Especial 50 anos do Beira-Rio: Vitória no maior de todos os clássicos
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Especial 50 anos do Beira-Rio: Vitória no maior de todos os clássicos

Inter surpreendeu o Grêmio com virada no Gre-Nal do Século

Carlos Corrêa

Abel braga mandou o time para cima no segundo tempo de partida

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Ao longo de mais de cem anos de rivalidade, Inter e Grêmio já mediram forças exatas 418 vezes. No entanto, nunca houve um clássico como o Gre-Nal do Século. Naquela tarde quente de domingo, 12 de fevereiro de 1989, gremistas e colorados pisaram no gramado do Beira-Rio cientes de que nunca um encontro entre ambos valera tanto. Afinal, pela primeira vez na história, o duelo era válido por uma semifinal de Campeonato Brasileiro e o vencedor iria carimbar a passagem para a final da competição. Vencer a disputa caseira não valia título, mas é justificável que o lado vermelho tenha comemorado como tal, em grande parte pela forma como a vitória por 2 a 1 aconteceu: de virada e com um jogador a menos.

O Gre-Nal do Século, na verdade, são dois Gre-Nais. Três dias antes do jogo no Beira-Rio, as equipes se enfrentaram no estádio Olímpico pela partida de ida. Ninguém saiu do zero, mas muito do que começou na Azenha teve consequências depois no Menino Deus, como bem lembra o ex-centroavante Nilson. “Eles tinham um zagueiro, o Trasante. O cara arranhou meu pescoço, passou o tempo inteiro chegando na maldade e falando: 'Acá mando yo'. O (atacante) Maurício viu aquilo e comprou a briga. Como eu era mais quieto, ele chegou e disse: 'Domingo, vocês vão ver'”.

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O discurso era de confiança, mas nos corredores do Beira-Rio era inegável o temor de que a festa fosse adversária. “O Grêmio tinha um time superior, era mais experiente. E era uma época complicada ali nos anos 1980, a gente fazia de tudo, jogava melhor, mas eles acabavam ganhando a maioria das vezes”, lembra o ex-goleiro Taffarel. Nos gabinetes, a ideia era reforçar a autoestima colorada, mostrando que os atletas contavam com o total respaldo da diretoria. Só que nem sempre a intenção dos dirigentes se traduzia na mais correta das práticas. “Eu queria mostrar aos jogadores que não tínhamos medo. Só que aí dei uma declaração para as rádios e jornais que acabou dando uma confusão danada, na qual disse que sempre preferia enfrentar o time mais fraco, e dos adversários que podíamos enfrentar naquela ocasião, o Grêmio era o mais fraco”, observa o então vice de futebol Luiz Fernando Záchia.

A mão no joelho

Para completar a tensão pré-jogo, na véspera da partida, o técnico Abel Braga quase perdeu Nilson, na época o principal jogador colorado. No rachão, o centroavante dividiu com um atleta das categorias de base e levou a pior. Ato reflexo, colocou a mão no tornozelo esquerdo. Como na época, o acesso da imprensa era muito maior, um dos médicos do Inter chegou perto do jogador e discretamente ordenou: “Coloca a mão no joelho direito. Se tu se recuperar, vamos dizer que o problema é no joelho”. E assim foi dito. Na hora do jogo, Nilson entrou com uma atadura especial no tornozelo e com um esparadrapo no joelho direito que só tinha como intenção ludibriar a marcação. Não deu outra. “No primeiro lance, o (zagueiro) Luís Eduardo foi direto no meu joelho. Caí, fiz uma firula gritando, mas estava tudo bem. Passaram o jogo buscando o meu joelho, mas o tornozelo ninguém pegou”, diverte-se o ex-jogador.

Ocorre que o tornozelo de Nilson foi a menor das preocupações coloradas nos primeiros 45 minutos. Quando Arnaldo Cézar Coelho apitou o início da partida, quem tomou conta foi o Grêmio e no imaginário do lado vermelho, o receio de uma nova derrota só crescia. Ainda mais quando aos 16 minutos, Marcus Vinícius acertou um chute cruzado com a canhota e surpreendeu Taffarel, abrindo o placar. “O Grêmio tinha que arriscar e às vezes você não espera que o adversário venha na sua casa e proponha o jogo daquela forma”, recorda o ex-lateral e hoje técnico Luiz Carlos Winck. Aparentemente, não havia como piorar. Só aparentemente, porque minutos antes do intervalo, o lateral Casemiro foi expulso, tornando tudo ainda mais complicado.

