Franceses voltam às ruas contra reforma da Previdência

Franceses voltam às ruas contra reforma da Previdência

Novas negociações entre o governo e os sindicatos foram marcadas para sexta-feira

AFP

Desde segunda-feira, 70.000 aderiram à greve em todo país

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Professores, advogados, médicos e funcionários ferroviários saem às ruas nesta quinta-feira na França para pressionar o presidente Emmanuel Macron a recuar em sua controversa reforma previdenciária após mais de um mês de greves e mobilizações. Iniciado há mais de um mês, o impasse entre os sindicatos de protesto e o governo não parou.

Segundo os sindicatos, 800.000 pessoas se manifestaram em toda a França, fora de Paris. De acordo com o Ministério do Interior, 452.000 pessoas se manifestaram em toda a França na quinta-feira, incluindo 56.000 em Paris. Na capital, o sindicato da CGT, liderando a disputa, identificou 370.000 pessoas na manifestação, organizada no 36º dia de greve.

"Aposentadoria por pontos: todos perdedores! Aposentadoria aos 60 anos: todos os vencedores! Macron, retire seu plano", proclamavam. Na mira dos manifestantes também estava o organismo de gestão de ativos americano BlackRock, acusado de querer tirar vantagem dessa reforma e representado na forma de abutres.

Em Paris, Gilles Boehm, um engenheiro aposentado de 70 anos, protesta contra um projeto que "criará uma aposentadoria básica fraca, para que aqueles que podem se dar ao luxo de investir em um fundo privado. O que me mata são a violência e a surdez do governo. Macron tem apenas 40 anos, mas nunca vi um reacionário parecido", comentou.

Com a promessa de criar um sistema "mais justo" em que cada euro cotado gere os mesmos direitos para todos, o presidente francês quer unificar o sistema de aposentadoria do país, onde coexistem atualmente 42 regimes diferentes. Também pretende aumentar a idade para receber aposentadoria integral, de 62 para 64 anos, uma "linha vermelha" para os sindicatos, que consideram essa medida "injusta e injustificada". "Para nós, pessoal de saúde, no hospital, como no Ehpad (instituições para idosos), é completamente impossível trabalhar até 64 anos", disse à AFP Morgane Henry , de 41 anos, que participou da manifestação em Lyon (centro-leste).

Perturbações na sexta-feira

O Executivo promete um dispositivo "mais justo", mas os oponentes temem uma saída posterior e aposentadorias mais baixas. Essa reforma é uma medida emblemática do mandato de cinco anos do presidente Emmanuel Macron. Até agora, o Executivo demonstrou sua determinação em realizá-lo.

Em 5 de dezembro, no primeiro dia da greve nacional contra a reforma, mais de 800.000 pessoas foram às ruas em todo país em rejeição ao projeto. Essa nova convocação, a quarta em pouco mais de um mês, será crucial. Depois de mais de um mês de manifestações e greves, principalmente nos transportes, o apoio à mobilização começou a cair. Segundo uma pesquisa, pouco mais de 60% da população francesa continua apoiando os manifestantes, 5 pontos a menos do que em meados de dezembro.

A questão da Previdência é delicada na França, que tem um sistema considerado, até agora, um dos mais protetores do mundo. A companhia ferroviária nacional, SNCF, pediu aos moradores da região de Paris que optem por outros meios de locomoção nesta quinta-feira. Apenas um em cada três trens suburbanos funcionará, e uma afluência significativa nas estações pode ser "perigosa". "Para a segurança de todos, e na medida do possível, a SNCF recomenda não ir às estações e usar outras soluções de transporte, como o compartilhamento de carros", afirmou a empresa.

O trânsito será perturbado na sexta-feira, com 60% dos trens regionais e quatro trens de alta velocidades de cinco em circulação, segundo a SNFC. Também estão previstas fortes perturbações nos trens de longa distância que conectam as principais cidades da França: nos Thalys, que conectam Paris à Bélgica, à Holanda e à Alemanha; e no Eurostar, que vai a Londres. A maioria das linhas do metrô de Paris opera apenas nos horários de pico, assim como os ônibus.

Na falta de transporte público, muitos parisienses têm optado por ir para seus locais de trabalho, ou estudar, de bicicleta, ou a pé. Após 36 dias de greve ininterrupta, a paralisação nos transportes bate recordes. É a mais longa desde a criação da companhia ferroviária francesa em 1938.

Também são esperados distúrbios na aviação, bem como nas refinarias, várias das quais votaram a favor de uma greve até o final da semana, provocando temores de falta de combustível. Muitas escolas também amanheceram fechadas.

A Torre Eiffel, um dos monumentos mais visitados do mundo, não abrirá suas portas ao público, porque uma parte de seus trabalhadores está em greve. Os advogados, que com o projeto Macron perderão seu regime de aposentadoria autônomo, também estarão mobilizados.

Desde segunda-feira, 70.000 aderiram à greve em todo país. As negociações entre o governo e os sindicatos estão estagnadas. Na terça-feira, dia em que as discussões foram retomadas após as festas de final de ano, ambas as partes permaneceram firmes em suas posições. Novas negociações foram marcadas para sexta-feira.


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