Com 23 mortes, onda de violência em Porto Alegre altera rotinas e fecha escolas

Com 23 mortes, onda de violência em Porto Alegre altera rotinas e fecha escolas

Conflito entre dois grupos criminosos tem levado medo aos moradores de diversos bairros

Correio do Povo

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A onda de violência em Porto Alegre, iniciada em 8 de fevereiro com um atentado a tiros que causou uma morte na Vila Cruzeiro, se intensificou ao longo das últimas semanas com um saldo, até à noite desta quarta-feira, de pelo menos 23 homicídios. A escalada de atentados tem levado medo às comunidades e alterado a rotina dos moradores.

A origem do conflito está na disputa entre duas facções, uma originária da vila Cruzeiro e outra procedente do Vale do Sinos, que, aos poucos, têm ampliado sua atuação pelo RS. Este mesmo grupo criminoso está tentando dominar o porto de Rio Grande, no sul do Estado, onde também se envolveu em um confronto contra outra gangue local.

Segundo um levantamento obtido pelo Correio do Povo, após a primeira morte ocorrida em fevereiro, outros 16 homicídios foram registrados em março e mais seis nestes primeiros seis dias de abril. Todas as ocorrências teriam relação direta entre a guerra travada entre as facções. A matança gerou uma reação do governo, que mobilizou policiais militares e civis para as áreas onde ocorrem os conflitos. O medo dos tiroteios fez escolas suspenderem as aulas, como foi o caso da Escola Estadual de Ensino Médio Professor Oscar Pereira, no bairro Cascata, e em outras regiões de Porto Alegre, como nos bairros Mario Quintana e Cristal. 

Apreensões

Na tentativa de frear a escalada de violência, o Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico apreendeu nesta quarta-feira seis placas balísticas modelo strike face e  uma capa de colete à prova de balas na vila Cruzeiro, na zona Sul de Porto Alegre. A região é palco do conflito mais intenso entre as duas facções. A Polícia investiga se os coletes e um revólver, também apreendido, pertencem a uma das facções em guerra. Ninguém foi preso. 

A ação foi coordenada pelo delegado Alencar Carraro. O material estava em uma mochila no interior de uma casa na rua Jacob Isake Zylbersztejn. “Recebemos uma informação”, disse o delegado, sem entrar em detalhes para não prejudicar as investigações. O responsável pela mochila já foi identificado. Na terça-feira, agentes da 1ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa também aprenderam armas e munições no bairro Agronomia.

Motivação

O motivo da guerra, de acordo com uma fonte da Polícia Civil, seria uma dívida contraída com a compra de entorpecentes do grupo da vila Cruzeiro que encomendou da gangue do Vale do Sinos. A cobrança gerou um embate entre as partes, fazendo com que os dois grupos começassem a perpetrar atentados a tiros um na área de atuação do outro. O grupo do Vale do Sinos é considerado, de acordo com as autoridades, fornecedor de entorpecentes para outras quadrilhas. 

Segundo a Brigada Militar, os dois grupos mantêm boca de fumo distante dois quilômetros uma da outra, na vila Cruzeiro. Os dois lados mantinham uma proximidade respeitosa até que começaram os atentados que levaram medo aos moradores de várias regiões. 

O conflito evoluiu a tal ponto que os atentados começaram a ser perpetrados em vários bairros de Porto Alegre. Um dos mais violentos ocorreu na rua Moab Caldas, no dia 16 de março, quando dois homens foram assassinados a tiros durante um ataque da facção local. Momentos depois, policiais militares do 1º BPM foram acionados e quando chegaram ao lugar, foram atacados por criminosos. Houve revide e quatro homens foram presos, além de um adolescente apreendido. 

O Correio do Povo esteve na vila Cruzeiro na semana passada, acompanhando uma ação da Força Tática do 1º BPM. Os PMs verificaram pontos de venda de drogas das duas facções. No local, considerado o berço da facção da vila Cruzeiro, um prédio em ruínas foi transformado em cracolândia. 

Os atentados

Fevereiro

Dia 8

  • Uma morte e três tentativas de homicídio às 21h24 na rua Caixa Econômica, na Vila Cruzeiro

Dia 28

  • Três tentativas de homicídio às 22h10 na rua Caixa Econômica, na Vila Cruzeiro

Março

Dia 14

  • Uma morte às 8h30 na avenida Capivari, no Cristal

Dia 15

  • Uma morte às 19h02 na rua Marechal Hermes, na Tristeza
  • Uma morte e sete homicídios tentados às 21h14 na rua Édison Pires, no Santa Tereza

Dia 16

  • Um disparo de arma de fogo, sem vítimas às 10h44 próximo ao Postão da Cruzeiro, na Vila Cruzeiro
  • Uma morte às 23h27 na avenida Ernesto Neugebauer, no Humaitá

Dia 17

  • Uma morte às 16h e um homicídio tentado na Estrada dos Batillanas, no bairro Cascata 
  • Uma morte às 22h30 na rua Jataí, no Cristal
  • Uma morte às 23h e dois homicídios tentados na rua Santana, no bairro Santana

Dia 18

  • Uma morte às 01h59 na rua Coronel Fernando Machado, no Centro Histórico
  • Um homicídio tentado às 5h31 na avenida Francisco Massena Viêra, no Santa Tereza

Dia 19

  • Um homicídio tentado às 21h05 na rua Maria Basto, no bairro Coronel Aparício Borges
  • Uma morte, quatro presos e um menor apreendido às 21h40 na rua Goiabeira, no bairro Cavalhada
  • Um homicídio tentado às 23h30 na rua Ursa Maior, no Cristal

Dia 20

  • Um baleado às 15h30 na rua Ursa Maior, no Cristal

Dia 21

  • Duas mortes, quatro presos, três baleados e um menor apreendido às 6h23 na rua Moab Caldas, no Santa Tereza
  • Dois homicídios tentados às 15h30 na rua Francisco Martins, no bairro Cascata

Dia 23

  • Uma morte e dois presos às 11h32 na rua Coronel Neves, no bairro Medianeira

Dia 25

  • Uma morte e um homicídio tentado às 10h na rua Deputado Cunha Bueno, no bairro Cavalhada 
  • Uma morte às 20h50 rua Coronel Jaime Rolemberg de Lima, na Lomba do Pinheiro

Dia 26

  • Dois homicídios tentados às 1h21 na rua José Madrid, no bairro Bom Jesus
  • Duas mortes às 8h18 no Beco do David, na Lomba do Pinheiro

Dia 28

  • Cinco presos e um menor apreendido às 22h05 na rua Dr. Júlio Teixeira, no bairro Cavalhada
  • Uma morte e um homicídio tentado às 23h41 na av. João Antônio Silveira, na Restinga

Dia 29

  • Dois homicídios tentados às 18h10 na rua Paissandu, no bairro Partenon

Dia 30 

  • Um homicídio tentado às 5h20 na rua Francisco Martins, no bairro Cascata

Abril

Dia 2

  • Uma morte às 9h na avenida Juca Batista, no bairro Hípica
  • Uma morte e dois homicídios tentados às 18h30 na rua Padre Nóbrega no bairro Santa Tereza
  • Um preso às 22h na avenida Moab Caldas, no bairro Santa Tereza

Dia 3

  • Uma morte às 8h13 na Estrada do Rincão, no Belém Velho
  • Uma morte e três homicídios tentados às 21h na avenida Herval, no bairro Castaca

Dia 4

  • Uma morte às 11h18 na rua Professor Manoel Lobato, no bairro Santa Tereza
  • Uma morte às 21h13 na av. Arnaldo Bohrer, no Teresópolis

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