Após medo do desconhecido, Premier League teme jogos sem torcida

Após medo do desconhecido, Premier League teme jogos sem torcida

Possível volta da competição europeia deve ocorrer em junho

AFP

Dirigentes querem acreditar que os torcedores, conhecidos pelo amor incondicional aos clubes, manterão sua fome por futebol

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A Premier League trabalha incansavelmente para superar os imensos desafios logísticos e permitir o reinício do campeonato, algo que acontecerá obrigatoriamente com portões fechados, o que dará aos jogos um ambiente diferente, que traz o temor de uma desilusão com o futebol no país que o inventou. O próprio presidente da Federação Inglesa (FA), Greg Clarke, foi o último dirigente a admitir o óbvio, quando reconheceu na segunda-feira que as medidas de distanciamento social colocadas em prática para combater a pandemia do coronavírus impedirão aos torcedores de se reunirem nos estádios. Os clubes, por outro lado, esperam poder voltar a jogar o quanto antes.

No seio do 'Project Restart', o plano idealizado pela Premier League para poder concluir a temporada, está o objetivo de evitar que os clubes tenham que devolver milhões de euros de direitos de transmissão às emissoras. O valor, caso as 92 partidas restantes não possam ser disputadas, chegaria a 762 milhões de libras (5,23 bilhões de reais).

E como -de acordo com o último relatório sobre as finanças dos clubes da Uefa- a bilheteria representa somente 13% da receita dos clubes ingleses, o cálculo é fácil de fazer: é preciso concluir a temporada, mesmo sem a presença da torcida. Os valores colossais dos contratos televisivos, recordistas no mundo, devem permitir aos clubes da Premier League atravessar a tempestade econômica provocada pela pandemia sem a necessidade de vender sequer um ingresso para os jogos.

"Mesmo não gostando e não sendo a solução perfeita, é a única que temos para avançar", garante David Webber, especialista em estudos do futebol da Universidade de Solent (em Southampton). Um campo de pesquisa que comprava a relação única da Inglaterra com a bola.

Mas esse também é um risco que pode custar caro para a Premier League: não são só as estrelas em campo que valem milhões para as televisões do mundo, mas também o ambiente das arquibancadas dos estádios ingleses.

"O conjunto do modelo econômico só funciona quando as arquibancadas estão suficientemente cheias", julga Richard Scudamore, presidente da Premier League entre 1999 e 2018. "Nenhum artista gosta de atuar para uma sala vazia", continua o ex-dirigente, peça-chave no crescimento econômica da competição nos anos 2000.

Possível volta em junho

Após quase dois meses sem jogos - o campeonato foi suspenso em 9 de março -, os dirigentes da liga querem acreditar que os torcedores, conhecidos pelo amor incondicional aos clubes, manterão sua fome por futebol, embora o único suspense na briga pelo título é saber quando o Liverpool levantará oficialmente o troféu. No momento da suspensão da Premier League, os Reds contavam com 25 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o Manchester City.

Esta, porém, não é a opinião de Mark Doidge, sociólogo do esporte da Universidade de Brighton: sem torcedores nas arquibancadas, a Premier League poderia perder seu encanto e seu propósito.

"A curto prazo, é possível que algumas pessoas queiram ver os jogos pela televisão, mas acredito que o efeito da novidade desaparecerá rapidamente quando nos dermos conta que uma grande parte do que anima o jogo não são os jogadores, mas sim as pessoas nas arquibancadas", diz o especialista.

Nos estádios ingleses, torcedores e jogadores se alimentam um do outro para criar uma energia e uma emoção coletiva, segundo Doidge. "Este ambiente coletivo é parte integrante do jogo. Se não existir para alimentar os jogos, será que a qualidade do futebol e a experiência televisiva serão iguais?".

A questão ameaça também a temporada seguinte: os clubes da Premier League já pensam em planos de emergência para disputar a totalidade da temporada 2020-2021 com portões fechados, de acordo com a imprensa britânica. Resta saber se, por falta de um produto melhor, isto será suficiente para satisfazer jogadores, detentores dos direitos de transmissão e torcedores.

"Não ter torcedores presentes é uma situação estranha. O que define o futebol é esta atmosfera", lamenta o jogador do Tottenham e da seleção inglesa Harry Winks, questionado pela BBC. "Não é algo que me agrade, e sei que muitos outros jogadores sentem o mesmo", insiste.


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