Frio e tensões geopolíticas fazem preço do gás europeu bater novo recorde

Frio e tensões geopolíticas fazem preço do gás europeu bater novo recorde

Preços à vista são sete vezes mais elevados do que no início do ano

AFP

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Os preços do gás na Europa e no Reino Unido dispararam, nesta terça-feira, atingindo um recorde histórico, pressionados pela demanda em meio ao frio intenso do inverno (verão no Brasil), além de tensões geopolíticas entre a Rússia, um fornecedor-chave, e os países consumidores. "O gás natural europeu continua sua inexorável alta", observaram analistas do Deutsche Bank, devido às "temperaturas que continuam caindo na Europa no início do inverno e à ausência de reservas da Gazprom (gigante russa do gás) para ter capacidade suplementar em janeiro do gás que transita pela Ucrânia".

O preço de referência europeu, o TTF holandês, subiu 20% às 12h GMT (9h no horário de Brasília). Chegou a 175 euros por megawatt-hora, batendo o recorde anterior estabelecido em 6 de outubro.

O gás britânico para entrega em janeiro também alcançou um novo recorde de 435 centavos de libra por termia (th, uma unidade de medida de calor), seguindo uma tendência de alta do dia anterior. Estes níveis de preços à vista são sete vezes mais elevados do que no início do ano. Para alguns analistas, o patamar dos preços reflete a forte demanda, à medida que as temperaturas caem e crescem os temores sobre a oferta, já que um terço do gás vem da Rússia.

Gasoduto sob pressão

Os preços sobem devido ao aumento das tensões na fronteira da Rússia e da Ucrânia, explicaram vários especialistas do mercado. Os países ocidentais acusam Moscou de aumentar seu contingente na fronteira com a Ucrânia, com o objetivo de lançar uma possível operação militar.

A Rússia rejeita a acusação e denuncia como uma ameaça o fato de a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) armar a Ucrânia e multiplicar a mobilização de meios aéreos e marítimos na região do mar Negro. A mudança de tom de Berlim sobre o controverso gasoduto Nord Stream 2 também preocupa os investidores, já que este trajeto permitiria evitar ter de atravessar a Ucrânia. Por esta rota, passa uma grande quantidade do gás russo comprado pela União Europeia.

A ex-chanceler alemã Angela Merkel sempre defendeu o projeto, mas o novo governo alemão do social-democrata Olaf Scholz é menos conciliador, e seu ministro da Economia, o ambientalista Robert Habeck, alertou para as "consequências" para o gasoduto, em caso de um ataque russo contra a Ucrânia. O projeto de 10 bilhões de euros (US$ 12 bilhões) foi prejudicado por anos de atrasos e gera constantes críticas tanto dos aliados do leste da Alemanha como dos Estados Unidos. Neste contexto, cada declaração dos chefes da diplomacia gera uma onda de compras no mercado do gás.

Além disso, as reservas de gás na Europa ficaram mais reduzidas por um inverno prolongado em 2020, e houve uma menor contribuição do mercado de energia renovável, devido a fatores meteorológicos. O aumento impacta o mercado elétrico, especialmente no Reino Unido, onde a produção de energia depende muito do gás e das renováveis. Em países como França, a energia nuclear é predominante na geração de eletricidade.


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