Saltos inspirados

Saltos inspirados

Aos 24 anos, o gaúcho Samory Uiki garante vaga nos Jogos Olímpicos de Tóquio

Por
Fabrício Falkowski

Desde que tinha 8 anos de idade, Samory Fraga Uiki, ao entrar na Sogipa, passa na frente do Memorial Olímpico, lugar onde o clube homenageia os atletas que representaram a agremiação nos Jogos. Lá estão as mãos de Tiago Camilo, judoca medalhista em Pequim, em 2008, e do tenista Fernando Meligeni, quarto lugar em Atlanta 1996, entre outros. Gravar os pés neste local nobre e cheio de simbolismo, eternizando o seu nome na história do esporte gaúcho, é mais um dos sonhos do atleta, hoje com 24 anos, que está prestes a se realizar. Mas há muitos outros, entre os quais trazer a medalha olímpica.

Uiki, que leva no nome uma homenagem a Samory Touré, um guerreiro, soberano da nação malinquê e um dos principais líderes da resistência ao colonialismo europeu na África, acaba de conquistar vaga nos Jogos de Tóquio, que ocorrem entre julho e agosto. Competindo em um torneio em Bragança Paulista no final de abril, marcou 8,23 metros e qualificou-se para a disputa do salto em distância nas Olimpíadas. Trata-se, por si só, de um grande feito. Porém, não é possível dizer que é o maior da sua vida, tão grande que é a lista de feitos extraordinários do gaúcho nascido e criado em Porto Alegre.

Ele começou a treinar na Sogipa aos 8 anos graças a uma parceria com a prefeitura, através da qual o clube cede vagas para crianças carentes. Logo se destacou pelo desempenho esportivo e pela seriedade com a qual encarava o desafio de treinar todos os dias sem descuidar-se dos estudos. Em seguida, recebeu do clube uma bolsa de estudos na Escola Pastor Dohms. Lá, completou o ensino fundamental e fez todo ensino médio. Treinava na pista de atletismo, estudava na biblioteca da Sogipa, além de fazer inglês também dentro do clube, tudo com alto desempenho.

Quando tinha 18 anos, Samory passou no vestibular para Direito na Ufrgs. Mas não usou a vaga, uma das mais disputadas da principal universidade do sul do país. Graças às boas notas e à carreira esportiva que já se anunciava promissora, recebeu mais de uma dezena de convites de universidades norte-americanas. Optou pela Kent State University, em Ohio. Adiou os projetos esportivos por quatro anos, mas formou-se em Relações Internacionais.

Em 2019, retornou ao Brasil para realizar o sonho olímpico. Voltou a treinar na Sogipa com José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca. Suas marcas começaram a melhorar gradativamente até ele alcançar os 8,23 metros que saltou no final de abril. A conquista da vaga adiou outro projeto. Se não fosse aos Jogos, Samory passaria uma temporada na Rússia cursando mestrado em administração do esporte na Universidade Olímpica de Sochi. A prioridade, agora, é ser atleta e, desta forma, inspirar outras crianças e jovens.

“Gosto de saber que sou observado, que as pessoas me enxergam como exemplo. Também sei que estou construindo uma trajetória vitoriosa, mas também sei que ninguém faz nada sozinho. Alguém tem que dar uma chance, tem que estender uma mão. Eu estou aproveitando a oportunidade que tive. Sou a prova de que vale a pena estudar, que o empenho é recompensado e que qualquer um pode fazer qualquer coisa”, diz o atleta.

Junto com Arataca, seu treinador, ele reorientou os treinos. Nas próximas semanas, vai participar do Troféu Brasil e, em seguida, do Campeonato Sul-Americano, na Colômbia. A meta agora é melhorar a marca para brigar por uma medalha em Tóquio. Alguém duvida que Samory é capaz?

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895