Uma península "em guerra" há 65 anos

Uma península "em guerra" há 65 anos

Lideres das duas coreias se reuniram em cúpula pela paz na região

AFP

Lideres das duas coreias se reuniram em cúpula pela paz na região

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Buscando estabelecer "um regime de paz permanente e sólido", as duas Coreias estão tecnicamente em guerra desde o armistício de 27 de julho de 1953, o qual estabeleceu um cessar-fogo, sem nunca chegar a um tratado. Esse armistício foi o desfecho de um conflito de três anos que deixou entre dois milhões e quatro milhões de mortos, cujas raízes remontam ao fim da Segunda Guerra Mundial.



Após a saída do ocupante japonês em 1945, a Coreia se dividiu em duas zonas: uma, ao norte, sob influência soviética, e a outra, ao sul, sob a proteção dos americanos, tendo como linha de demarcação o paralelo 38. Os esforços da ONU mobilizados desde 1947 para regular o problema da independência e da unidade da Coreia são estéreis. Em 1948, constituem-se a República Democrática da Coreia, ao norte, e a República da Coreia, ao sul, com Pyongyang e Seul como suas respectivas capitais.

A guerra da Coreia começa em 25 de junho de 1950, quando o Exército norte-coreano ultrapassa o paralelo 38 para invadir o sul, conquistando Seul em três dias. O Conselho de Segurança da ONU se reúne, na ausência da União Soviética, com Moscou boicotando a sessão para protestar contra a presença de Taiwan, então representando a China. O órgão decide criar uma força multinacional, dirigida pelos Estados Unidos, para ajudar o sul.

Intervenção chinesa

As forças da ONU conseguem repelir as tropas norte-coreanas, que haviam conseguido chegar ao extremo-sul da península, até atingir o rio Yalu, na fronteira com a China. O movimento deflagra uma maciça intervenção chinesa, que envia "voluntários" para combater junto com os norte-coreanos. Em junho de 1951, o "front" se estabiliza ao longo do paralelo 38. É ali que os dois lados do conflito se encontram para negociar um armistício.

Depois de dois anos de difíceis negociações, um acordo de cessar-fogo é assinado em 27 de julho de 1953 entre, de um lado, a Coreia do Norte e os "voluntários chineses", e, de outro, o comando das Nações Unidas. O armistício instala um mecanismo para as trocas de prisioneiros e para a criação da Zona Desmilitarizada (DMZ), uma zona-tampão de quatro quilômetros de largura e 241 quilômetros de extensão, que divide a península.

Instaura-se uma comissão do armistício encarregada de velar pelo acordo e que se reunirá, regularmente, na cidade fronteiriça de Panmunjom. É nessa localidade que o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, estão reunidos nesta sexta-feira e onde se fez o histórico anúncio de se pôr fim, oficialmente, à guerra entre ambos os países.



O acordo previa ainda a organização de uma conferência para a retirada total de todas as tropas estrangeiras estacionadas na península e para a paz. Essa conferência nunca aconteceu. As vicissitudes da Guerra Fria e a permanência das tensões entre Pyongyang, de um lado, e Seul e Washington, de outro - em razão, sobretudo, dos programas nucleares norte-coreanos - adiaram indefinidamente a assinatura de um tratado de paz.

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