Gasoduto teuto-russo Nord Stream 2 é concluído após anos de tensão

Gasoduto teuto-russo Nord Stream 2 é concluído após anos de tensão

Durante anos, o projeto provocou apreensão na Europa e nos Estados Unidos

AFP

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A Rússia anunciou nesta sexta-feira (10) que concluiu a obra do polêmico gasoduto Nord Stream 2, que fornecerá gás russo para a Alemanha e que, segundo os críticos, deixará os países europeus mais dependentes de Moscou. O CEO da Gazprom, Alexei Miller, "declarou que esta manhã, às 8h45, no horário de Moscou (2h45 de Brasília), a construção do gasoduto Nord Stream 2 se foi totalmente concluída", afirmou o grupo estatal russo. Para a Rússia, o anúncio é um triunfo, depois que as tensões diplomáticas despertadas por este projeto de 10 bilhões de euros (US$ 11,8 bilhões) se tornaram tão intensas em um determinado momento que alguns duvidaram da conclusão das obras.

Para os críticos, porém, tanto na Europa como nos Estados Unidos, o gasoduto aumentará a dependência energética europeia da Rússia, considerada um rival estratégico por muitos países ocidentais. Também representa uma traição os interesses da Ucrânia, um aliado ocidental diante de Moscou. Após o anúncio, a presidência ucraniana afirmou que o país "lutará contra este projeto político russo até o fim e, inclusive, depois que começar o fornecimento de gás".

Em Moscou, a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, elogiou uma das "maiores construções energéticas do mundo". Ela disse ainda que o fornecimento de gás pode começar antes do fim do ano, caso a agência reguladora alemã autorize. Também o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, pediu que o gasoduto entre em funcionamento "o mais rápido possível".

O dobro do abastecimento 

O Nord Stream 2 dobrará o fornecimento de gás russo para a Alemanha, principal promotora do projeto. O projeto terá que lidar, porém, com as novas regras da União Europeia (UE) sobre transporte de gás, contra as quais a Gazprom apresentou recursos.

Com capacidade de 55 bilhões de metros cúbicos de gás por ano, o gasoduto percorre 1.230 quilômetros sob o Mar Báltico, seguindo o mesmo trajeto de seu irmão gêmeo Nord Stream 1, ativo desde 2012. Durante anos, o projeto provocou tensões entre Alemanha e Estados Unidos, mas também dentro da Europa. A chegada de Joe Biden à Casa Branca favoreceu o entendimento com a Alemanha neste tema e encerrou as tensões.

O gasoduto também tem consequências para a Ucrânia, pois pode privar o país de pelo menos US$ 1,5 bilhão por ano que o país recebe atualmente pelo trânsito do gás russo por seu território para a Europa. Além disso, o governo ucraniano teme que o país fique mais vulnerável diante de Moscou.

Arma geopolítica 

Criticada pelo tema, a chanceler alemã, Angela Merkel, destacou no fim de agosto que seu país fará todo possível para que o contrato de transporte de gás entre Rússia e Ucrânia, que expira em 2024, seja prolongado. Também insistiu em que Moscou não deve usar a questão energética como uma "arma".

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, já declarou que o Nord Stream 2 pode ser uma "arma geopolítica perigosa". O projeto foi financiado por cinco grupos europeus do setor de energia: OMS, Engie, Wintershall Dea, Uniper e Shell. Os países europeus estão divididos. A Polônia e os países bálticos expressaram preocupação de que a UE acabe cedendo às ambições russas.

No bloco, a Alemanha é a principal incentivadora do gasoduto. Segundo Berlim, trata-se de um projeto sobretudo econômico, que ajudará o país a cumprir seus planos de transição energética. Mas nem mesmo na Alemanha o Nord Stream 2 é unanimidade.

Desde o início, o governo dos Estados Unidos expressou sua discordância sobre o Nord Stream 2, ao apontar que o gasoduto poderia enfraquecer a Ucrânia e reforçar os interesses da Rússia, no momento em que os americanos desejam vender gás de xisto aos europeus. Em 2019, o governo do então presidente americano, Donald Trump, aprovou uma lei para impor sanções às empresas envolvidas no projeto.

Por conta da lei, as obras, iniciadas em 2018, foram interrompidas em dezembro de 2019, quando restava apenas a instalação de 150 quilômetros do gasoduto em águas da Alemanha e da Dinamarca. Os trabalhos foram retomados um ano depois.

Joe Biden desistiu de bloquear o projeto por considerar que era tarde demais e que seria mais interessante apostar na aliança com a Alemanha, de quem Washington espera obter respaldo em outros temas.


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