Esporte reverte corte no orçamento para 2018

Esporte reverte corte no orçamento para 2018

Redução da verba em 87%, como anunciado pelo governo, colocava em risco todos os programas do setor

Amauri Knevitz

Redução da verba em 87%, como anunciado pelo governo, colocava em risco todos os programas do setor

publicidade

Para que milhares de atletas permaneçam nas pistas, quadras e tatames de todo o país, a articulação é feita em salões acarpetados e com ar condicionado. É nos corredores dos prédios governamentais de Brasília que o Ministério do Esporte tenta reverter os 87% de corte na verba da pasta para 2018, previstos na proposta de Lei Orçamentária Anual (LOA) anunciada pelo governo federal em setembro. A medida afetaria brutalmente a maioria dos projetos em andamento no país.

“A gente teria que escolher quem viveria e quem morreria”, comentou o ministro do Esporte, Leonardo Picciani, que concedeu entrevista após participar do 10º Enecob (Encontro Nacional de Editores, Colunistas e Blogueiros), em Brasília. “A proposta inicial era muito dura, retrocedia demais. Muitos programas teriam que ser paralisados”, comentou.

Após reuniões com o presidente Michel Temer e muita articulação no Congresso, Picciani acredita ter recuperado cerca de 75% do déficit. Ele conta com pouco mais de R$ 600 milhões, no momento. Sua meta, até dezembro, é garantir ao menos quantia igual à deste ano, que ficou na casa dos R$ 750 milhões. “Fiz uma apresentação desses dados, e ele (Temer) compreendeu bem a necessidade de não termos esse retrocesso no orçamento do Esporte”.

Por meio de medidas provisórias no Congresso, o ministro espera “mais uns 200 milhões” para tocar todos os projetos com normalidade. “Sem nenhuma grande inovação, é claro. O orçamento de 2017 já foi bem apertado; Não só para nós, mas o Orçamento da União como um todo”, afirmou Picciani. Para efeito de comparação, a verba da pasta em 2016 foi de R$ 1,3 bilhão. Era ano olímpico, por isso já se esperava uma diminuição para o período seguinte.

Bolsa Atleta será reformulado

Menina dos olhos do Ministério do Esporte, o Bolsa Atleta, que apoia competidores de todos os Estados, sofreria um impacto de 50% em caso de diminuição brusca no orçamento - isso que, de todos os programas, ele seria o menos cortado. Seria um golpe irreversível numa iniciativa que já encontra dificuldades para fechar a conta este ano. A previsão de R$ 137 milhões foi sendo reduzida até R$ 125 milhões, insuficientes para o número de bolsistas contemplados - em 2016, foram investidos R$ 43 milhões.

Até mesmo em função disso, o Bolsa Atleta será reformulado para o ano que vem. “Queremos deixá-lo ainda mais meritório”, explicou o ministro. Questionado em seguida se esta abordagem não tornaria o suporte ainda mais restrito, prejudicando as ambições do país de melhorar seu desempenho esportivo, Picciani recuou e informou que os critérios ainda serão estipulados por um grupo técnico liderado pelo secretário de Alto Rendimento, o ex-judoca Rogério Sampaio. “Só então teremos uma resposta mais precisa para essa pergunta, mas consideraremos esta questão. Nosso objetivo não é reduzir, e sim aumentar o nível técnico”, explicou.

Coordenador do Bolsa Atleta há quase três anos, o ex-ginasta gaúcho Mosiah Rodrigues garante que o programa não ficará mais restritivo. “A intenção é qualificar os critérios para melhorar os resultados dos nossos atletas”, diz Mosiah. Atualmente, a iniciativa contempla modalidades olímpicas, paralímpicas e não-olímpicas. Segundo números do ministério, 96% dos atletas incluídos tem a bolsa como única fonte de renda, sem outros incentivos ou patrocínios. É dividido em quatro categorias, referentes ao nível de resultado obtido pelos competidores: Nacional, Internacional, Olímpico e Pódio.

Centros de Iniciação sofrem para sair do papel

Considerados um dos principais legados do ciclo olímpico do Rio de Janeiro, concebidos ainda no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2, os Centros de Iniciação ao Esporte (CIE) ainda sofrem para serem implantados, esbarrando em obstáculos como a política local das cidades. Mesmo assim, o ministério mostra otimismo ao projetar a construção de 218 unidades (eram 285 na seleção inicial) em 208 municípios brasileiros. As obras têm o objetivo de ampliar o acesso de base ao esporte, mas não apenas para popularizar a atividade física, e sim para proporcionar a possibilidade de evolução para o alto rendimento. São três tipos de estrutura possíveis (ginásio, ginásio + quadra poliesportiva ou ginásio + complexo de atletismo), com foco em 13 modalidades olímpicas, seis paralímpicas e uma não-olímpica (futsal).

Das 218, apenas quatro foram inauguradas até agora: Franco da Rocha (SP), Maringá (PR), Uberaba (MG) e Arapongas (PR). O Rio Grande do Sul tem 11 programas ativos, totalizando um investimento de R$ 38,4 milhões: Caxias do Sul, Canoas, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Passo Fundo, Pelotas, Rio Grande, Viamão, Santa Cruz do Sul e Uruguaiana. Apenas cinco cidades, porém, cumpriram todas as etapas e receberam autorização para início de obra, com prazo de conclusão até o fim de 2018: Uruguaiana, Caxias do Sul, Canoas, Passo Fundo e Santa Cruz do Sul.

Com dificuldades, o esporte brasileiro tenta, assim, resistir à crise política e financeira que inevitavelmente afeta também o desempenho esportivo do país.

*O jornalista viajou a convite do Enecob

Mais Lidas

Confira a programação de esportes na TV desta terça-feira, 23 de abril

Opções incluem eventos de futebol e outras modalidades esportivas em canais abertos e por assinatura







Placar CP desta terça-feira, 23 de abril: confira jogos e resultados das principais competições de futebol

Acompanhe a atualização das competições estaduais, regionais, nacionais, continentais e internacionais

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895