Como não poderia deixar de ser, o ambiente no vestiário era de tensão e expectativa. Abel e Záchia foram fumar em uma sala até que a adrenalina baixasse pelo menos um pouco. Na volta, o técnico fez questão de chamar Casemiro, que saiu do banho um tanto quanto constrangido pela expulsão há minutos. Abel então questionou os atletas: “Vocês gostam deste cara? Porque se eles ganharem, vocês vão acabar com a carreira dele e vocês não querem isso, né?”. Recebeu um óbvio “não” como resposta e prosseguiu: “Vocês jogam mais que isso. Eu quero fazer uma alteração, mas preciso saber se vocês acreditam. Senão eu só fecho o time para não levarmos mais”. Os jogadores concordaram e ouviram em seguida: “É o seguinte. Eu vou tirar o Leomir e colocar o Diego Aguirre”. Silêncio total. “Dei uma olhada para o lado e ninguém falou nada, mas eu pensei: 'Ele está louco? Estamos tomando um chocolate e ele vai abrir o time?’”, recorda Nilson, sobre a entrada de um atacante no lugar de um volante.

Para completar, um outro elemento entrou em cena. Se era verdade ou não, não havia como saber naquele momento, mas a versão que chegou ao vestiário colorado era clara. “O que chegou é que eles já estavam comemorando a classificação e isso mexeu muito com a gente, voltamos com outro ânimo”, conta Winck. Na base do entusiasmo e com uma formação muito mais ofensiva, o Inter tinha um a menos, mas a impressão era o contrário. Todas as iniciativas eram em vermelho e branco. “Mais tarde, em 1991, eu contratei o Cuca e ele comentou que no intervalo, o papo entre eles era no sentido de passar por cima, mas que quando abriram os olhos, já estava 2 a 1”, revela Záchia.

Sassá Mutema

Sem Casemiro, expulso, coube a Edu Lima fazer as vezes de ponteiro e de lateral. E foi a partir dele que surgiu a jogada do primeiro gol, aos 16 minutos, quando sofreu uma falta de Alfinete na ponta esquerda. O próprio Edu cobrou e Nilson, que já era o artilheiro da competição, antecipou-se à marcação para, na altura da marca do pênalti, dar um testaço sem chances para Mazaropi. Na vibração, saiu cambaleando em homenagem a Sassá Mutema, personagem de Lima Duarte na novela “O Salvador da Pátria”, sucesso na época. O gol incendiou o Beira-Rio e transformou o estádio num inferno para os gremistas.

Ficaria pior. Aos 26 minutos, pelo lado direito, Maurício recebeu uma cobrança de lateral e, com apenas um jogo de corpo, livrou-se de Airton e Bonamigo de uma vez só. A partir daí há duas versões: a do próprio Maurício e a de todos os outros envolvidos. Enquanto o atacante jura que cruzou para Nilson, é opinião unânime de quem estava lá que o atacante mirou o gol. Para o bem ou para o mal, o chute saiu cruzado e ia para fora, mas no meio do caminho, o centroavante encostou para as redes gremistas e colocou o Inter na frente. “Ih, é claro que ele chutou no gol. Ele era muito olho grande, não ia passar aquela bola”, diverte-se hoje Nilson, que completa: “Mas quando ele bateu forte, eu vi que ela ia passar cruzada, então já me posicionei e só deixei bater no pé”, conta o autor dos dois gols no clássico. A vitória estava encaminhada, mas ainda faltava acertar uma conta. Maurício foi então na direção de Trasante: “Acá? Acá mando yo”!

Classificado para a final, o Inter acabou surpreendido na decisão e viu o Bahia levantar a taça de campeão naquele ano. Restou de consolo, no entanto, a lembrança de ter vencido aquele que até hoje é considerado o Gre-Nal mais importante de todos os tempos. A equipe colorada, treinada por Abel Braga, jogou com Taffarel, Luiz Carlos Winck, Aguirregaray, Nenê, Casemiro, Norberto, Leomir (Diego Aguirre), Luís Carlos Martins, Mauricio (Norton), Nilson e Edu Lima. O Grêmio, de Rubens Minelli, tinha Mazaropi, Alfinete, Trasante, Luís Eduardo, Airton, Bonamigo, Cuca, Cristóvão, Jorginho (Reinaldo Xavier), Marcos Vinicius e Jorge Veras (Serginho).
 


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