Colômbia vive clima de tensão a uma semana das eleições presidenciais

Colômbia vive clima de tensão a uma semana das eleições presidenciais

Sombra de fraude paira em meio aos candidatos

AFP

Eleições acontecem na semana que vem

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A uma semana das eleições presidenciais na Colômbia, a campanha chega à reta final com a temperatura elevada. Neste domingo (22), os candidatos concluem suas intervenções em praça pública, à caça dos indecisos em um clima cada vez mais polarizado.

Ameaças de morte que revivem fantasmas de magnicídio no país, desconfiança no sistema eleitoral e o aumento da violência em zonas afastadas acirram os ânimos às vésperas do primeiro turno no próximo domingo.

O senador opositor Gustavo Petro, ex-guerrilheiro e ex-prefeito de Bogotá de 62 anos, se mantém na liderança das pesquisas (41%), embora sem apoio suficiente para evitar o segundo turno em 19 de junho. Se vencer, seria a primeira vez que a esquerda chega ao poder em um país historicamente governado por elites conservadoras e liberais.

Em um eventual segundo turno, as pesquisas preveem um duelo entre Petro e o direitista Federico Gutiérrez, ex-prefeito de Medellín de 47 anos, com cerca de 27% das intenções de voto, embora seja seguido de perto por um outsider: o empresário independente Rodolfo Hernández, de 77 anos e impossível de situar no espectro político. A pré-candidata franco-colombiana Ingrid Betancourt, ex-refém da guerrilha das Farc, aderiu à sua campanha na sexta-feira.

Muito ativo e articulado na praça pública, Petro encerra sua campanha neste domingo no centro de Bogotá, junto à sede da Prefeitura que comandou entre 2012 e 2015. Sua candidata a vice, a ambientalista afro Francia Márquez, o acompanhará no palanque. Será seu centésimo discurso desde agosto do ano passado e a oportunidade de reafirmar a promessa de "mudança" sem revanche "para todos os colombianos", que freie "o ódio político na sociedade", segundo a equipe de campanha do candidato.

"Fico" Gutiérrez fará comício no mesmo dia em Medellín (noroeste), seu reduto político e segunda cidade do país. Depois de ter feito um chamado contra "os comunistas" que querem "expropriar" e "acabar com as instituições", o líder da coalizão de direita "Equipe pela Colômbia" convida à união em meio à polarização e a lutar contra a "insegurança".

Sombra de fraude

A campanha foi marcada por ameaças contra seus principais candidatos. Petro precisou reforçar seu esquema de segurança e agora fala em público com colete à prova de balas e protegido por um cerco de escudos blindados. Na noite de sábado, um laser verde foi apontado para Francia Márquez enquanto ela discursava em Bogotá, o que forçou o cancelamento do comício. O Ministério Público investiga o incidente.

Gutiérrez também denunciou intimidações que, somadas ao clima rarefeito pela violência, desperta o temor de um magnicídio em um país onde cinco candidatos à Presidência foram assassinados no século XX.

Outra controvérsia ganha força na reta final da campanha, alimentada pela desconfiança no processo eleitoral, que teve um desempenho atropelado nas legislativas de 13 de março. Na ocasião, a apuração final atribuiu quase 400.000 votos para a esquerda que não tinham sido incluídos na pré-contagem divulgada no dia da votação.

A coalizão chefiada por Petro obteve três assentos adicionais no Parlamento, chegando a 45, tornando-se a principal força política junto com os liberais.

Depois de várias declarações sobre o programa de informática que será usado desta vez na apuração dos votos, correm boatos de uma possível suspensão ou demissão do chefe do Registro Nacional do Estado Civil - encarregado da organização das eleições - ou inclusive um adiamento do pleito na última hora.

Na noite de sábado, Petro fez um "alerta" e afirmou, durante discurso em Barranquilla (norte), que "estão tentando um golpe ao voto popular".

"Têm pensado suspender as eleições, têm pensado suspender os órgãos que regem o processo eleitoral na Colômbia", assegurou, com veemência. O esquerdista convocou uma reunião de "urgência" na segunda-feira com outros candidatos para discutir o tema.

O ministro do Interior, Diego Palacios, desmentiu as alegações no Twitter: "Afirmações nas quais se fala de adiamento ou suspensão das eleições são absolutamente falsas. Solicitamos aos candidatos e equipes para não gerar desinformação", escreveu.

Na mesma linha, o oficial de registro Alexander Vega disse neste domingo que podia garantir eleições presidenciais "legítimas e transparentes". Ele denunciou que os ataques contra sua instituição correspondem a "uma narrativa de fraude (...) injusta e falsa".

Mas as suspeitas sobre o sistema eleitoral "estão no ar há alguns dias. É possível que Petro esteja tentando evitar o golpe tornando-o público", comentou uma fonte diplomática, relativizando: "um adiamento das eleições é praticamente inconcebível em um país tão legalista e apegado à democracia quanto a Colômbia (...) Mas há muita tensão", advertiu.


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