Equador decreta estado de exceção por alta de combustíveis

Equador decreta estado de exceção por alta de combustíveis

Greve dos transportes denuncia aumento de até 123% nos preços

AFP

País enfrenta protestos e aumento na violência e criminalidade em virtude da crise

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O Equador entrou em estado de exceção nessa quinta-feira por ordem do governo, em meio a uma greve dos transportes e de protestos devido à forte alta de até 123% no preço dos combustíveis. O governo de Lenín Moreno está no centro da revolta popular por conta do desmonte dos subsídios ao diesel e à gasolina em função de um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e que levaram ao aumento das tarifas de até 123%.

Greves, manifestações, ataques a caixas automáticos, e saques a supermercados e lojas se multiplicaram na última quinta-feira, deixando dezenas de feridos. "Até o momento temos 21 policiais feridos, e 277 detidos por atos de vandalismo e atentado contra a propriedade", informou o ministro da Defesa, Oswaldo Jarrín, na noite passada.

O Serviço de Gestão de Riscos comunicou 14 civis feridos durante os incidentes. Os trabalhadores dos transportes assinalaram que manterão por tempo indeterminado a greve deflagrada na quinta-feira, após o forte aumento nos preços dos combustíveis. "Confirmamos que vamos manter a medida indefinidamente", disse Carlos Brunis, líder dos taxistas de Quito, sobre a greve.

Encurralado, Moreno decidiu recorrer à medida de exceção para "evitar o caos". "Determinei o estado de exceção em nível nacional", disse o presidente à imprensa, após liderar uma reunião de gabinete. "Foram controlados quase todos os focos de violência gerados", disse Lenín Moreno no início da noite, em Guayaquil, ao final do primeiro dia de uma greve nacional dos transportes, que qualificou de "golpista" e voltada para desestabilizar seu governo.

A princípio, a medida - que lhe permite restringir direitos como o de livre circulação, empregar a força armada para o controle público ou impor a censura prévia à imprensa - estará em vigor durante 60 dias, segundo o governo. O Executivo enfrenta as primeiras consequências do convênio assinado em março com o FMI para obter créditos diante do elevado endividamento público da economia dolarizada.

Os meios de transporte pararam em vários pontos e universitários saíram às ruas em Quito no âmbito da maior greve no Equador desde a chegada da esquerda ao poder em 2007. As manifestações levaram a fortes confrontos entre policiais e manifestantes, perto da sede do governo. Os agentes lançaram bombas de gás lacrimogênio contra as pessoas que protestavam fechando vias com pneus incendiadas.

Protestos sociais no Equador levaram a queda de três mandatários entre 1996 e 2007, período em que o país teve sete presidentes. Em Caracas, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, se solidarizou com os manifestantes. "Basta de Pacotaços do FMI! Chega de Miséria! #FuerzaEcuador (ForçaEquador)", escreveu no Twitter.

Prova de resistência

Na quinta-feira também foram suspensas as aulas no país, e as escolas permanecerão fechadas na sexta. Em Quito, os ônibus e táxis pararam de circular. O mesmo ocorreu em outras cidades, em protesto pelo aumento dos combustíveis que eram os mais baratos e utilizados em Equador.

O galão americano de diesel passou de 1,03 dólar a 2,30 dólares, e o de gasolina foi de 1,85 dólar a 2,40, no último dia 3, portanto organizações de indígenas e sindicais também pretendem protestar contra o governo. Moreno, que culpa a piora das finanças públicas a seu antecessor e ex-aliado Rafael Correa (2007-2017), enfrenta um teste duro.

"Eu esperaria que esses protestos não tenham pressão (suficiente) para que o governo volte atrás nas medidas. Vamos esperar que não, porque seria um sinal de fraqueza enorme do governo, que implicaria em problemas maiores dos que o que ele está tentando resolver", disse o cientista político Santiago BAsabe, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) de Quito.


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