Irã nega envolvimento em ataques a petroleiros e acusa EUA de "desestabilização"

Irã nega envolvimento em ataques a petroleiros e acusa EUA de "desestabilização"

Preços do petróleo subiram na Ásia após ataque aos navios

AFP e Correio do Povo

Emirados Árabes Unidos denunciaram "escalada perigosa", enquanto China pediu "diálogo"

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O Irã rejeitou, nesta sexta-feira, como "sem fundamentos" as acusações americanas de que seria responsável pelos ataques contra dois petroleiros na região do Golfo e acusou os Estados Unidos de serem "uma grave ameaça à estabilidade" regional e mundial. Os preços do petróleo continuavam a subir na Ásia, um dia após o ataque de quinta-feira contra dois petroleiros, um norueguês e um japonês, perto do Estreito de Ormuz, uma passagem marítima estratégica, quase um mês depois dos ataques contra quatro navios, três deles petroleiros, na costa dos Emirados Árabes Unidos.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, acusou o Irã de querer perturbar o mercado global. "O governo dos Estados Unidos acredita que a República Islâmica do Irã é responsável pelos ataques (de quinta-feira) no mar de Omã".

"O fato de os Estados Unidos aproveitarem imediatamente a oportunidade para fazer acusações contra o Irã, revela que (Washington e seus aliados árabes) passaram para o plano B: a sabotagem diplomática e maquiagem do seu #TerrorismoEconômico contra o Irã", reagiu o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif. Seu ministério considerou "infundadas" as acusações de Mike Pompeo e reiterou que o Irã, "responsável por garantir a segurança no Estreito de Ormuz", veio em auxílio aos navios em perigo e "salvou" a sua tripulação.

Pouco depois, foi a vez do presidente iraniano Hassan Rohani reagir. "Nos últimos dois anos, o governo dos Estados Unidos tem sido agressivo e representa uma séria ameaça à estabilidade na região e no mundo, violando todas as regras internacionais", disse na reunião da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) em Bishkek, Quirguistão.

O comando central americano (Centcom) publicou um vídeo em preto e branco mostrando o que apresentou como uma patrulha iraniana "retirando uma mina que não explodiu" de um dos navios na costa iraniana. O chefe do Pentágono, Patrick Shanahan, assegurou que os ataques não são um problema americano, mas mundial, e pediu um "consenso internacional" para pôr fim à situação.

O ministro das Relações Exteriores britânico, Jeremy Hunt, afirmou nessa sexta que "quase com certeza" o Irã está por trás dos ataques aos navios petroleiros. "Condeno os ataques de ontem contra dois navios no golfo de Omã. Nossa própria avaliação nos leva a concluir que a responsabilidade pelos ataques recai quase com certeza ao Irã", declarou o chefe da diplomacia britânica em comunicado.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em entrevista ao canal Fox News, também atribuiu a responsabilidade dos ataques ao Irã, citando o vídeo. "Vemos o barco, com uma mina que não explodiu e tem a assinatura do Irã", afirmou. Segundo ele, os Guardiães da Revolução "não queriam deixar nenhuma prova para trás".

"Objeto voador"

As autoridades norueguesas falaram de um ataque, relatando três explosões a bordo do petroleiro "Front Altair", de propriedade da empresa Frontline. Nenhum membro da tripulação ficou ferido. O segundo navio, o Kokuka Courageous, foi alvejado, mas toda a tripulação foi resgatada depois de abandonar o navio, e sua carga de metanol está intacta, de acordo com o seu operador japonês, Kokuka Sangyo. De acordo com relatos do proprietário do navio-tanque, a tripulação informou que viu um "objeto voador" atingir a embarcação. "Então houve uma explosão". 

Os ataques a navios petroleiros e instalações petrolíferas no Golfo podem perturbar o abastecimento do mercado global e provocar um conflito armado envolvendo o Irã, dizem analistas. Teerã e Washington estão envolvidos numa disputa de alto risco desde a retirada unilateral em maio de 2018 do governo Trump do acordo nuclear com o Irã e a reintrodução das sanções americanas contra Teerã. Sem mencionar as invectivas e ameaças mútuas dos últimos meses, bem como os reforços militares dos EUA na região.

Na quinta-feira, Zarif considerou como altamente suspeito a coincidência entre os ataques contra os navios e a visita inédita ao Irã do primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, que proclamou a vontade do seu país de fazer o possível para diminuir as tensões. O Irã também rejeitou na ONU, "nos termos mais fortes", as acusações do embaixador americano Jonathan Cohen que culpou o Irã pelos ataques evocando uma "sofisticação" e o tipo de bombas utilizadas. 

Petróleo em alta

Há um mês, os Estados Unidos acusaram o Irã de estar, "muito provavelmente", por trás da sabotagem em 12 de maio de quatro petroleiros ao largo dos Emirados Árabes Unidos, o que Teerã também negou. Uma investigação multinacional concluiu a provável responsabilidade de um "ator estatal", mas sem evidências de que se tratou do Irã, segundo os Emirados, um aliado da Arábia Saudita, rival do Irã na região.

Nesta sexta, os Emirados Árabes Unidos denunciaram uma "escalada perigosa", enquanto a China pediu "diálogo". "Esperamos que todas as partes envolvidas resolvam suas diferenças por meio do diálogo e consultas", declarou o porta-voz da diplomacia chinesa, Geng Shuang. Neste contexto, os preços do petróleo subiram na Ásia.

Por volta das 04h45 GMT (01h45 de Brasília), o barril de "light sweet crude" (WTI) para entrega em julho subia 21 centavos, a 52,49 dólares. O barril de Brent, referência europeia, para agosto, subia 44 centavos, para 61,75 dólares.


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