Rotação de soja e arroz avança no Sul

Rotação de soja e arroz avança no Sul

Cultivo em alternância passou de 121 mil para 370 mil hectares em 10 anos e deve se expandir mais

Por
Taís Teixeira

A soja plantada em rotação de cultura com o arroz irrigado no Rio Grande do Sul avançou 205% em dez anos, passando de 121,1 mil hectares na safra 2011/2012 para 370,9 mil hectares na safra 2020/2021, extensão que equivale a 39% dos 945,9 mil hectares da área cultivada com a gramínea no Estado, segundo levantamento divulgado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). Além de beneficiar o solo e ampliar a proteção das culturas, a rotação também aumenta a produtividade, reduz custos e permite melhorias no fluxo do caixa. Essa expansão da soja em áreas rotacionadas com arroz deve aumentar nos próximos anos, segundo projeção dos técnicos da autarquia.

O coordenador da regional Zona Sul do Irga, agrônomo André Mattos, atribuiu parte desse crescimento à adoção de uma tecnologia nova, a Real Time Kinematic (RTK). “É uma geotecnologia que permite fazer um mapeamento planialtimétrico do solo, por meio de uma descrição detalhada do terreno, e executar a drenagem com precisão”, esclarece. Ele destaca que a RTK aumentou a eficiência da irrigação do arroz e reduziu o número de taipas. “A soja é a principal alternativa utilizada pelos produtores gaúchos que procuram rotacionar modos de ação de herbicidas e, assim, consequentemente, manejar a resistência de plantas daninhas”, afirma.

O pesquisador da Embrapa Clima Temperado, José Parfitt, lembra que a instituição foi a primeira a usar soja em rotação com arroz no Estado. Ele explica que a soja não tolera o encharcamento do solo, o que se resolve com as valetadeiras rotativas, que abrem tanto canais de irrigação quanto de drenagem das lavouras de arroz, atividade que se tornou mais eficiente com a RTK. “A tecnologia surgiu umas cinco safras atrás na Embrapa e difundiu-se em todas as lavoura de soja em várzea, oferecendo um grande diferencial na qualidade da drenagem superficial”, relata.

Segundo Matos, os cerca de 6 mil arrozeiros do Estado gostam da “dupla soja e arroz” porque ela potencializa a produtividade e reduz custos. “A soja proporciona que se faça o preparo do solo uma vez para duas safras de verão, sendo uma para a própria soja e outra para o arroz no verão seguinte, sem a necessidade de um novo preparo para a semeadura direta na resteva da soja”, comenta.

O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, salienta que esse avanço da soja já era previsto pela entidade, que sempre incentivou a rotação de culturas, já que há consciência de que o aumento de produtividade do arroz passa por esse manejo. “Temos que intensificar essa técnica, adequando-a às características de cada propriedade”, assinala. Velho também ressalta que as boas cotações dos dois grãos nos últimos anos estimularam os agricultores a apostar na rotação.

Produtor rural em Tapes, Fábio Eckert, de 39 anos, conta que a família optou pela alternância da soja com arroz há 28 anos. Dos 4 mil hectares cultivados atualmente, a soja fica com 2,5 mil (62,5%) e o arroz com 1,5 mil (37,5%). Mas nem sempre foi assim. “Iniciamos numa área de 400 hectares, sendo 30% para soja e 70% para o arroz”, recorda. A percepção da alta na produtividade do arroz plantado na área colhida de soja tornou anual a expansão do grão, até chegar aos índices atuais. “Um hectare plantado na resteva da soja dá, em média, 40 sacas de arroz a mais que um hectare fora da rotação”, revela.

Em Tapes, Fábio Eckert vem ampliando a participação da soja na rotação com o arroz | Foto: Arquivo pessoal

O produtor rural e economista de Pelotas, Fernando Rechsteiner, de 48 anos, representa a quinta geração de agricultores da família. Na propriedade, 2,4 mil hectares são para rotacionar soja e arroz, sendo 1,2 mil hectares para cada cultura. Ele diz que 100% da lavoura de arroz é plantada em cima da resteva de soja, o que reduz o custo do cultivo da gramínea. “É só fazer as taipas para irrigação e podemos receber a lavoura de arroz do ano seguinte”, reforça. Rechsteiner assinala ainda que a rotação aumentou a produtividade do arroz em cerca de 15 sacas por hectare”. O economista explica que a rotação permite que o produtor se capitalize no primeiro semestre com a venda da soja colhida, o que lhe permite organizar o fluxo de caixa. Assim, o arroz pode ser comercializado no segundo semestre, quando costuma remunerar melhor.

Em Pelotas, Fernando Rechsteiner divide área da lavoura em metades iguais para as duas culturas | Foto: Lucas Rechsteiner/Divulgação

O presidente da Comissão de Arroz da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Francisco Schardong, confirma os benefícios agronômicos e econômicos da rotação. “A prática é eficiente no combate a inços históricos, o que diminui o investimento em defensivos agrícolas”, sustenta. A expectativa é de que a rotação siga avançando. “Em dois anos, a soja deve se expandir para 500 mil hectares”, prevê Velho. Para Mattos, esta marca vai ser atingida nas próximas cinco safras.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895