Senado italiano suspende imunidade de Salvini para julgamento sobre migrantes

Senado italiano suspende imunidade de Salvini para julgamento sobre migrantes

Após o levantamento da imunidade, o líder da Liga pode ser condenado a até 15 anos de prisão se o procedimento for concluído

AFP

"Se alguém pensa em me assustar com esse processo político, está enganado", disse Salvini na Câmara

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O Senado italiano suspendeu, nesta quinta-feira, a imunidade de Matteo Salvini, líder da Liga (extrema direita), para que o mesmo seja julgado pelo suposto sequestro de migrantes quando era ministro do Interior.

A suspensão foi aprovada por 149 votos a 141. "Tenho orgulho de ter defendido a Itália e o faria de novo", declarou Salvini, acusado pelo tribunal de Palermo, na Sicília, de sequestrar pessoas, por ter se recusado, em agosto de 2019, quando era ministro do Interior, a autorizar o desembarque de mais de 80 migrantes do navio humanitário "Open Arms", bloqueado em frente à costa siciliana.

Esta votação ocorre em meio a densas travessias de migrantes pelo Mediterrâneo. Centenas de pessoas desembarcam todos os dias nas costas italianas de Lampedusa e Sicília ou são resgatadas no mar por navios humanitários e guardas costeiras.

Após o levantamento da imunidade, Salvini, 47, pode ser condenado a até 15 anos de prisão se o procedimento for concluído. "Se alguém pensa em me assustar com esse processo político, está enganado", disse ele pouco antes, na Câmara.

Uma comissão do Senado se manifestou em maio contra o levantamento da imunidade no primeiro caso, mas o plenário do Senado levantou em fevereiro outro assunto, pelo qual ele será julgado em 3 de outubro. Nesse outro processo, ele é criticado por ter bloqueado 116 migrantes, em julho de 2019, por vários dias a bordo do "Gregoretti", navio da Guarda Costeira. Nos dois casos, sua coalizão, Liga, tentou inocentá-lo, alegando que o bloqueio dos navios havia sido uma decisão coletiva do governo e, portanto, também de responsabilidade do primeiro-ministro, Giuseppe Conte.

A Liga cai nas urnas

A autorização do Senado para suspender a imunidade "certamente terá consequências para Salvini", cuja popularidade despencou no início da pandemia, que se tornou a principal preocupação dos italianos, à frente da imigração, que costumava ser uma questão central, aponta o cientista político Franco Pavoncello.

Uma pesquisa do instituto Demopolis divulgada esta semana dá à Liga 25,4% das intenções de voto, uma queda de 11 pontos em um ano, enquanto o partido pós-fascista italiano Fratelli observa um aumento. A Liga continua sendo, no entanto, a principal formação política italiana. "No momento, Salvini gera pouco interesse da mídia. A decisão de privá-lo da imunidade ... poderia gerar alguma atenção da mídia para ele", disse Pavoncello à AFP. No entanto, "um processo pode ser perigoso para ele a longo prazo, pois as acusações são graves", acrescentou.

Os problemas de Salvini começaram no início de agosto de 2019, quando ele era ministro do Interior e vice-primeiro ministro e cometeu um erro estratégico ao provocar uma crise no governo. A coalizão La Liga, formada em junho de 2018, com o Movimento 5 Estrelas (M5E), explodiu, e seu ex-aliado conseguiu formar um governo com o Partido Democrata (PD, centro-esquerda). Desde então, Salvini navega na oposição, sem abandonar sua ambição de se tornar primeiro-ministro.


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