Ex-repórter do Correio do Povo relembra o encontro com Pelé, sozinho no vestiário

Ex-repórter do Correio do Povo relembra o encontro com Pelé, sozinho no vestiário

Em 1975, Mário Marcos de Souza foi enviado para cobrir a estreia do astro nos EUA

Chico Izidro

Mário Marcos lembra hoje, 45 anos depois, dos detalhes da cobertura feita para a Folha da Manhã junto do fotógrafo Sérgio Arnoud

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O jornalista Mário Marcos de Souza tinha apenas 26 anos quando recebeu uma missão dos sonhos para qualquer repórter: acompanhar a ida de Pelé para o New York Cosmos, nos EUA, em junho de 1975, pelo jornal Folha da Manhã, antiga publicação da Caldas Júnior. “Eu tinha apenas cinco anos de jornal, e fiquei surpreso com a missão. Fui escalado, um choque”, relembra Mário, hoje com 72 anos e aposentado desde o ano passado, depois de passagens pela Caldas Júnior, Grupo RBS e SporTV, onde estava atuando como comentarista.

Ele ficou dez dias entre Nova Iorque e Boston e teve a honra de entrevistar o craque antes de sua estreia – o jogo do NY Cosmos contra o Dallas Tornado, no Downing Stadium, na Ilha de Randall, subúrbio de Nova Iorque, que era um antigo estádio de beisebol do New York Yankees. 

Naquela época, ainda não existiam as facilidades de comunicação de hoje, propiciadas pela Internet. “O produto que o jornal publicava era aquele que seu enviado especial produzia”, conta. Mário lembra de quando recebeu a tarefa ao lado do fotógrafo Sérgio Arnoud. Foi sugerido a eles que entrassem em contato com um jogador gaúcho que morava lá, para ajudar. “Infelizmente não recordo mais o nome dele”, lamenta, 45 anos depois.

“Ele nos levou para este estádio de beisebol que estava acomodando o Cosmos. Nunca vou esquecer. O estádio estava velho, desgastado, um monte de lixo atrás de uma das goleiras. E a sorte de repórter apareceu. A grande sacada da viagem”, revela. “Logo no primeiro dia, chegamos ao estádio, encontro um funcionário na pista de atletismo e pergunto que horas o Pelé iria chegar para treinar. E o cara diz: ‘Ele já está aí’. Era uma época sem paranoias de segurança, assessores de imprensa. O funcionário me mostrou o caminho do vestiário, peguei o corredor e no fim, entro no vestiário, com uns armários verdes. E quem encontro? O Pelé, sozinho”, emociona-se. 

Foto: Sérgio Arnoud / CP Memória / Arquivo Pessoal

O jornalista conta que já havia cruzado com Pelé algumas vezes quando cobriu jogos do Santos contra a dupla Gre-Nal em Porto Alegre. “Uma vez, no Hotel Everest, eu estava entrevistando e ele dando autógrafos, na maior calma, e eu parava de perguntar enquanto ele assinava. E ele me disse para seguir a entrevista, pois se fosse parar a cada momento, o papo não terminaria nunca”, diverte-se. 

Voltemos a Nova Iorque. Lá está Pelé. “Ele estava com um pé em cima de um banquinho, colocando a atadura. E disse que estava se sentindo como um novato, como quando começou no Baquinho (o time de Bauru). E me revelou que lá estava tendo até de ensinar os companheiros a colocarem as ataduras, pois eles não sabiam. Era tudo muito amador. Os americanos não tinham noção no que aquela história de Pelé por lá iria propiciar”, destaca.

Mário lamenta não ter àquela época as facilidades encontradas no jornalismo feito hoje. “Naquele ano de 1975, o impacto das minhas matérias foi bem menor do que seria hoje. Imagina tu chegando hoje no vestiário e encontrando o Pelé sozinho, em seus últimos anos de carreira, mas começando uma nova aventura nos EUA, e tu com celular, câmera de vídeo, e-mail, laptop, podendo mandar teu material logo em seguida para site, jornal, rádio, TV. O impacto gigantesco que seria”, comenta. “Mas nos anos 1970 até as ligações telefônicas eram complicadas. Nem sempre completava a linha, tinha o maldito telex. Primeiro tinha de bater o material na máquina de escrever, depois passar para o telex”, diz.

Na estreia do Rei, no dia 15 de junho de 1975, milhares de torcedores compareceram para vê-lo jogar contra o Dallas Tornado – o jogo terminou empatado em 2 a 2, com Pelé marcando o segundo gol do Cosmos. “Na torcida, muitos latinos. E um lance engraçado. No intervalo do jogo, ele não queria voltar para o segundo tempo, pois apareceu uma mancha verde em sua perna e ele achou que era algum tipo de fungo, mas não. Explicaram que, como o estádio era velho e o campo tinha pouca grama, pintaram o chão de tinta cor verde”, conta Mário, aos risos. “Já no segundo jogo dele pelo Cosmos, fomos a Boston em partida que aconteceria no campus da Universidade. E a partida não acabou, pois as pessoas invadiram o gramado para abraçar e tocar em Pelé. Ele foi retirado pelos seguranças”, lembra.

Mário conta que ir aos EUA foi um choque cultural: “Nova Iorque, uma cidade imensa. Facilitava de certa forma, porque a gente foi com uma ideia específica, que era entrevistar Pelé. Mas eu não sabia como estava sendo feita a edição do meu material aqui em Porto Alegre. Eu mandava as reportagens e ficava no escuro. Porém, foi um momento especial”.

Mário e Sérgio ainda visitaram o craque no Hotel Plaza de Nova Iorque, em sua suíte, magnífica. “Ele nos recebeu com sua simpatia, ao lado de sua primeira mulher, Rosemeri, e os filhos pequenos, Edinho e Kelly Cristina. Ele é um gênio no que fez. Não entendo como algumas pessoas discutem se ele deveria entrar em alguma seleção”, conta. Por fim, o jornalista afirma que entrevistar Pelé foi um privilégio: “Valeu pela realização profissional. O Pelé tem uma qualidade que todo mundo que teve contato com ele valoriza – ele sempre foi muito solícito. Sempre atendia, na medida do possível”.

Foto: Reprodução / CP


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