Reverendo diz na CPI que foi usado em negociação com "fins espúrios"

Reverendo diz na CPI que foi usado em negociação com "fins espúrios"

Amílton Gomes de Paula preside ONG que teria participado de reunião do Ministério da Saúde com a empresa Davati, dos EUA

R7

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O reverendo Amílton Gomes de Paula afirmou nesta terça-feira (3) à CPI da Covid que só entrou na negociação de vacinas contra a covid-19 para o Brasil após ser procurado pelo cabo da Polícia Militar, Luiz Paulo Dominguetti, que dizia ter como entregar em curto período 400 milhões de doses da AstraZeneca ao país.

Amílton preside a ONG Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), que teria sido procurada pelo policial e vendedor por ter nome reconhecido no mercado e poderia servir como porta de entrada no Ministério da Saúde para os vendedores - Cristiano Carvalho foi apresentado ao reverendo como representante da empresa interessada em negociar as vacinas. 

"O senhor Dominguetti me falou em 16 de fevereiro que prometia entregar 400 milhões de doses em até 8 dias, por US$ 3,97 a dose", contou. "Mas ele não comentou que tinha tido contato com o Ministério da Saúde." 

De acordo com o reverendo, ele foi usado para uma negociação com "fins espúrios". Comentou que ver o nome da Senah exposto na mídia prejudicou a imagem da entidade e das pessoas que trabalham nela.

Inicialmente, diz ele, Dominguetti dizia representar uma empresa com o nome Latin Air, mas depois, um dia antes de uma primeira reunião com o governo federal, no início de março, mudou a possível fornecedora dos imunizantes para Davati Medical Supply. 

Posteriormente, segundo seu relato, a Senah, por meio de uma "pesquisa pela internet", tentou descobrir como agendar uma reunião com o ministério. Depois de algumas tentativas frustradas de conversar com integrantes da pasta, conforme suas palavras, foi agendado no dia 24 de fevereiro um encontro com o secretário executivo da pasta, Elcio Franco, ocorrida em 12 de março.

Amílton Gomes declarou que nesse encontro o negócio foi deixado de lado após os vendedores se recusarem a apresentar um documento que comprovasse que a Davati tinha realmente acesso às vacinas da AstraZeneca.

Ele contou ainda que nesse período entrou em contato com o presidente da Davati nos Estados Unidos, Herman Cardenas, que informou, nos dias 1º e 5 de março, que o valor das doses da AstraZeneca haviam subido de US$  3,57 para US$ 17,50.

No início de sua fala, o reverendo afirmou que a Senah é responsável por inúmeras campanhas de conscientização para uso de máscaras, álcool gel e outras medidas de combate à covid-19. 

Outras versões

Luiz Dominguetti e Cristiano Carvalho, já ouvidos na CPI, disseram que o reverendo não só ajudou a aproximar a Davati de integrantes da pasta da Saúde como tratou de detahes do contrato.

Carvalho, aliás, afirmou à CPI que é falsa a informação de que a Davati procurou o governo para vender vacinas. O que ocorreu, declara ele, foi o contrário: o ministério foi atrás da empresa por ter sabido que ela tinha acesso ao laboratório fabricante do imunizante.

Foi por causa dessa negociação não finalizada que Dominguetti acusou o ex-diretor do ministério Roberto Dias de pedir propina de US$ 1 por cada dose do imunizante.


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