Hostilidade marca disputa eleitoral em Hong Kong

Hostilidade marca disputa eleitoral em Hong Kong

Divisão entre campos pró-democracia e pró-Pequim se refletem em declarações de campanha

AFP

Hong Kong realiza pleito local no domingo em meio a protestos

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Os insultos e a agressividade marcaram a campanha das eleições locais em Hong Kong que acontecem no domingo e são um reflexo da divisão entre o campo pró-democrata e lado o favorável a Pequim, após meses de protestos e de violência no território semiautônomo chinês. Para Kwan Siu Lun, que se candidata pela primeira vez, fazer campanha esta semana foi uma corrida de obstáculos, inundada de insultos, ameaças e cordões de isolamento policial.

"Tento me concentrar em questões da comunidade local", disse este arquiteto de 38 anos, que se apresenta como candidato independente pró-democrata em Hung Hom, um reduto eleitoral da classe trabalhadora. No domingo, os eleitores deste território de cerca de 7,5 milhões de habitantes são esperados para eleger seus vereadores de distrito.

As eleições também serão um termômetro da popularidade da chefe do Executivo, Carrie Lam, favorável a Pequim. As eleições de distrito costumam ser uma votação muito local dominada pelos candidatos do Executivo pró-Pequim, onde se discute urbanismo, ou coleta de lixo, por exemplo.

Cinco meses após os protestos, os candidatos pró-democracia sonham com um resultado em massa a seu favor. O movimento pró-democrático precisará de uma grande participação (em 2015 chegou a 47%) para se impor nas eleições. Até agora, inscreveram-se para votar 4,1 milhões de pessoas, quase 400.000 a mais do que em 2015.

Por enquanto, não há manifestações convocadas para o domingo e circula uma mensagem pedindo aos jovens para irem cedo às urnas, que levem seus documentos de identificação e evitem "usar camisetas e máscaras pretas". O candidato Kwan Siu Lun diz, por sua vez, que tenta evitar as opiniões polêmicas. "Mas, naturalmente, alguns dos eleitores me perguntam qual é minha opinião (...) e algumas pessoas me insultaram e jogaram os panfletos no chão".

"Estas eleições, que servem para eleger 452 vereadores em 18 distritos, são o mais parecido com uma eleição direta que existe em Hong Kong. Diferentemente dos distritos, a eleição da Assembleia e do Executivo locais é muito mais indireta e influenciada por comitês pró-Pequim.

Por isso, segundo o analista político Dixon Sing, as eleições de domingo serão "uma espécie de referendo" sobre "a democracia e os conflitos entre o povo e a polícia". "Alguns eleitores favoráveis ao poder me chamam de amotinado", conta Isaac Ho, um candidato pró-democracia que se apresenta pela primeira vez em Kowloon, uma zona bastante pró-governo. "Eu lhes respondo com um sorriso", acrescentou.

"Profundamente comovido"

Os protestos dos últimos meses afetaram uma campanha eleitoral que costumava ser tranquila. Um candidato pró-democrata foi mordido na orelha, e outros 17 de todas as tendências foram detidos por atividades relacionadas com os protestos. As autoridades proibiram Joshua Wong, um dos rostos mais visíveis do movimento pró-democracia, de participar destas eleições.

Kwan Siu Lun diz que não pensava em se apresentar, mas mudou de ideia com os protestos. O movimento começou em 9 de junho contra um projeto de lei, já retirado, que autorizaria as extradições para a China continental. "Nunca pensei em me candidatar (...) Tenho um emprego e um filho recém-nascido", explica ele à AFP em uma rua onde faltam paralelepípedos, arrancados pelos manifestantes para jogá-los na polícia. Ele se sentiu "profundamente comovido" com os protestos.

Michelle Tang, uma candidata independente do campo oficialista, buscará a reeleição em Tsim Sha Tsui East, onde fica a Universidade Politécnica, centro dos protestos dos últimos dias. "Algumas lojas se negaram a pôr meus cartazes, embora no privado os proprietários me apoiem", diz a candidata. Segundo ela, os comerciantes temem provocar os manifestantes.

É difícil prever quem ganhará as eleições de domingo, mas uma vitória do campo pró-democracia seria crucial para os manifestantes. Segundo o sistema eleitoral de Hong Kong, as cadeiras nos conselhos de distrito se traduzem em 117 votos no Comitê Eleitoral, o mecanismo que permite eleger o chefe do Executivo.


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