Focos de incêndios crescem 22% no DF, mas área queimada cai 50%

Focos de incêndios crescem 22% no DF, mas área queimada cai 50%

Fogo atingiu área de 4,8 mil hectares, maior que a região de Vicente Pires; GDF já gastou R$ 4 milhões para combater incêndios em 2021

R7

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O número de focos de incêndios florestais registrados no Distrito Federal de 1º de janeiro a 18 de agosto de 2021 teve aumento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado, mas a área queimada foi a metade da registrada nos mesmos meses de 2020. Os dados fazem parte de um monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Segundo o levantamento, os satélites identificaram 88 focos de incêndio no DF de janeiro a agosto, contra 72 no mesmo intervalo em 2020. As ocorrências registradas apenas em agosto (27 casos até o dia 21) já superaram os registrados o total do mesmo mês no ano passado (22). O maior volume de incêndios este ano ocorreu em 13 de agosto, com dez focos no mesmo dia.

A área queimada, no entanto, foi de 4,8 mil hectares no período, contra 9,7 mil hectares no ano passado. Apesar da redução, a área afetada pelo fogo é maior do que a região administrativa de Vicente Pires, que tem 4,4 mil hectares e cerca de 100 mil habitantes.

As queimadas prejudicam a fauna e a flora, além de contribuírem para a piora da qualidade do ar na região. Os moradores de Planaltina, Sobradinho, Brazlândia, São Sebastião, Paranoá e Gama são os que mais sentem os efeitos dos incêndios, pois as cidades concentram as maiores queimadas.

“Nessas regiões de encosta, a dificuldade de combater o fogo é maior, pois são áreas muito acidentadas, é perigoso até para os próprios bombeiros. Quando o fogo está a favor do vento, ganha ainda mais potência e sobe a encosta com muita velocidade. Tudo que é área rural, vai queimar”, detalha Gabriel Prola, tenente-coronel do Corpo de Bombeiros do DF.  “Por mais preparado que a gente esteja, estar em todos os lugares ao mesmo tempo é uma missão difícil”, disse.

Bioma ameaçado

O Cerrado, de vegetação mais seca, é um bioma que evoluiu para se adaptar ao fogo, mas as queimadas constantes abalam a capacidade de regeneração da vegetação. No entanto, nesse período do ano, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), que atua no combate a queimadas, diz que "100% dos incêndios nessa época são por causa humana, como queima de poda, queima de lixos, renovação de pastagem ou grilagem de terra". As queimadas controladas, no entanto, estão proibidas até outubro pelo Decreto Federal Nº 10.735, de 28 de junho de 2021.

Com risco de novos focos, o órgão já promove algumas ações para evitar outras queimadas, entre elas os aceiros (abertura de faixas de terra de 4 metros de largura ao longo de cercas, para impedir o avanço do fogo). Ao todo, 154 brigadistas e servidores do GDF foram convocados para atuar no combate às chamas, além de 160 bombeiros. Outros 163 estão de sobreaviso.

Em 2021, o investimento no controle do fogo pelo Governo do Distrito Federal foi de R$ 4 milhões – R$ 1 milhão a mais do que em 2020. O foco é o combate direto, para isso são usados abafadores, bomba costal (equipamento levado às costas que borrifa água nos focos de incêndio), sopradores, dois caminhões-pipa e dois aviões agrícolas. Pela primeira vez, neste ano, as equipes contam também com um drone.

O secretário de Meio Ambiente do DF, Sarney Filho, detalha que o objetivo é controlar os focos para mantê-los em níveis próximos aos registrados no ano passado. “Em Brasília, a maior parte dos incêndios ocorre por queima de lixo. Em setembro, a gente começa a campanha educativa, porque é o mês mais perigoso. A gente vai tentar este mês diminuir [os focos] para ver se fica melhor do que no ano passado”, explica Sarney.

Para o professor de engenharia florestal da Universidade de Brasília (UnB) Reginaldo Pereira, as medidas adotadas são apropriadas. “A alma do negócio é fazer vigilância constante, pois o fogo tem que ser detectado o mais rápido possível."

Associado às queimadas ilegais, o especialista alerta que o risco de incêndios florestais é aumentado pelas condições da vegetação. "Em média, em setembro, os bombeiros costumam atender cerca de 80 chamados diários. Depois do período chuvoso, cresceu bastante a biomassa superficial, esse capim e gramíneas que secam mais rapidamente e dão ignição ao fogo”, explica Pereira.

O professor ressalta ainda que, além de aumentarem a emissão de gases do efeito estufa e levarem à piora na qualidade do ar, as queimadas, próximas de córregos e rios, retiram a vegetação que protege os mananciais, podendo impactar o abastecimento de água. Culturas agrícolas, por exemplo, também ficam vulneráveis.

Infecções respiratórias

As consequências das queimadas refletem não só no meio ambiente, mas prejudicam a saúde da população. De acordo com informações da Secretaria de Saúde, apenas em junho deste ano, 1.169 pacientes foram internados com infecção respiratória aguda no DF.

A pneumologista Aída Alvim destaca que, em Brasília, as internações são potencializadas pela associação da seca com o inverno, somada à queda na qualidade do ar com os incêndios. Assim, mais partículas de poeira e poluição permanecem suspensas no ar. “Os vírus respiratórios são transmitidos mais nesse período, e essas viroses abrem as portas para infecções bacterianas com o sistema imunológico abalado. A seca propicia um ressecamento das secreções que se acumulam no pulmão, principalmente em pessoas que são mais alérgicas. Isso acelera a proliferação das bactérias e aumenta a quantidade de infecções”, afirma.

A médica lembra também que, com as queimadas, há maior inflamação das vias aéreas: “As pessoas têm mais crises, e realmente tem um aumento na frequência de atendimentos nessa época”. São crises de rinites, sinusites, alergias e pneumonias, por exemplo. As crianças são as que mais sofrem: pacientes com até 4 anos representam 47,2% de todas as 3.640 internações por infecções respiratórias agudas registradas neste ano. Idosos acima de 60 anos somaram 18,8% dos pacientes.

“No caso das crianças, o sistema imunológico não está maduro. Por outro lado, os idosos têm a produção de anticorpos diminuída”, detalha a pneumologista. Por isso, Aída reforça a importância de redobrar a hidratação nesse período.

Estiagem

Nesta segunda-feira (23), o DF completa 70 dias sem chuva. Com a estiagem, a umidade relativa do ar tem ficado em torno dos 20%, favorecendo a escalada na temperatura, com máximas acima dos 29ºC. Diante desse clima de deserto, a cidade está em estado de alerta.

Como a tendência deve se prolongar pelos próximos dias, o DF pode bater o recorde de secura da região. No dia 1º de agosto, a umidade relativa do ar chegou aos 13%. O índice se aproxima do menor nível da história, registrado em 2019, que chegou a 8%, em setembro. "A gente está tendo uma seca mais severa, as chuvas ficaram abaixo da média em boa parte do Brasil, então não se descarta a possibilidade de passar do recorde”, diz o meteorologista Cleber Sousa, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). 

Sousa destaca que uma massa de ar fria se aproxima do Centro-Oeste e deve atingir a região nesta terça-feira (24) e pode trazer chuvas até o fim de agosto. "Mas, se cair, deve ser pontual. Só para outubro teremos chuvas volumosas e com mais frequência”.


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