Especial 50 anos do Beira-Rio: Improvável união, o maior público da história do Beira-Rio
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Especial 50 anos do Beira-Rio: Improvável união, o maior público da história do Beira-Rio

Confronto entre a Seleção Gaúcha e a Seleção Brasileira teve grande futebol e muita rivalidade

Chico Izidro

Ânimos foram acirrados por ausência de gaúchos na convocatória da seleção canarinho

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"Não estou entendendo nada. Estou em outro país?”, questionou o atacante Paulo César Caju para Valdomiro durante o amistoso entre a Seleção Gaúcha e a Seleção Brasileira, no Beira-Rio, realizado em 17 de junho de 1972 e que até hoje detém o recorde de público na casa colorada: mais de 110 mil pessoas, com 106.554 pagantes. O “Furacão da Copa” Jairzinho chegou a afirmar que teriam pedido o passaporte para os jogadores do Brasil no Aeroporto Salgado Filho e que temia por prováveis lances de violência por parte dos jogadores gaúchos no amistoso, o que acirrou ainda mais o clima de guerra da partida.

O motivo de tanta celeuma foi que naquele ano, em que o país vivia sob o regime militar liderado pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici, a Seleção Brasileira, tricampeã do Mundo em 1970, preparava-se para disputar o Torneio Independência, que comemoraria os 150 anos de emancipação do Brasil. Só que o técnico Mário Jorge Zagallo não convocou nenhum jogador do Rio Grande do Sul para disputar a competição. Os gaúchos ficaram ofendidos com uma ausência na lista: Everaldo, lateral-esquerdo do Grêmio, e único dos tricampeões mundiais de 1970 preterido para o torneio. A ausência do jogador − os torcedores acreditavam ainda que o centroavante Claudiomiro, que vivia excepcional fase, também merecia ser chamado – gerou algo raro: a união de gremistas e colorados contra a então Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Foi um dos poucos momentos na história de mais de cem anos da rivalidade da Dupla Gre-Nal que as duas torcidas se uniram em torno de uma causa. O presidente da Federação Gaúcha de Futebol na época, Rubens Hoffmeister, agiu e conseguiu marcar um amistoso da Seleção Gaúcha contra a Seleção Brasileira.

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Os gaúchos, treinados por Aparício Viana e Silva, o Apa, contavam com jogadores apenas da dupla Gre-Nal, entre eles o uruguaio Ancheta, o chileno Figueroa e o argentino Oberti. Zagallo não gostou muito e fez severas críticas, pois acreditava que deveriam ter sido chamados jogadores também dos outros clubes do Estado, não apenas da Dupla. O Brasil usou o seu tradicional uniforme com camisetas amarelas e calções azuis, enquanto a Seleção Gaúcha utilizou uniforme branco, com detalhes em amarelo e verde (as cores da bandeira do Rio Grande do Sul) no peito.

Os mais de 100 mil torcedores estavam eufóricos e reza a lenda que bandeiras do Brasil foram queimadas antes do início da partida. Os dois times, porém, entraram em campo segurando uma grande bandeira brasileira. Durante a execução do Hino Nacional, uma sonora vaia foi ouvida no Beira-Rio, inaugurando uma tradição que se manteve durante décadas nos estádios de Inter e Grêmio. Se os alto-falantes traziam o Hino Brasileiro, nas arquibancadas os torcedores respondiam com o Hino Riograndense a plenos pulmões. “Ninguém nunca imaginou em ver aquelas cenas. Todo o estádio torcendo contra o time campeão do mundo apenas dois anos antes. Acho que é o único lugar do mundo onde aquela equipe foi vaiada”, recorda o lateral da Seleção Gaúcha, Valdir Espinosa, hoje com 71 anos. “Até os jogadores da Seleção Brasileira estavam admirados com o que viam no estádio”, destaca.

Espinosa conta que a equipe gaúcha foi convocada e fez apenas um treino. “E apesar de jogarmos em Grêmio e Inter, tínhamos uma forte amizade. A rivalidade ficava mesmo em campo, nos Gre-Nais. A gente se respeitava, se admirava, se curtia”, recorda ele, que era muito amigo de Claudiomiro, Valdomiro, Schneider e Carbone. Ele conta que o amistoso foi pegado, mas dentro da normalidade. “As equipes queriam vencer, era um amistoso sem ser amistoso, depois de toda a polêmica criada”, analisa. “O jogo acabou valendo mais do que um que se disputava pontos”, acredita. “Era um peso muito grande, e não queríamos frustrar a torcida gaúcha, que estava unida pela primeira vez”, garante Espinosa, que ainda guarda a camisa usada na partida. “Quando acabou o jogo, os jogadores do Brasil saíram de campo sem entender o que havia se passado. Mas nos cumprimentamos civilizadamente”, completou.

A Seleção Brasileira acabou sendo importante na vida de Valdomiro, que a partir daquele amistoso chamou a atenção do técnico Zagallo, recebendo sua primeira convocação ainda em 1972, depois do Torneio Independência. “A partir dali construí minha história na Seleção, chegando à Copa do Mundo de 1974, quando fui titular e fiz gol diante do Zaire”, recorda. “Mas naquele jogo no Beira-Rio vi duas torcidas unidas numa só, em torno do falecido Everaldo. Ele merecia ter sido convocado, foi uma injustiça”, lamenta. “O Everaldo não era apenas um ídolo do Grêmio. Os colorados também gostavam muito dele, único representante daqui na conquista do Tri no México”, destaca. "Mas acho que havia certo preconceito em relação ao Sul, pois o futebol gaúcho era diferente do jogado no Rio e em São Paulo. Aqui é mais raça, mais força. E isso pesou”, diz.

“Durante a partida, foi engraçada a reação dos jogadores do Brasil”, lembra Valdomiro, que recorda mais da expressão assustada de Paulo César Caju: “Ele a todo momento nos dizia que não estava no Brasil, e que estranhava ver um estádio com cem mil torcedores, cem mil bandeiras gaúchas e nenhuma brasileira”, recorda. Ao fim do jogo, Caju chegou nos microfones e disparou: “Devolvam meu passaporte. Quero voltar para o Brasil”.

Nos 90 minutos, a Seleção Gaúcha esteve sempre na frente. Fez 1 a 0 com Tovar. O Brasil empatou com Jairzinho. Carbone fez 2 a 1 para os gaúchos, mas Paulo César Caju igualou de novo. Aí Claudiomiro marcou o terceiro dos sulistas e Rivellino decretou o empate final. Os gaúchos atuaram com Schneider; Espinosa, Figueroa, Ancheta e Everaldo; Carbone, Tovar e Torino; Valdomiro, Claudiomiro e Oberti (Mazinho). O Brasil jogou com Leão (Sérgio); Zé Maria, Brito, Vantuir e Marco Antônio; Clodoaldo, Piazza e Rivelino; Jairzinho, Leivinha e Paulo César Caju.


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