Sinais de expansão

Sinais de expansão

Maior procura por sementes e perspectivas de mercado enxuto apontam para ampliação do cultivo do trigo

Por
Danton Júnior

Favorecida pela valorização do grão, a comercialização de sementes de trigo teve início em alta no Rio Grande do Sul. Segundo entidades do setor, o mercado está aquecido e demonstra a intenção do produtor de ampliar o cultivo do principal cereal de inverno em 2021. Conforme a Embrapa Trigo, o Paraná, maior produtor do país, já observa uma antecipação na procura pelas sementes. No Rio Grande do Sul, a expectativa é de que a área plantada com trigo se mantenha em crescimento, após alcançar 930 mil hectares em 2020.

Segundo a Associação dos Produtores e Comerciantes de Sementes e Mudas do Rio Grande do Sul (Apassul), o Estado conta hoje com 88,8 mil hectares homologados para o cultivo de sementes de trigo, o que representa um crescimento de 18% em relação a 2019. “O anseio do produtor de sementes está grande. É um aumento bastante expressivo”, analisa o diretor administrativo da Apassul, Jean Carlos Cirino. Mesmo  assim, ele enxerga potencial para que esse número cresça ainda mais, já que, em 2020, a área plantada de trigo cresceu 26% no Rio Grande do Sul, segundo dados da Conab. Considerando o aumento de produção de sementes e o avanço da área plantada, Cirino acredita haver potencial para cobrir 1,1 milhão de hectares em 2021.

Focada no desenvolvimento de cultivares de trigo, a empresa Biotrigo Genética, de Passo Fundo, trabalha com um cenário de 20% de ampliação da área plantada para a próxima safra. Segundo o gerente regional Sul da empresa, Tiago De Pauli, o mercado de sementes tem se mostrado aquecido, mesmo havendo a “concorrência” das sementes salvas e piratas. “A relação de compra para o produtor está muito favorável, comparada a do ano passado”, afirma De Pauli, referindo-se ao volume de grãos/indústria que precisa ser comercializado para adquirir um quilo de sementes. A expectativa também é de manutenção dos preços ao produtor, pelo menos no primeiro semestre, tendo em vista a sobretaxação das exportações de trigo russo e o fato de a Argentina não estar exportando o produto para o Brasil no momento.

O principal motivo para o otimismo com o trigo, que havia sofrido com a defasagem do preço em anos anteriores, é a reversão para valorização ocorrida desde o ano passado. Hoje a tonelada está cotada em mais de R$ 1,4 mil. Há um ano, os preços estavam em cerca de R$ 800. “Isso certamente traz uma visão positiva para o agricultor. Ele começa a enxergar o trigo como opção rentável”, observa Cirino. Como consequência, a semente também deve ficar mais cara. “A base do custo é o próprio grão”, justifica o representante da Apassul, que acredita em um incremento de 35%, inferior ao percentual de avanço do preço do trigo.

Um conjunto de fatores aponta para um aumento na área plantada de trigo em 2021. Marcelo Klein, analista da Embrapa Trigo, de Passo Fundo, observa que a perspectiva atual é de manutenção dos preços elevados do cereal. A Argentina, principal fornecedor do Brasil, viu sua colheita cair 2,5 milhões de toneladas na safra passada. O Brasil produziu cerca de 6,2 milhões de toneladas, mas importou 6,8 milhões de toneladas. A atual taxa de câmbio, por sua vez, encarece a aquisição do grão importado. Além disso, os preços também estão firmes no mercado internacional. Enquanto a média histórica gira entre 180 a 220 dólares a tonelada, o valor de hoje está próximo de 270 dólares. “A cotação alta com dólar elevado torna o trigo nacional competitivo frente ao trigo que vem de fora”, afirma Klein.

Outro ponto importante é a comercialização da safra passada. Como o mercado estava desabastecido, boa parte da produção já foi negociada, o que contribuiu para reduzir o estoque de passagem.

A Embrapa não possui uma projeção de área a ser semeada, mas algumas consultorias falam em um avanço de 5% a 10%. De acordo com Klein, a tendência é que a área de trigo no Rio Grande do Sul passe de 1 milhão de hectares. A última vez que isso ocorreu foi em 2014. O analista ressalta que, durante 2020, o clima seco foi propício para a produção de sementes, o que deu origem a um produto de boa qualidade e em grande volume.

A orientação ao produtor é que adquira o insumo levando em conta os resultados de pesquisas que mostram quais as melhores variedades para a sua região. A própria Embrapa realiza o seu ensaio de cultivares, que avalia o desempenho das sementes em diferentes municípios. Também é importante estar atento ao ciclo e à resistência a doenças, o que pode ser um fator de redução dos custos de produção.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895