Israel aprova licenças para seis mil unidades habitacionais na Área C da Cisjordânia

Israel aprova licenças para seis mil unidades habitacionais na Área C da Cisjordânia

Beneficiando a segurança e os interesses estratégicos do Estado, plano prevê construção de 715 casas para palestinos "residentes nativos"

Correio do Povo

Questão foi aprovada após uma análise cuidadosa, a fim de se certificar de que não prejudicaria a segurança e os interesses dos militares israelenses

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O gabinete de segurança do Estado de Israel aprovou por unanimidade nesta terça-feira licenças de construção para 715 unidades habitacionais para palestinos vivendo na Área C da Cisjordânia, a primeira decisão deste tipo desde 2016. A medida representa uma mudança na política do governo israelense que nos últimos quatro anos não aprovou nenhuma construção para os palestinos na área. Contudo, a ideia faz parte de um plano mais amplo, que também incluiu cerca de seis mil residências para os israelenses que vivem no local e é estratégica, pois Israel é o único que anuncia planos de construção.

Estão incluídos "residentes nativos" da Área C antes de 1994, conforme definido nos Acordos de Oslo, não palestinos que desejam se mudar das Áreas A ou B. Também foi decidido que as permissões só seriam concedidas mediante planos que não contradizem de forma alguma os interesses estratégicos e de segurança de Israel, impedindo a criação de sequências territoriais e controle  desses territórios, à medida que os palestinos tentassem estabelecer-se no controle. Além disso, vários ministros exigiram que uma política deveria ser imediatamente formulada para intensificariar as atividades policiais e demolir casa ilegais.

Enquanto Israel se prepara para as eleições de setembro, vários partidos de direita prometeram impedir a expansão palestina em áreas da Cisjordânia que eles esperam que o Estado faça a anexação da Cisjordânia. Todos os ministros votaram a favor da proposta, incluindo o Ministro dos Transportes, Bezalel Smotrich, e o Ministro da Educação, Rafi Peretz, conhecidos por suas visões nacionalistas. "A construção – destinada exclusivamente a residentes árabes nativos da Área C – será conduzida de forma a beneficiar a segurança e os interesses estratégicos de Israel", disse Smotrich após a votação, conforme citado pelo jornal Haartez. 

Ele publicou no Facebook, logo após a votação, escrevendo um longo post explicando sua decisão de apoiar a proposta, que se opunha a quase todos os líderes dos colonos e até mesmo da ONG Regavim, a qual ajudou a criar. Afirmou que o gabinete está promovendo a construção de milhares de assentamentos e estimulando a presença israelense além da Linha Verde, ao mesmo tempo em que concede aos palestinos que moravam na Área C, antes dos Acordos de Oslo de 1994, “o direito de construir e desenvolver em lugares que não comprometem a colonização e a segurança e não produzem um Estado palestino de fato”.

"Um objetivo central que coloquei na minha vida pública é impedir o estabelecimento de um estado terrorista árabe no coração do país, manter toda a nossa terra Israel e desenvolver o país. Pela primeira vez o Estado de Israel vai determinar de forma clara e afiada que também os residentes originais no campo serão capazes de construir e se desenvolver apenas em locais que não prejudicam os colonos e a segurança, lugares que não servem os interesses nacionais do país. Pela primeira vez o Estado de Israel vai cumprir a sua soberania e responsabilidade por toda a área e assumir a responsabilidade pelo que não há mais promoção de planos de construção que servem à Palestina e servem aos seus interesses", escreveu, ressaltando que a medida cria um "conjunto de ferramentas de aplicação real que irá agir com o objetivo de neutralizar a Palestina".

Pressão norte-americana

Não ficou claro por que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que também é ministro da Defesa, levou o plano a uma discussão no gabinete de segurança, já que apenas sua aprovação é necessária (seguida por um órgão burocrático dentro do Ministério da Defesa) para a concessão das licenças. Contudo, a insistência do premiê em incluir centenas de unidades habitacionais para os moradores palestinos da Área C parece ter se originado da pressão exercida pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Seu assessor, Jared Kushner, e o enviado do Oriente Médio, Jason Greenblatt, devem chegar a Israel nos próximos dias, como parte de sua turnê regional destinada a promover um plano de paz dos Estados Unidos no Oriente Médio.

O projeto vai mobilizar 50 bilhões de dólares em investimentos ao longo de dez anos para os territórios palestinos e os vizinhos da Jordânia, Egito e Líbano. A parte econômica visa demonstrar o que seria possível se os israelenses e os palestinos concordassem com o plano político ainda não revelado da administração Trump sobre fronteiras, refugiados e segurança. Suas metas incluem dobrar o PIB palestino, reduzir as taxas de desemprego de 17,6% na Cisjordânia e 52% em Gaza para quase um dígito, e reduzir a taxa de pobreza palestina em 50%.


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