Em 2020, Bolsonaro sugeriu fabricar cloroquina para outros países

Em 2020, Bolsonaro sugeriu fabricar cloroquina para outros países

Em abril do ano passado, presidente pediu ao primeiro-ministro indiano insumos para aquecer fábricas do medicamento no país

R7

Em abril do ano passado, presidente pediu ao primeiro-ministro indiano insumos para aquecer fábricas do medicamento no país

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Em uma live de 9 de abril de 2020, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu um projeto ousado para a Índia e outros países: utilizarem nossas indústrias para abastecer os estoques de cloroquina de outras nações do mundo no combate à Covid-19.

A ideia que Bolsonaro apresentou era algo como uma parceria entre Brasil e Índia. Eles entregariam os insumos e nós, o remédio pronto. "A Índia tem insumos para remédios utilizados no mundo todo e o Brasil, uma indústria farmacêutica bastante forte aqui. Se eles precisarem fazer comprimidos em grande quantidade, eu não sei se eles têm essa capacidade, mas antecipadamente a gente adianta, já conversei com um desses laboratórios e hoje estamos prontos para fabricar aqui o Reuquinol."

Bolsonaro diz na tramissão que já havia conversado com o presidente de uma das fabricantes do país e teria recebido o apoio do empresário. Mas não disse o nome dessa pessoa. Na sua frente, na live, havia uma caixa do Reuquinol, marca registrada pela Apsen no Brasil para o medicamento sulfato de hidroxicloroquina 400 mg.

Ele exibiu a embalagem duas vezes, pediu para tirarem fotos sua com o produto e na primeira menção ao remédio, em conversa com seu convidado do dia, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, citou o nome da empresa fabricante. "Tem quatro laboratórios aqui no Brasil. entre eles esse daqui, de onde que é, meu Deus do céu... Apsen, entre outros aqui, que têm condições de produzir milhões de comprimidos por dia", comentou.

Em nota ao R7, a Apsen afirma que "nunca houve contato direto com o senhor presidente da República, Jair Bolsonaro". E acrescentou "que todas as interações da companhia em âmbito governamental se dão por meios legais e dentro das normas estabelecidas pelo setor, sempre atuando com lisura e em conformidade com a legislação do país". 

Em abril do ano passado, Bolsonaro estava empolgado com a possiblidade de o medicamento curar pessoas com Covid-19. Uma semana depois da live, ele demitiu o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que se mostrava contrário à ampliação do uso da substância em pacientes nos estados leve e moderado de Covid-19. Seu sucessor, Nelson Teich, duraria apenas um mês no cargo por também se opor à mudança.

Em sua participação na CPI da Covid, em maio, Mandetta explicou que a hidroxicloroquina foi incorporada ao tratamento de Covid-19 para pacientes em estado grave como "uso compassivo", aplicado como última alternativa em casos em que todos os outros métodos não surtiam efeito.

Bolsonaro acreditava no oposto do que ocorreu meses depois, com vários estudos científicos mundiais negando os efeitos positivos do remédio. Ele disse ele na live de 9 de abril estar confiante que "brevemente" haveria uma comprovação da eficácia da hidroxicloroquina, que segundo ele, ""pelo que tudo indica, tem salvado vidas". "Não digo que um estudo completo, definido, mas um emergencial dando muita força para o pessoal acometido com aCovid-19."

No mesmo mês de abril de 2020, o chefe do Executivo havia pedido ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, por meio do ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, que acelerasse a exportação de insumos necessários para a produção no Brasil de hidroxicloroquina.

Com os insumos no país, destinados a empresas nacionais que já fabricavam os comprimidos, parte do lote foi para o Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército, que aumentou sua produção para abastecer municípios brasileiros que pediam o medicamento ao governo federal durante a pandemia.

CPI da Covid

Em depoimento à CPI da Covid, nesta sexta-feira, Natalia Pasternak, microbiologista e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que diversos estudos já comprovaram que a cloroquina não tem eficácia contra a Covid-19.

"Tudo o que está nesse gráfico já era mais do que suficiente para enterrar a cloroquina de vez e a gente poder mover a discussão para coisas mais relevantes. Isso foi no ano passado. Nós estamos pelo menos seis meses atrasados em relação ao resto do mundo, que já descartou a cloroquina e, aqui no Brasil, a gente continua discutindo isso", afirmou Pasternak.


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