Primeiro exoplaneta estendeu a busca de vida no Universo

Primeiro exoplaneta estendeu a busca de vida no Universo

Três cientistas dividem o Nobel de Física por descoberta de planetas que orbitam uma estrela fora do sistema solar

AFP

Esta imagem criada a partir de material fotográfico do Digitized Sky Survey 2 mostra o céu em torno da estrela 51 Pegasi na constelação setentrional do Pégaso

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A descoberta do primeiro planeta extrassolar em 1995, recompensada nesta terça-feira com o Prêmio Nobel de Física, enriqueceu a paisagem planetária e ampliou a busca pela vida no Universo. Antes, exoplanetas – que orbitam uma estrela fora do sistema solar – "haviam sido encontrados, mas giravam em torno de pulsares, que são estrelas mortas", explica Vincent Coude du Foresto, do Observatório de Paris. Essas descobertas não tiveram as mesmas repercussões. "Agora, estimamos que na galáxia há pelo menos tantos planetas quanto estrelas, ou seja, cerca de 100 bilhões de cada", segundo o astrônomo.

O primeiro, 51 Pegasi b, detectado em 1995, é um planeta gigante, do tamanho de Júpiter, gasoso e quente (cerca de 1.200ºC). Ele orbita em torno de uma estrela do tipo solar, a cerca de 51 anos-luz da Terra. O planeta "era muito estranho e nem um pouco localizado onde seria possível esperar", lembra o suíço Didier Queloz, o primeiro cosmologista que o viu e foi recompensado nesta terça-feira com o Prêmio Nobel de Física, juntamente com seu compatriota Michel Mayor.

O 51 Pegasi b está muito perto de sua estrela, ainda mais que Mercúrio do Sol. Demora um pouco mais de quatro dias para dar a volta. "Até então, acreditávamos que para um planeta gigante ser criado, ele precisava ser frio e, portanto, longe de sua estrela", explica François Forget, planetologista do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS).

Descoberta surpresa

É difícil observar um planeta perto de uma estrela devido à sua forte luminosidade. Michel Mayor desenvolveu uma técnica que não nos permite ver diretamente o planeta, mas detecta sua presença através da perturbação que sua gravidade inflige na estrela. Este instrumento ultrapreciso, chamado Elodie, detectou o planeta a partir do Observatório CNRS de Alta Provença, na França.

"Os dados coletados explicaram uma história que só poderia ser a de um planeta", lembra Didier Queloz, então jovem pesquisador. A descoberta foi uma surpresa, porque os dois homens não planejavam alcançá-la tão rapidamente. O anúncio ocorreu em 6 de outubro de 1995 em Florença, exatamente 24 anos e dois dias atrás.

Um novo campo de pesquisa

"A descoberta mudou a visão que tínhamos do nosso lugar no Universo", de acordo com David Clements, do Imperial College de Londres. "Inaugurou uma nova era para a cosmologia", ressalta Stephen Toope, da Universidade de Cambridge. 51 Pegasi b foi o primeiro e até agora quase 4.000 planetas extrassolares foram detectados.

"Um número suficiente para fazer estatísticas e demografia em sistemas planetários", explica Vincent Coude du Foresto. Antes do 51 Pegasi b, "tínhamos apenas o nosso sistema solar como exemplo. De repente, enriquecemos o nosso 'zoológico' de planetas. É como na medicina, é positivo observar outros animais para entender melhor o ser humano", segundo Forget.

Entre esses planetas, cerca de 50 estão localizados na zona habitável de sua estrela, ou seja, onde a temperatura é adequada para a água existir em estado líquido e onde a vida, como a conhecemos, pode se desenvolver. É, portanto, "um novo passo em direção à questão fascinante sobre a detecção de provas de vida", segundo Martin Rees, da Universidade de Cambridge.


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