PSB gaúcho dá demonstração de força para 2022

PSB gaúcho dá demonstração de força para 2022

Congresso no final de semana reafirmou candidatura própria ao governo e foi prestigiado por dirigentes de outros sete partidos

Flavia Bemfica

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A 11 meses das eleições gerais de 2022, o PSB gaúcho voltou a mostrar no final de semana seu empenho em construir uma ampla coalizão em torno da pré-candidatura do ex-deputado federal Beto Albuquerque ao governo do Estado. A reafirmação da pré-candidatura de Beto foi um dos principais pontos do congresso estadual do partido, realizado durante o sábado e o domingo na Assembleia Legislativa. A meta é consolidar alianças até o mês de março, mas, a começar pelo próprio pré-candidato, os articuladores socialistas admitem uma agenda acelerada de negociações. O primeiro resultado veio durante o congresso: os representantes da Rede Sustentabilidade anunciaram a indicação do apoio ao nome de Beto ao Piratini.

O PSB também conseguiu que dirigentes do PDT, PCdoB, Pros, Cidadania, Solidariedade e Avante, entre eles os presidentes estaduais dos três primeiros (Ciro Simoni, Juliano Roso e José Fortunati) marcassem presença no evento. O PT optou por enviar um vídeo de congratulações curto e de teor neutro, gravado pelo presidente estadual, o deputado federal Paulo Pimenta. Simoni e Fortunati deixaram claro que sua participação não significava endosso à candidatura do PSB. Mas, assim como os demais dirigentes presentes, deram destaque nos discursos à importância da união “em defesa do estado democrático de direito” e assinalaram estarem “abertos ao diálogo”.

Para além das oito legendas, no RS Beto tem mantido tratativas também com o PSD. “Tenho conversado muito com o PSD. Vejo no PSD um partido com estrutura nacional para ter representação em uma chapa majoritária aqui”, adianta. Publicamente, o ex-deputado repete que o importante é que as siglas continuem dialogando, que não elege partidos prioritários, e que respeita o tempo de cada um. Mas, nos bastidores, lideranças partidárias admitem que um dos cenários possíveis é uma composição com o PDT na qual os trabalhistas poderiam ocupar a vaga de vice ou a do Senado. Beto já estabeleceu, como uma das prioridades de seu projeto, por exemplo, a bandeira da educação, cara aos pedetistas.

A possibilidade de atrair o PDT ganhou tração após o esvaziamento da provável candidatura do atual presidente do Grêmio, o pedetista Romildo Bolzan, ao governo. Entre políticos, o entendimento é de que, na disputa pelo Piratini, Bolzan perdeu musculatura em função dos sucessivos fracassos do time, mas que manteria um desempenho considerável tanto para vice como para o Senado.

Avanço inclui conversas com PDT e PSD e coloca pressão sobre PT

Ao mesmo tempo em que entabula negociações com PSD e PDT para a possível composição de uma chapa majoritária, o PSB gaúcho coloca pressão sobre o antigo aliado PT. Entre outras lideranças, Beto Albuquerque já conversou com o presidente estadual, Paulo Pimenta, e com o também pré-candidato ao Piratini, o deputado estadual Edegar Pretto. Uma parte do PT gaúcho assegura que não há qualquer possibilidade de o partido abrir mão da pré-candidatura de Pretto ao governo para apoiar o ex-deputado do PSB, e que as divergências do passado são intransponíveis. Mas o cenário nacional, admitem outros articuladores petistas, pode mudar isto.

Nacionalmente, o PSB vem em um processo crescente de aproximação com o PT e a pré-candidatura do ex-presidente Lula à presidência da República. Nas negociações, os socialistas colocam como condição para apoiar a candidatura de Lula o apoio do PT a candidatos ao governo do PSB em cinco estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. “Nacionalmente, estamos dialogando bastante, e já deixamos clara nossa posição em relação a estes cinco estados. É certo que o PT não é e nem será nosso inimigo e nem nosso adversário. Nosso adversário é outro. Agora, só posso apoiar quem me apoia”, confirma Beto.

Além das articulações nacionais pró-Beto entre as duas siglas, o PSB gaúcho pode ter uma outra vantagem sobre o PT no Estado, caso se confirme a formação de uma federação partidária entre os socialistas e o PCdoB, que também tem tratativas avançadas. Nesse cenário, as duas siglas passariam a funcionar como um partido, o que impediria o PCdoB de, sozinho, fechar uma coligação com o PT para a disputa ao governo estadual, aumentando o isolamento do último.

Mário Bruck permanece na presidência do diretório estadual

A construção da unidade interna é apontada pelos dirigentes do PSB como o primeiro passo para conseguir viabilizar sua pretensão de candidatura ao governo do Estado. No congresso do final de semana, os socialistas elegeram uma chapa de consenso, liderada por Mário Bruck, que já estava como presidente interino do partido. As divergências, que em momentos distintos do passado, colocaram Beto Albuquerque em embates com correligionários como o deputado federal Heitor Schuch ou o atual secretário estadual de Obras, José Stédile, hoje são dadas como pacificadas, enquanto as lideranças trocam afagos. “Temos um candidato forte, uma liderança reconhecida em todo o Estado, com capacidade de tirar o RS da polarização no ano que vem”, elogia Schuch.

A identificação de um amplo espaço no chamado campo progressista no Estado ajudou a consolidar o entendimento, turbinado pelo movimento nacional que o partido chama de autorreforma (a revisão do programa partidário e na qual vem sendo encaminhado uma espécie de retorno “à esquerda”). No congresso, no sábado, para além da oposição aberta ao governo federal, Beto também marcou posição sobre a gestão Eduardo Leite (PSDB), apesar de o PSB integrar a administração do tucano. Sobre a educação, disse que as escolas do Estado hoje “não são atrativas e nem inclusivas. Elas não geram nem expectativa e nem esperança.” Depois, em alusão às políticas de ajuste, falou que o RS “tem que parar de cortar, de aniquilar, de culpar servidor público por seus problemas.” Ao final, fez referência expressa às pretensões políticas de Leite e ao modo como ele tem se movimentado. “Serei governador do início ao fim. Não serei candidato à presidência da República e nem pretendo disputar prévia.” Na quarta, 10, às 19h, o ex-deputado vai lançar na Feira do Livro sua primeira obra, intitulada ‘Liberdade, Igualdade, Humanidade – São também nossas façanhas?’.


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