Europa envia líderes para a Turquia por imigração

Europa envia líderes para a Turquia por imigração

Dezenas de milhares de pessoas se dirigiram para a Grécia desde que Erdogan ordenou a abertura das fronteiras de seu país

AFP

Situação na fronteira greco-turca se intensificou nos últimos dias

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A União Europeia (UE) enviou nesta terça-feira seus representantes para a Turquia e a Grécia, num momento de crescente preocupação com o novo afluxo de migrantes, após a decisão de Ancara de abrir as fronteiras. Josep Borrell passará dois dias em Ancara acompanhado do comissário europeu de gestão de crises, Janez Lenarcic, e terá reuniões com o "nível mais alto".

Dezenas de milhares de pessoas se dirigiram para a Grécia desde que o presidente Recep Tayyip Erdogan ordenou na sexta-feira a abertura das fronteiras de seu país, despertando na Europa a memória da crise migratória de 2015. Para muitos observadores, a Turquia tenta pressionar a Europa para obter mais apoio na Síria, onde quase um milhão de deslocados estão reunidos em sua fronteira e onde Ancara luta contra o regime de Bashar al-Assad.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que viajou a Jastanies, na fronteira greco-turca, endureceu seu tom. "Quem procura colocar à prova a unidade europeia vai se decepcionar", afirmou ao lado do primeiro ministro grego, Kyriakos Mitsotakis. Von der Leyen prometeu "700 milhões de euros", metade deles imediatamente, à Grécia para gerir a nova onda migratória e garantiu que Atenas receberá "toda a ajuda necessária".

O chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, classificou a decisão de Ancara como uma "chantagem", e o chefe do governo austríaco Sebastian Kurz denunciou nesta terça-feira um "ataque à União Europeia e à Grécia", no qual "os seres humanos são usados para pressionar" o Velho Continente.

A situação na fronteira greco-turca se intensificou nos últimos dias, com confrontos entre policiais gregos, disparando gás lacrimogêneo e usando canhões de água, e migrantes, respondendo com pedras. Milhares de migrantes passaram outra noite perto do posto de fronteira de Pazarkule (Kastanies, lado grego), às margens do rio Evros, que separa os dois países.

A AFP ouviu refugiados sírios que acusaram o exército turco de empurrá-los para a fronteira grega. "Eles nos deixaram à margem do rio e nos disseram: 'Vão!' Nos deixaram sozinhos. Era o exército turco", disse Taisir, de 23 anos, um sírio de Damasco refugiado em Istambul há cinco anos. Esta madrugada, homens, mulheres e crianças tentavam se aquecer nas fogueiras e comiam refeições distribuídas por voluntários, constataram repórteres da AFP.

No lado grego, guardas encapuzados e armados patrulhavam o rio para interceptar migrantes, enquanto outros observavam a área de uma torre de vigia. Pequenos grupos de migrantes caminhavam ao longo do Evros em busca de uma brecha, e alguns barcos faziam a travessia entre as duas margens. Mas, depois de vários dias de espera, alguns migrantes, que pensavam que poderiam facilmente atravessar a fronteira, pareciam prestes a desistir.

Um homem afegão contou que um amigo conseguiu atravessar o rio, mas foi parado pela polícia. "Eles pegaram tudo dele, seu dinheiro, seus sapatos e o mandaram de volta para cá", disse. Frente a esta situação, que considerou uma "invasão", a Grécia disse que espera um "forte apoio" da União Europeia.

A Turquia busca apoio dos países ocidentais na ofensiva na Síria contra o regime, onde sofreu fortes abalos nas últimas semanas. Uma delegação americana, integrada pelo enviado para a Síria, James Jeffrey, e a embaixadora ante a ONU, Kelly Craft, entre outros, foram nesta terça-feira à fronteira turco-síria expressar sua solidariedade com Ancara.


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