Velocidade morro abaixo

Velocidade morro abaixo

Carlos Barbosa será neste final de semana a capital do Downhill brasileiro, uma modalidade do ciclismo em que os competidores disputam o melhor tempo enquanto pilotam em alta velocidade e desviando de todo tipo de obstáculos

Gabriel Lanfredi lembra que a concentração na hora da descida é tão vital quanto a técnica

Por
Carlos Corrêa

Distante cerca de 100 km de Porto Alegre, Carlos Barbosa, em termos esportivos, é geralmente associada ao futsal. Também pudera, é lar da ABCF, que entre outras façanhas, tem três taças de campeão do mundo na sala de troféus. Neste final de semana, porém, a cidade da Serra Gaúcha deixará a bola pesada de lado para se tornar a capital brasileira de Downhill, uma modalidade do ciclismo que pode ser resumida da forma mais simples possível como uma descida morro abaixo, com todos os obstáculos (e riscos) que isso representa.

Uma vez que a competição organizada pela Confederação Brasileira de Ciclismo não pôde ser realizada no ano passado em função da pandemia do novo coronavírus, o Campeonato Brasileiro que teve início na sexta-feira, e que tem a sua grande final programada para às 12h deste domingo, ganhou ainda mais importância para os atletas. Só não será a prova mais importante do ano no Downhill porque há pouco tempo, em setembro, foi realizado o Campeonato Panamericano, também aqui no Estado, mas desta vez em Sapiranga, com vitória do colombiano Camilo Salaz. “O Campeonato Brasileiro soma pontos para o ranking brasileiro e mundial. É a prova mais esperada do ano na maioria das vezes, pois além de nomear o campeão brasileiro, o Top 3 tem direito ao programa Bolsa Atleta”, explica o ciclista Maurício Cirne, citando o benefício do Governo Federal – além dele, há uma premiação simbólica de R$ 500 para o campeão, R$ 300 e R$ 200 para o segundo e terceiro lugares, respectivamente, todos na categoria elite.

O curioso é que após uma espera de meses pela retomada do Campeonato Brasileiro, a definição deve acontecer na disputa por milésimos. No Downhill, cada um dos atletas faz a sua descida sozinho e ao fim, o melhor tempo fica com o título. Como o nível em uma final é alto, a disputa promete ser apertada. E aí o aspecto psicológico vale tanto quanto o técnico. “A concentração é muito importante, estar bem preparado, tranquilo, sem problemas na cabeça. Isso é tão ou até mais importante do que a parte física”, observa o ciclista Gabriel Lanfredi.

A exemplo do que acontece no automobilismo, cada pista traz características únicas. No caso de Carlos Barbosa, a descida tem algumas particularidades. Na comparação com outras, por exemplo, não chega a ser das maiores. Outro aspecto a ser levado em consideração é o clima. “Se chover, o terreno fica muito liso, uma argila praticamente. Por outro lado, se permanecer com sol, (a pista) fica muito seca e isso dificulta muito, fica uma areia solta, escorrega com muita facilidade”, revela Lanfredi.

Para além das dificuldades em descer em alta velocidade uma pista com terra, pedras e todo tipo de obstáculo, os desafios dos ciclistas que estarão em Carlos Barbosa no final de semana tiveram início muito antes da prova em si. A começar por um calendário dos mais complicados em função da Covid-19. A pandemia não apenas bagunçou o calendário de competições, como também atrapalhou até mesmo os treinos dos atletas. “Os meus treinos nunca pararam, pois sabia que tinha que estar preparado para quando as corridas retornassem. Mas tive sim dificuldades para conseguir conciliar treino, estudo, e trabalho no home office. Mas tudo se ajeitou com o passar do tempo”, conta Cirne. Para completar, ainda existem as questões financeiras. As bicicletas utilizadas para o Downhill são, em sua quase totalidade, importadas. O que significa que, com a recente alta do dólar, não só elas como os acessórios encareceram e, com a menor procura, também ficaram mais escassos.

Como se vê, os obstáculos começam bem antes da prova.

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895