Decisão dos EUA sobre colônias é celebrada por israelenses e condenada por palestinos

Decisão dos EUA sobre colônias é celebrada por israelenses e condenada por palestinos

A medida vai na contramão de resoluções do Conselho de Segurança da ONU

AFP

Na foto, o assentamento israelense de Revava

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A decisão dos Estados Unidos de deixar de considerar a colonização israelense contrária ao Direito Internacional foi recebida como uma vitória por Israel e como um forte golpe pelos palestinos, o que dividiu ainda mais os protagonistas de um conflito sem saída no curto prazo.

A classe política israelense, uma grande parte da imprensa e os habitantes das colônias israelenses celebravam, nesta terça-feira (19), após o anúncio do governo de Donald Trump sobre as colônias em Territórios palestinos ocupados. Essa decisão "reflete uma verdade histórica - que os judeus não são colonizadores estrangeiros na Judeia e na Samaria [nome bíblico usado em Israel para designar a Cisjordânia ocupada]", declarou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Após ter reconhecido Jerusalém como capital de Israel e a parte síria das Colinas de Golã como israelense, a Casa Branca considera agora que as colônias israelenses em territórios palestinos "não são contrárias ao Direito Internacional". Washington muda, assim, não apenas sua política, mas se coloca na contramão das resoluções do Conselho de Segurança da ONU, como a 2334, que considera as colônias uma "violação do Direito Internacional Humanitário" e compromete a viabilidade da solução de dois Estados.

Embora a colonização, por parte de Israel, da Cisjordânia e de Jerusalém tenha se mantido sob todos os governos israelenses desde 1967, ela se acelerou nos últimos com o impulso de Netanyahu e de seu aliado Trump. Hoje, mais de 600.000 israelenses coexistem, conflituosamente, com cerca de três milhões de palestinos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, a parte palestina da cidade ocupada e anexada por Israel.

"Apesar da alegria que esta decisão provoca em Israel, esta importante decisão é, antes de tudo, simbólica e não será, certamente, seguida pelo restante da comunidade internacional", escreve em sua edição desta terça o jornal israelense de grande circulação "Yediot Aharonot". "Dito isso, esta decisão pode ser entendida por Israel como um sinal verde para continuar a expansão das colônias e avançar com seu projeto de anexação", acrescentou.

Em setembro passado, Netanyahu prometeu anexar rapidamente o Vale do Jordão, território estratégico que representa cerca de 30% da Cisjordânia ocupada, caso continuasse no poder. O anúncio de Washington ocorre justo no momento em que o rival de Netanyahu, o ex-chefe do Exército Benny Gantz, também favorável à anexação do Vale do Jordão, tem até esta quarta para tentar compor o novo governo.

Para formar um governo sem o apoio de Netanyahu, Gantz deve contar no mínimo com o apoio dos deputados árabes. Embora tenha elogiado o "apoio sólido" de Washington, os partidos árabes-israelenses condenaram-no.

Amargura em Ramallah

As autoridades palestinas criticaram a decisão do governo Trump, o qual também espera a formação de um novo governo em Israel para anunciar seu projeto de paz para o Oriente Médio. "Começamos conversas na ONU para apresentar um projeto de resolução ao Conselho de Segurança. Esperamos um veto de Washington, mas vamos seguir em frente", declarou nesta terça o chefe negociador dos palestinos, Saeb Erekat.

Em uma entrevista coletiva em Ramallah, sede da Autoridade Palestina, Erekat acrescentou: os Estados Unidos "querem nos ver de joelhos... Mas vamos nos manter de pé". O anúncio de Washington "confirma" que a administração Trump "é uma ameaça para a paz internacional, porque é cúmplice dos crimes de Israel", comentou Hanane Achraoui, dirigente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

Para Ofer Zalzberg, analista do International Crisis Group, palestinos, países árabes e europeus "perdem a fé" nos Estados Unidos como "mediador" do conflito entre palestinos e israelenses. "O governo Trump tenta destruir o consenso internacional (sobre as colônias). Mas isso não deveria mudar a situação no terreno", acrescentou.


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