Litoral gaúcho contabiliza estragos após passagem do ciclone Yakecan

Litoral gaúcho contabiliza estragos após passagem do ciclone Yakecan

Tempestade desafiou a infraestrutura das cidades banhadas pelo Atlântico

Felipe Faleiro

publicidade

O dia após a passagem do ciclone Yakecan pelo litoral gaúcho foi de contabilização dos estragos causados pela tormenta, que se distanciou da costa através do mar, ainda na madrugada de terça para quarta-feira, depois de cortar de sul a norte a faixa litorânea. Alguns municípios mais, outros menos, todos eles de alguma forma foram afetados pelos efeitos da tempestade, que desafiou a infraestrutura das cidades banhadas pelo Atlântico.

Falta de energia elétrica, alagamentos, água acumulada, quedas de fios e postes, árvores e telhados foram alguns dos problemas reportados, ocasionando a suspensão de diversos serviços. Vias já precárias pelos buracos tiveram a situação agravada. Nesta quarta-feira, já com menor efeito do ciclone, o vento seguia forte nas praias, e ainda era frequente. Já a chuva foi igualmente concentrada e contínua. Em razão dela, não houve quem encontrasse disposição para realizar o conserto.

Tramandaí

Hoje foi possível avaliar os prejuízos após a queda, na noite de terça, de parte do telhado do Hospital Tramandaí, referência para o Litoral Norte. Não houve feridos na ocorrência e, ao todo, 18 pacientes das alas Covid-19 e cirúrgica foram remanejados para outras áreas. As cirurgias eletivas foram canceladas, mas as de urgência e emergência seguem. 

"Após o destelhamento, criamos um grupo no WhatsApp com representantes da comunidade, empresários, prefeituras de Imbé e Tramandaí, para fazermos uma força de trabalho e reconstruirmos o telhado", diz Roger Vinicius Rosa Esteves, gerente administrativo do hospital. O prefeito de Arroio do Sal e presidente da Associação dos Municípios do Litoral Norte (Amlinorte), Affonso Angst, afirmou que a entidade também buscará uma forma de auxiliar Tramandaí, assim como já fez, por exemplo, com hospitais da região com recursos no período da pandemia. 

Também em Tramandaí, grande parte da cidade ficou sem luz, inclusive a área central, cujo fornecimento retornou no meio da madrugada. Pelo menos duas árvores caíram próximas a residências e ao menos uma atingiu um carro em um pátio. Ruas também alagaram. No outro lado da ponte, o vice-prefeito de Imbé, Régis Cacetinho, disse que não houve estragos significativos, à exceção da queda de algumas telhas em residencias. No entanto, houve diversos registros de falta de luz.


Grande parte da cidade de Tramandaí ficou sem luz | Foto: Matheus Piccini

Osório

Osório teve um cenário igualmente preocupante. Árvores caíram em diversos pontos dentro e fora da cidade, como na ERS 030, assim como portões na área urbana e até uma placa de publicidade, removida pelo Corpo de Bombeiros da esquina das ruas Marcílio Dias e Santos Dumont, bairro Sulbrasileiro. Galhos se espalharam pelas ruas desertas, e a cidade amanheceu hoje sem energia elétrica.

Capão da Canoa

Em Capão da Canoa, parte da lateral do telhado do CRAS Arco-Íris, no bairro de mesmo nome, cedeu. Algumas telhas caíram para dentro de uma sala, outras voaram para o pátio. O forro de PVC também se soltou. Não havia atendimentos no local no momento da ocorrência e tampouco os mesmos foram suspensos no prédio, somente na sala afetada, que foi isolada. A cidade também registrou quedas de tapumes e alagamentos em diversas esquinas.


Tapumes de uma obra no Centro de Capão da Canoa foram arrancados com a força do vento | Foto: Matheus Piccini

Xangri-Lá

A água do mar bateu forte na Plataforma Marítima de Atlântida, em Xangri-Lá. Reflexos da ressaca que estaria por chegar à noite, com potencial de ondas de até 4 a 5 metros de altura, confirme a MetSul Meteorologia, citando informes da Marinha. Os funcionários, no entanto, pareciam tranquilos, dizendo que o local "já havia recebido ondas piores".

Pinhal

No Balneário Pinhal, o maior problema foi relacionado à fiação de energia. Em um trecho da Avenida Itália, uma das principais do município, fios caíram sobre a via e interromperam o trânsito de veículos nesta quarta. O Corpo de Bombeiros Voluntários auxiliou na remoção do material e isolamento da área. Um poste também ficou dependurado.

Mostardas e Tavares

A preocupação foi ainda maior em Mostardas e Tavares, cidades onde a energia faltou ainda na tarde de terça, segundo os moradores, e não havia retornado ao menos até a tarde de hoje. Por isso, no escuro e temendo a ventania intensa, os moradores e comerciantes precisaram improvisar.

Um ao lado do outro, uma padaria e um mercado na Avenida 11 de Abril, no Centro de Tavares, por exemplo, eram dois dos poucos locais ainda funcionando normalmente dentro do possível, já que dois geradores haviam sido adquiridos previamente. "Compramos porque roubavam muitos fios fora da cidade, e ficávamos no prejuízo quando faltava luz", comentou a gerente do mercado, Sonya Camargo. A máquina fica nos fundos, longe do perigo dos ventos, e fez a diferença para seu negócio.

"Estamos em contato com a CEEE Equatorial em busca de uma solução rápida", diz Angst, da Amlinorte. Até esta quarta, no entanto, não havia uma previsão de retorno da luz. Dentre as várias equipes da concessionária localizadas pela reportagem no decorrer do trajeto até as cidades, uma delas chegou a informar que havia 15 mil clientes sem energia em ambas, inclusive distritos. Nas duas cidades, os sinais de telefonia móvel e Internet também era precário ou inexistente, praticamente isolando as duas comunidades do resto do mundo.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895