Universidades em alerta máximo

Universidades em alerta máximo

Em cenário de números assustadores, instituições de Ensino Superior têm emitido alertas sobre os riscos da doença e cuidados indicados pelos cientistas

Por
Maria José Vasconcelos e Vera Nunes

Os números de casos confirmados e mortes pela Covid-19 verificados nos últimos dias no RS colocaram a comunidade científica em alerta. E na obrigação de transmitir essa preocupação a toda a sociedade. O Comitê Responsável pelo Plano de Contingenciamento Frente ao Risco de Disseminação do Novo Coronavírus da Universidade Federal do RS (Ufrgs) lançou uma campanha de conscientização sobre a Covid-19, composta por peças especiais a serem usadas nas redes sociais, além de uma produção de conteúdos para chamadas de rádio e TV (Rádio da Universidade e UfrgsTV). A superintendente de Gestão de Pessoas e vice-presidente do Comitê, Marília Borges Hackmann, salienta que a campanha soma-se a inúmeras ações, pesquisas e projetos que a Ufrgs vem empreendendo de combate à Covid-19, porque se faz necessário, neste momento, um empenho conjunto de toda a comunidade, principalmente em relação às medidas para evitar a transmissão do novo coronavírus. Ela destaca que a nova variante do Sars-Cov-2 é ainda mais transmissível e, havendo aumento de pessoas infectadas, crescem as possibilidades de surgimento de mais mutações do vírus. “Queremos mostrar que, como Universidade, temos o compromisso de ser exemplo, de ter boas práticas de saúde e disseminar isso”, afirma.

Vacina para todos

O Comitê reiterou a necessidade de ampliação imediata da oferta de vacinas para proteger a população e reduzir a circulação do vírus e suas variantes, e a importância da expansão das ações de vigilância epidemiológica, bem como da criação de estratégias de emergência no acolhimento da população na atenção básica, garantindo acesso aos cuidados e sua continuidade para a manutenção da vida. O alerta da Ufrgs levou em conta “a gravidade da pandemia de Covid-19, demonstrada pelos recentes boletins epidemiológicos”. Os integrantes do Comitê destacam, ainda, sobre “a transmissão comunitária do vírus; a presença de, aproximadamente, vinte variantes do vírus circulando no Estado; e o alto índice de ocupação dos leitos clínicos e de UTIs na rede de saúde pública e privada no Brasil”.

Alta no número de hospitalizações tem preocupado cientistas e pesquisadores, que fazem alertas à comunidade sobre a importância de reduzir a circulação do vírus e suas variantes, além da expansão das ações de vigilância epidemiológica e da criação de estratégias de emergência no acolhimento da população na atenção básica. Foto: Sílvio Ávila / HCPA / CP

Pacto Nacional

O alerta da Ufrgs ocorre três dias depois de universidades públicas e institutos federais tecnológicos do RS assinarem um pacto nacional pela disponibilização da vacina. Em nota, as instituições de Ensino Superior reiteraram o compromisso com a saúde, a ciência e, principalmente, com a vida de todos. No documento, apelam para o cumprimento das regras sanitárias e de distanciamento social determinadas pelo governo e pelos municípios do Estado. E, principalmente, chamam a comunidade e lideranças para um pacto nacional a fim de que sejam tomadas providências para a disponibilização da vacina para toda a população.

“O cenário de emergência total em saúde deve ser respeitado e é urgente que as nossas condutas sejam compatíveis com o necessário cuidado. Faltam leitos na rede hospitalar do Rio Grande do Sul, portanto, reforçamos os alertas à população e fazemos um apelo para que sejam cumpridas as regras sanitárias e de distanciamento social que são determinadas pelo governo e pelos municípios do RS”, aponta o documento. “Chamamos a um pacto nacional para que sejam tomadas providências para disponibilizar vacina a toda a população”, conclama o documento, que pode ser acessado aqui.

Imunização em Massa

Pesquisadores da UFPel apontam que só com a vacinação em massa da população será possível retomar a vida em níveis próximos da normalidade. Foto: Moizes Vasconcellos / Divulgação / CP Memória

Em Pelotas, o Comitê Covid-19 da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) lançou nota técnica de reforço às medidas de cuidado e restrição. O objetivo é alertar a população sobre o persistente aumento de casos, óbitos e internações, tanto no RS quanto na cidade. “Apesar de o Estado estar sob restrições da bandeira preta, sem cogestão, há 19 dias, o distanciamento social implementado, aparentemente ajudou a não acelerar, ainda mais, a taxa de transmissão. Mas, até o momento, não foi suficiente para frear a pandemia em nível local.” Conforme a nota, o índice de isolamento social no período não apresentou valores recomendados – no mínimo 60% – e o colapso do sistema de saúde local pode ser dimensionado pelo comunicado oficial da Prefeitura de Pelotas, feito na terça-feira (16/3), em que relata um momento em que 17 pessoas necessitavam leitos de UTI, mas não estavam disponíveis no município.

Como mostra a experiência de outros países, quando ocorre uma progressão rápida da epidemia, como a que estamos vivenciando, com colapso do sistema de saúde, precisamos de medidas imediatas efetivas. Neste sentido, frente a um cenário onde o ritmo de vacinação se mostra insuficiente, o Comitê da UFPel avalia que o aumento de restrições e cuidados em maior tempo torna-se a única alternativa. A ideia é promover a interrupção da cadeia de transmissão do vírus, reduzindo efetivamente o número de novos casos. “Alguns municípios brasileiros perceberam a necessidade premente desta dura medida e já evidenciaram efeito positivo. Entendemos os prejuízos econômicos decorrentes de medidas drásticas. Entretanto, cabe-nos ressaltar que a continuidade de ações por curtos períodos não tem sido suficiente no combate à pandemia. Em longo prazo, perdas econômicas tendem a ser maiores se comparadas a uma efetiva interrupção. Para redução de danos, é urgente ampliar medidas de proteção social e investimento público para amenizar a situação de empregadores e empregados.” Por fim, a equipe argumenta que os esforços imediatos para salvar parte das milhares de vidas perdidas diariamente no país devem ser acompanhados do empenho das três esferas de poder e da sociedade em geral, para compra e aceleração do ritmo de vacinação no país. “Somente com vacinação em massa da população, poderemos retomar a vida em níveis próximos da normalidade.”

Carta Aberta

Os esforços acadêmicos de enfrentamento, iniciativas e busca de apoio ao grave contexto pandêmico que o país vive estão sendo empreendidos por diversas instituições de Ensino Superior, públicas e privadas brasileiras. Na sexta-feira (19/3), a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgou uma carta aberta, onde assinala que em 88 anos de existência, a Escola Paulista de Medicina nunca havia enfrentado e vivido situação e dificuldades como a que está enfrentando agora. No documento, é feito um apelo aos órgãos públicos das várias esferas administrativas para que assumam uma postura coerente com a gravidade do contexto, traçando diretrizes para apoiar os profissionais que estão na linha de frente, de modo a fornecer os recursos e os insumos necessários para o devido combate à pandemia do novo coronavírus.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895