Após EUA, Guatemala inaugura embaixada em Jerusalém

Após EUA, Guatemala inaugura embaixada em Jerusalém

Liderança palestina acusou governo guatemalteco de se colocar ao lado de Israel

AFP

Após EUA, Guatemala inaugura embaixada em Jerusalém

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A Guatemala inaugurou nesta quarta-feira em Jerusalém sua nova embaixada em Israel, seguindo o passo dos Estados Unidos em um processo de ruptura diplomática que ulcera os palestinos. Desta forma, a Guatemala tornou-se o segundo país a transferir sua representação diplomática para Jerusalém. Seu presidente Jimmy Morales e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, inauguraram a nova embaixada em uma torre moderna e excêntrica do sul de Jerusalém.

A liderança palestina acusou o governo guatemalteco de se colocar ao lado dos "crimes de guerra israelenses". Menos de 48 horas após a controversa abertura da embaixada dos Estados Unidos, que coincidiu com um verdadeiro banho de sangue na Faixa de Gaza, o país centro-americano de cerca de 16 milhões de pessoas, cuja embaixada se encontrava em Herzliya, perto de Tel Aviv, também rompeu com décadas de consenso internacional.

A cerimônia, no terceiro andar do edifício, não contou com o mesmo esquema de segurança daquele mobilizado na segunda. A dezenas de quilômetros de distância, a Faixa de Gaza estava calma após a violência na segunda com o Exército israelense ao longo da fronteira, que deixou quase 60 palestinos mortos.

"Israel, uma chama"


"Não é uma coincidência que a Guatemala esteja entre os primeiros a abrir sua embaixada em Jerusalém - vocês sempre estiveram entre os primeiros", especialmente para reconhecer Israel em 1948, declarou Netanyahu. Jerusalém e muitas cidades em Israel têm uma rua chamada Guatemala "porque não nos esquecemos quem são os nossos amigos, e a Guatemala é nossa amiga, hoje como ontem", proclamou David Friedman.

Morales observou que a inauguração coincidia com o 70º aniversário da proclamação do Estado de Israel em 14 de maio de 1948. "Há 70 anos, decidimos apoiar e ser amigos de Israel, e estamos demonstrando isso de novo hoje", ressaltou. Ele expressou sua admiração por Israel, "uma chama de esperança para países ao redor do mundo", e exaltou o vínculo entre seu país, Israel e os Estados Unidos, "três amigos que demonstram sua amizade, coragem e lealdade".

A decisão de Morales é criticada em seu país como uma promessa aos Estados Unidos. Também é interpretada como relacionada à religião do presidente, um evangélico protestante. Os evangélicos, como o vice-presidente americano Mike Pence, teriam influenciado fortemente a decisão polêmica do presidente Trump de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, o que resultou na transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém. Os evangélicos apoiam Israel fervorosamente porque querem ver os judeus reconstruírem seu templo em Jerusalém, o que deveria facilitar o retorno de Cristo de acordo com suas crenças.

Antes do Paraguai

O governo guatemalteco "se posiciona ao lado de Israel e de seus crimes de guerra em desprezo do direito internacional, e apoia a ocupação militar e a anexação ilegal de Jerusalém", reagiu a líder palestina Hanane Achraui. A inauguração da embaixada americana coincidiu com manifestações violentas na Faixa de Gaza, um território palestino onde dezenas de milhares de pessoas protestaram contra a iniciativa unilateral dos Estados Unidos, contra o bloqueio imposto por Israel ao enclave e pelo "direito de retorno" dos refugiados palestinos.

Neste contexto, a direção palestina com base na Cisjordânia ocupada anunciou nesta quarta-feira que convocou para consultas seus embaixadores em quatro países da União Europeia que enviaram representantes à cerimônia israelense por ocasião da abertura da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém. Os quatro países são Áustria, Hungria, República Tcheca e Romênia, informou o ministério palestino das Relações Exteriores.

Quase 60 palestinos foram mortos neste dia, o mais mortífero do conflito entre israelenses e palestinos desde a guerra em Gaza em 2014. Em Israel, muitos veem a decisão americana como reconhecimento de uma realidade histórica de 3.000 anos para o povo judeu. Para os palestinos, por outro lado, representa o ápice da postura pró-israelense adotada por Trump.

Também enxergam nessa atitude a negação de suas reivindicações sobre Jerusalém Oriental, futura capital do Estado ao qual aspiram. Israel tomou o Jerusalém Oriental em 1967 e anexou esta parte da cidade a seu território. Mas para a comunidade internacional, Jerusalém Oriental é um território ocupado e as embaixadas não devem se estabelecer na cidade até que seu status seja resolvido por meio de negociações entre as duas partes.

A transferência da embaixada americana ainda não provocou o efeito cascata esperado por Israel. Somente a Guatemala e o Paraguai estão firmemente comprometidos em mudar sua missão diplomática.

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