Osmar Terra admite erros de projeções sobre Covid-19 e volta a defender imunidade de rebanho na CPI

Osmar Terra admite erros de projeções sobre Covid-19 e volta a defender imunidade de rebanho na CPI

Deputado federal negou que tenha "poder" sobre as opiniões do presidente Jair Bolsonaro

AE

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O ex-ministro da Cidadania e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) foi ouvido, nesta terça-feira, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, no Senado. Ele admitiu seus erros de projeções em relação à pandemia no país, mas voltou a defender a imunidade de rebanho. Ele também negou ser negacionista ao ser confrontado pelo relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL). 

Terra é um dos membros do governo que tem patrocinado, nas redes sociais, projeções que alegam um menor impacto do novo coronavírus e fomentado, entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, teorias sem comprovação científica que estimulam o contágio.

O deputado iniciou o seu depoimento defendendo a imunidade de rebanho, apesar das evidências científicas apontando no sentido contrário. Ele justificou a defesa e as previsões subestimadas feitas no ano passado, apresentando dados da China e da Coreia do Sul, que, de acordo com os números citados por ele, controlaram a pandemia no fim de março. Ele afirmou que são opiniões pessoais e que nenhum grupo o assessorou.

"Imunidade de rebanho é uma consequência, é como terminam todas as pandemias, quando a população, por vacina, e nesse caso deve ser por vacina, ou não, chega a um porcentual que termina com a pandemia", disse Osmar Terra em sua fala inicial no depoimento.

Em 2020, Osmar Terra chegou a declarar que a pandemia de Covid-19 seria menos grave do que a H1N1 e acabaria já nos primeiros meses. À CPI, nesta terça-feira, ele argumentou que as novas cepas foram o motivo do descontrole e do aumento no número de mortes. "Mutações mais rápidas e surgiram novas cepas. Foi isso que aconteceu. Essas cepas prolongaram o prazo do fim da pandemia."

Na CPI, Terra reforçou que a tendência da pandemia é diminuir no Brasil com a vacinação e com a "infecção da população que se contaminou, sem culpa, trancada em casa".

Negacionismo 

O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), chamou Terra de "líder do negacionismo". "Eu defendo a vacina, eu não sou negacionista. Eu não nego a vacina. Acho que temos de enfrentar qualquer pandemia e a melhor forma de salvar vidas é trabalhar como foi feito em todas as pandemias", respondeu Terra.

Renan confrontou o parlamentar com declarações anteriores, quando Osmar Terra disse que a vacina só teria eficácia "depois da imunidade de rebanho". "A imunidade de rebanho não é uma técnica, e nem uma estratégia de enfrentamento, é o resultado de qualquer epidemia, inclusive a de uma gripe de inverno", disse o deputado.

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), também criticou as declarações. Para ele, quem incentivou remédio sem eficácia, foi contra o isolamento e apostou na imunidade de rebanho é "cúmplice das mortes".

Previsões erradas 

Osmar Terra admitiu, durante sua oitiva na CPI da Covid, ter errado em diversas de suas projeções com relação à pandemia da Covid-19 no País, como seu tempo de duração, sua letalidade, o surgimento de variantes, e até mesmo sobre a não possibilidade de haver uma segunda onda da doença em Manaus.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), responsável pelos questionamentos, indagou o parlamentar se não era hora de ele parar de dar opiniões com relação à pandemia. O parlamentar se defendeu afirmando que suas opiniões são baseadas em evidências científicas e em "experiências passadas". 

Segundo Terra, suas previsões não se confirmaram por não haver dados suficientes para se calcular o tamanho da crise. Com relação à influência de suas opiniões no Planalto, Terra afirmou que, se o presidente dá mais importância à opinião dele do que a de outras pessoas, "é uma decisão dele", afirmando que ninguém havia acertado nada sobre a pandemia.

Influência sobre Bolsonaro

Tasso também provocou Terra ao falar sobre a "enorme influência" que o parlamentar tem com o presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores. Mais cedo, durante a oitiva, o relator no colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), havia apresentado um vídeo com diversas falas semelhantes do deputado e do presidente da República.

Terra negou que tenha "poder" sobre as opiniões do presidente. "Eu não tenho poder sobre o presidente de 'o senhor vai falar isso, vai falar aquilo'. Se eu tivesse o poder, eu seria o presidente e ele, o deputado", disse Osmar. 

Ele negou a existência de um "gabinete paralelo" para assessorar Bolsonaro. Uma reunião em setembro do ano passado, porém, com a presença de Terra, articulou a formação de um "gabinete das sombras" para subsidiar as decisões do presidente. "Ele ouve todo mundo. Isso não significa que tem gabinete paralelo, que tem estruturas paralelas. Isso é uma falácia." 

"Quarentena vertical"

Osmar também negou que tenha apresentado uma proposta de "contaminar a população livremente". O deputado declarou ainda que a "quarentena vertical" - para todos os públicos - foi um termo cunhado pelo próprio chefe do Planalto. "Ele cunhou esse termo. É da cabeça dele." 

Questionado pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), o deputado citou que a imunidade de rebanho poderá ser alcançada no Brasil quando 60% a 70% da população contrair a doença. Esse porcentual significaria a infecção de mais de 120 milhões de pessoas no País. Até ontem, quase 19 milhões de casos foram confirmados oficialmente, com 502.817 mortes. 

Ele ainda criticou as medidas de restrição adotadas por governadores e prefeitos para conter a disseminação da Covid-19, apesar da orientação de autoridades sanitárias. "Se isolamento funcionasse, ninguém morria em asilo."

Cloroquina 

O deputado reafirmou que, mesmo hoje, faria o uso de medicamentos sem a eficácia comprovada para tratar a Covid-19. "Eu tomei, tomaria de novo se precisasse, se tivesse a doença, porque não tinha nada para fazer a não ser ficar esperando e tomar dipirona", declarou aos senadores da CPI da Covid.

Osmar Terra argumentou que diversos fármacos têm bulas que preveem efeitos colaterais com "tragédias enormes". Contudo, os medicamentos defendidos pelo parlamentar para o tratamento da Covid não são indicados contra a doença. Com relação a isso, Osmar voltou a defender o uso "off-label", fora da bula, do medicamento, sob o argumento de que o médico deve ter autonomia para prescrever tratamentos.

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), rebateu a defesa de Terra aos fármacos, afirmando que eles não haviam lhe ajudado. Aziz apontou que o parlamentar precisou ser internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em decorrência da doença. "A cloroquina não lhe ajudou muito não, o que lhe ajudou foi o bom hospital que o senhor tinha e os bons médicos que estavam te atendendo", declarou Aziz.


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