México vive um dia sem mulheres, em protesto contra feminicídio

México vive um dia sem mulheres, em protesto contra feminicídio

Paralisação acontece após uma enorme marcha de mulheres no domingo, que contou com ao menos 80 mil pessoas na Cidade do México

AFP

Objetivo seria mostrar a importância do trabalho das mulheres e o impacto de seu eventual desaparecimento por causa da violência

publicidade

As ruas da Cidade do México ficaram vazias de mulheres nesta segunda-feira, ausentes em escolas ou escritórios por causa de um inédito #UndíaSinNosotras (#UmdiaSemNós, em português) convocada em protesto contra o aumento de feminicídios no país.

O assassinato de uma menina de 7 anos em fevereiro, que foi abusada sexualmente, e de Ingrid Escamilla, uma mulher de 25 anos cruelmente assassinada por seu companheiro, causaram a indignação dos grupos feministas no país que no último ano registrou ao menos 1.006 feminicídios, segundo dados oficiais.

A ausência feminina foi percebida desde muito cedo, durante o fluxo matinal na capital do México. Poucas motoristas circulavam pelas principais ruas do local, onde o trânsito, geralmente caótico, se tornou muito mais fluido.

Poucas entravam nas estações de metrô em direção ao trabalho, em meio a grandes grupos de homens que também iam trabalhar, alguns usando fitas em solidariedade à causa. Alguns comércios do Centro da Cidade do México também mantinham a fita em seus vitrines pelo mesmo motivo.

"Pais e mães de família, saibam que as mulheres estão unidas em uma paralisação nacional" de mulheres, conseguia-se ler em um cartaz fora de uma escola primária no centro da capital.

Em um centro de educação pré-escolar de Polanco, uma zona exclusiva da cidade, os pais das crianças se revezavam nas tarefas desta segunda, por causa da ausência de professoras e das mães.

A paralisação acontece após uma enorme marcha de mulheres no domingo, que contou com ao menos 80 mil pessoas na Cidade do México, e dezenas de milhares em outras regiões do país. Nestas caminhadas participou um "conservadorismo disfarçado de feminismo", considerou o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, nesta segunda. Ele ainda afirmou que há mulheres que lutam de maneira legítima por seus direitos, e que existem opositores por trás dos grupo feministas.

Jornais, bancos, metrô

O jornal Reforma saiu nesta segunda-feira com o cabeçalho da sua capa na cor roxa, assim como em outros jornais os espaços nos quais escrevem colunistas ficaram em branco ou cheios de hashtags como #ParoNacionaldeMujeres e #Undíasinnosotras. Os programas matinais de rádio e televisão foram apresentados só por homens.

"No caso de algumas estações de metrô, há colegas da bilheteria que estão trabalhando" e utilizam máquinas recarregáveis para substituir o trabalho das empregadas, disse à AFP Jesús Aguilar, chefe da estação Zócalo do metrô.

Os escritórios do governo da Cidade do México, assim como algumas empresas privadas que tem uma maioria feminina entre os seus funcionários, estavam praticamente vazios. Funcionárias de grandes bancos também se uniram à paralisação. Apenas um terço das sucursais do Citibanamex abriram, enquanto a rede de sucursais do espanhol BBVA operava a 40%, segundo informou o jornal El Universal.

É uma "demonstração de como seria uma sociedade sem mulheres", disse à AFP Jorge Luna, um jovem de 21 anos, funcionário de uma cadeia de cafeterias que nessa segunda praticamente só atendeu homens. A paralisação promove uma ausência generalizada tanto do setor privado como público para mostrar a importância do trabalho das mulheres e o impacto de seu eventual desaparecimento por causa da violência.

"Las Brujas del Mar", um pequeno coletivo feminista de Veracruz que lançou a convocatória online para a paralisação no meio de fevereiro, se surpreendeu com a resposta. Grandes empresas e dependências do governo concederam o dia sem descontar do salário de suas funcionárias, em uma adesão que muitas feministas criticaram por considerar oportunista.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895