Cooperativas já emitem certificados de recebíveis

Cooperativas já emitem certificados de recebíveis

Novo sistema permite que produtores captem recursos do mercado financeiro em vez de contrair empréstimos no sistema bancário

Cíntia Marchi

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De forma inédita no país, cooperativas gaúchas começam a operar com Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA), modalidade nova de financiamento da produção agropecuária ligada ao mercado financeiro e não ao sistema bancário. A Cotribá, com sede em Ibirubá, foi a primeira a emitir um certificado, gerando um montante de R$ 53 milhões para a compra de insumos para a safra de 2020/2021. Uma segunda operação do tipo já está sendo preparada pela cooperativa e a securitizadora parceira. A Cotrijal, de Não-Me-Toque, também assinará em março uma operação envolvendo o CRA.
A gerente administrativa e financeira  Ana Marlize Schreiner conta que a Cotribá  buscou a nova alternativa para beneficiar os associados que tiveram grandes prejuízos com a quebra da última safra de soja, por estiagem. De forma totalmente eletrônica, 118 agricultores emitiram as Cédulas de Produto Rural Financeiras (CPR-F), assinadas digitalmente e registradas em cartório e na Bolsa de Valores (B3). Todas as cédulas foram “empacotadas” em forma de um CRA e os associados que aderiram conseguiram prazo de quatro anos para pagamento dos valores captados junto aos investidores. “O produtor teve  pouco grão para vender em 2020”, salienta Ana. “Precisávamos encontrar uma saída para diluir custos da nova safra”, complementa.
Toda a operação foi montada junto ao Grupo Ecoagro, a securitizadora responsável pela captação dos recursos e por ajudar a estabelecer as regras da transação, como formas de pagamento e taxas de juro. Segundo Ana, os empréstimos variaram de R$ 9 mil a R$ 5 milhões, atendendo pequenos e grandes produtores ligados à cooperativa. Neste momento, a Cotribá já levanta um segundo grupo de  interessados em  nova emissão de CRA. “É um tipo de operação que veio para ficar”, considera a gerente.
O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), Paulo Pires, lembra que os produtores, castigados pela quebra de safra no ano passado, praticamente não tiveram amparo do sistema de crédito regrado pelo governo federal. Ao parabenizar a iniciativa das cooperativas que prospectaram alternativas para financiar a nova safra, Pires destacou que a Fecoagro defende o uso de instrumentos que não envolvam dinheiro público. “Temos um horizonte amplo pela frente”, prevê.
O economista-chefe da Federação da Agricultura (Farsul), Antônio da Luz, observa que a entidade vem trabalhando há um ano para ajudar a modalidade a se tornar realidade. Para ele, operações como estas, que vieram na esteira da nova Lei do Agro, a qual ajudou a estimular novas fontes de financiamento, irão revolucionar o sistema de crédito rural brasileiro. “Atendem a uma demanda antiga do produtor, que buscava um modelo de negociação de dívidas fora do sistema bancário”, afirma.


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