusive, foi reconhecida na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Cop 26), ocorrida na Escócia, em 2021. Durante o evento, renovou-se a continuidade do grupo de trabalho intitulado Koronivia, com o objetivo de promover os modelos de agricultura sustentável no mundo. 

Em diversas propriedade do Rio Grande do Sul já são usados projetos de agricultura de baixo carbono. O objetivo do projeto é seguir neste caminho de desenvolvimento sustentável, focando em aspectos econômicos, na evolução social e na preservação do meio ambiente gaúcho. 

O perfil do Rio Grande do Sul no Inquérito Florestal

  • A cobertura florestal do Rio Grande do Sul é de aproximadamente 4 milhões de hectares, o que equivale a 15% do território do Estado.
  • A cobertura florestal do Rio Grande do Sul é de aproximadamente 4 milhões de hectares, o que equivale a 15% do território do Estado.
  • Os municípios gaúchos de Itati e Três Forquilhas destacaram-se pelas maiores proporções de seus territórios cobertos por florestas (68% e 62%, respectivamente).
  • A maior parte das evidências de antropismo (influência humana na paisagem) observadas refere-se à presença ou vestígio de animais domésticos de grande porte (89%).
  • A maior parte das evidências de antropismo (influência humana na paisagem) observadas refere-se à presença ou vestígio de animais domésticos de grande porte (89%).
  • No Rio Grande do Sul existem aproximadamente 780,9 mil hectares cultivados com florestas plantadas, o que corresponde a 2,7% do território gaúcho, sendo que 84% dos entrevistados manifestaram interesse pelo plantio de espécies variadas.
  • Apenas 10% dos entrevistados afirmaram ter conhecimento sobre os programas de crédito florestal, sendo o Pronaf Florestal a linha de crédito mais conhecida (18%). Contudo, apenas 1% dos entrevistados utilizam o crédito florestal.
  • Para 66% dos entrevistados, os efeitos das mudanças climáticas têm afetado suas vidas no campo e somente 8% relataram tomar atitudes como “plantar árvores” e “não desmatar” para evitar estes impactos. Além disso, 22% implementaram novos processos no manejo agropecuário, relatando a irrigação, a economia e o armazenamento de água como importantes estratégias de adaptação às mudanças do clima.

Fonte: Inventário Florestal Nacional no Rio Grande do Su

Correio do Povo
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