Protestos diminuem, mas aumenta a incerteza sobre auditoria eleitoral na Bolívia

Protestos diminuem, mas aumenta a incerteza sobre auditoria eleitoral na Bolívia

Relatório da auditoria da OEA deve ficar pronto em duas semanas

AFP

Protestos contra a reeleição do presidente Evo Morales diminuíram neste sábado na Bolívia, quando milhares de pessoas foram aos cemitérios para homenagear seus mortos

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Os protestos contra a reeleição do presidente Evo Morales diminuíram neste sábado na Bolívia, quando milhares de pessoas foram aos cemitérios para homenagear seus mortos, enquanto aumentavam as incertezas sobre a auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) nas questionadas eleições de 20 de outubro. "Vamos ser respeitosos com o relatório da OEA", disse Morales em um evento na região central de Cochabamba neste sábado, um dia após o chefe da missão da agência, o mexicano Arturo Espinosa, renunciar a favor da "imparcialidade" depois de admitir que publicou artigos críticos sobre o presidente de esquerda boliviano.

"Decidi me retirar da auditoria para não comprometer sua imparcialidade. Deveria ter informado à OEA sobre declarações públicas anteriores a respeito do processo eleitoral na Bolívia", tuitou Espinosa, que havia iniciado o processo de verificação da OEA com o ministro das Relações Exteriores boliviano Diego Pary.

A missão da OEA, formada por 30 membros, iniciou na quinta-feira os trabalhos para verificar os resultados das eleições de 20 de outubro, vencidas por Morales já no primeiro turno. O resultado é rejeitado pela oposição boliviana, que denuncia fraude na apuração, o que levou o governo Morales a aceitar a missão da OEA.

Espinosa, um especialista eleitoral e acadêmico mexicano, publicou na semana passada um artigo sobre as eleições na Bolívia muito crítico a Morales, segundo a imprensa boliviana. O chefe da missão da OEA anunciou sua renúncia pouco depois de o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) divulgar o resultado final das eleições, confirmando a reeleição de Morales, com 47,08% dos votos, seguido pelo ex-presidente centrista Carlos Mesa, com 36,51%. A diferença de mais de 10 pontos sobre Mesa garantiu a vitória de Morales já no primeiro turno.

Mesa declarou que o resultado final do TSE confirma a "fraude" montada por Morales e trata-se de "uma agressão à boa fé da comunidade internacional". A oposição se nega a avalizar a auditoria da Organização de Estados Americanos (OEA) por considerar que se trata de uma manobra para manter Morales no poder.

O relatório da auditoria da OEA deve ficar pronto em duas semanas. Novos protestos contra o resultado eleitoral foram registrados nesta sexta-feira em diversas cidades. Em La Paz, manifestantes bloquearam ruas nos bairros mais abastados da zona sul, os mais críticos a Morales, mas com menos intensidade que nos dias precedentes, enquanto a polícia de choque se fazia presente nos principais cruzamentos.

Calma

A situação, no entanto, estavam mais calma no país neste sábado, apesar de persistirem tensões, ataques cívicos e bloqueios de ruas em várias cidades. Os bolivianos foram em massa aos cemitérios para homenagear seus mortos, no feriado católico do Dia dos Mortos, enquanto a promotoria anunciava a prisão de seis suspeitos dos assassinatos de dois manifestantes da oposição na cidade de Montero, na região leste de Santa Cruz, quarta-feira passada.

Os funerais das duas vítimas ocorreram na sexta-feira, enquanto em várias cidades, incluindo La Paz, manifestantes da oposição mantinham vigílias com velas em memória delas. Os confrontos entre oponentes e policiais deixaram 191 detidos e 60 policiais, um deles em coma, segundo o chefe de polícia Julio Cordero. Embora todos os grupos da oposição participem dos protestos, alguns movimentos agora também deixaram de apoiar Mesa.

Em grandes assembleias populares realizadas em La Paz e Santa Cruz, os opositores concordaram na quinta-feira em avançar com protestos nas ruas, um sinal de radicalização do movimento. A assembleia (ou "cabildo") de La Paz foi ainda mais longe, proclamando "Nem Mesa, nem Evo Morales!", um sinal de independência política e que os ativistas de La Paz querem novas eleições sem nenhum dos dois candidatos que monopolizaram o pleito. Em Santa Cruz, o feudo da oposição e Potosí (sudoeste) continuaram as greves e barreiras que paralisaram o trabalho e a atividade educacional.


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