Covid-19 causou choque sem precedentes aos trabalhadores de países menos desenvolvidos, diz OIT

Covid-19 causou choque sem precedentes aos trabalhadores de países menos desenvolvidos, diz OIT

"Centenas de milhões de pessoas perderam seus empregos, ou viram sua renda cair", alerta o diretor-geral da OIT, Guy Ryder

AFP

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Perda de renda, desnutrição: a pandemia da Covid-19 teve consequências "dramáticas" para os trabalhadores, muitas vezes informais, nos países menos desenvolvidos - indica um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado nesta sexta-feira. "Em comparação com os países desenvolvidos, os impactos socioeconômicos da pandemia foram muito mais dramáticos do que suas consequências sanitárias nos países menos desenvolvidos (PMDs)", diz a OIT.

Totalizando 46, esses Estados predominantemente africanos e asiáticos são caracterizados por baixos níveis de renda e por alta vulnerabilidade econômica e ambiental. Nos PMDs, a taxa de emprego caiu 2,6 pontos percentuais entre 2019 e 2020, chegando a 61,4% dos trabalhadores em tempo integral entre a população em idade ativa. Nos países desenvolvidos, a taxa de emprego, já em patamar mais baixo, caiu de forma bem menos acentuada (-1,9 ponto para 55,4%).

"Centenas de milhões de pessoas perderam seus empregos, ou viram sua renda cair", alerta o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, no prefácio do relatório. "No entanto, mesmo algumas semanas sem renda têm sérias consequências econômicas para as pessoas que trabalham no setor informal, com pouco dinheiro de reserva e sem acesso à licença médica remunerada, ou ao teletrabalho", continua.

Queda da renda

Neste contexto, a dimensão do choque no mercado de trabalho dos PMDs é explicada, em particular, pelos confinamentos. Estas medidas de combate à pandemia "atingiram duramente os setores onde se concentram os empregos informais: comércio, alimentação, transportes, serviços pessoais e trabalho doméstico", observa a OIT.

Nos países menos desenvolvidos, 96% dos empregos nos setores agrícola, florestal e pesqueiro são informais. O número sobe para 88,1% no atacado e no varejo, e para 87,4%, no transporte e armazenagem. Mais do que a perda de empregos, porém, os trabalhadores dos países menos desenvolvidos sofreram, sobretudo, com a queda de sua renda. Em alguns países, como Uganda e Iêmen, de 80% a 90% dos entrevistados dizem que sofreram "perda significativa de renda" em relação à crise.

Na indústria de vestuário haitiana, 91% dos 3.300 trabalhadores ouvidos em dezembro de 2020 afirmaram que foram obrigados a reduzir o número de refeições, ou a quantidade de alimentos consumidos em cada refeição, "por causa da alta dos preços dos alimentos, ou da queda na renda familiar".

Pior para as mulheres

Já muito menos presentes do que os homens no mercado de trabalho, as mulheres foram particularmente afetadas pelas consequências econômicas da Covid-19. Entre 2019 e 2020, a taxa de emprego das trabalhadoras femininas caiu 2,8 pontos nos PMDs, em comparação com apenas 2,4 pontos para os homens. No final de 2020, pouco mais de uma em cada duas mulheres (50,9%) tinha um emprego em tempo integral, em comparação com 72,3% dos homens.

Sua baixa participação no mercado de trabalho pode ser explicada pelas "responsabilidades familiares" que lhes são atribuídas. Além disso, as "normas sociais", que regem o casamento para as mulheres, seu acesso à educação, ou ao mercado de trabalho, também desempenham um papel nessa dinâmica.

Teletrabalho... sem Internet ?

Em seu relatório, a OIT finalmente observa que, enquanto as ruas das cidades europeias se esvaziaram repentinamente no início da pandemia, isso foi menos verdadeiro nos PMDs. Apesar das restrições ligadas à Covid-19, "os trabalhadores autônomos, pagos por diária, ou pouco qualificados permaneceram ativos", destaca a organização com sede em Genebra.

Dado que apenas uma em cada cinco pessoas nos PMDs tinha acesso real à Internet em 2017, trabalhar de casa "simplesmente não era uma opção" para a maioria delas. De acordo com dados de GPS usados pela OIT, em abril de 2020, os deslocamentos individuais em países de baixa renda caíram 30% em relação a janeiro de 2020, ou seja, metade do que em Estados de rendas média, ou alta, onde a mobilidade caiu de 50% a 60%.


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