Entidades do setor são contra a liberação de trigo transgênico no Brasil

Entidades do setor são contra a liberação de trigo transgênico no Brasil

Argentina, que é o principal fornecedor de trigo do país, aprovou recentemente variedade transgênica

Cíntia Marchi

Brasil ainda é dependente da produção de trigo de outros países

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Entidades ligadas ao setor de moagem e indústrias de panificação manifestaram-se contrárias à liberação comercial de trigo transgênico no Brasil. As opiniões foram relatadas ontem na audiência pública virtual da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), e se contrapõe com a posição das sementeiras que veem na nova tecnologia uma saída para o Brasil se tornar autossuficiente na produção do grão. Hoje, o país importa metade do que consome.

Na Argentina, principal fornecedor de trigo do Brasil, a variedade transgênica HB4, desenvolvida pelas empresas Bioceres (Argentina) e Florimond Desprez (França), foi aprovada recentemente. Só que o cultivo naquele país depende de um aceno positivo da continuidade das compras brasileiras. Segundo o gerente de pesquisa da TMG, empresa parceira na regulamentação da tecnologia, Alexandre Garcia, a previsão é que a primeira comercialização oficial do trigo transgênico cultivado na Argentina ocorra em 2022. No Brasil, a expectativa é que isto ocorra em 2026. Garcia lembra que, no país, ainda não há um pedido para plantação deste tipo de cultivar. Argumenta que, por ser tolerante à seca, esta variedade poderia ser explorada em diferentes regiões brasileiras. Afirmou ainda o produto é seguro para o consumidor.

O presidente da Câmara Setorial das Culturas de Inverno do Ministério da Agricultura, Hamilton Jardim, enfatizou que o tema deve ser analisado em todas as esferas pelo governo brasileiro. “Esta cadeia foi organizada há mais de 80 anos para produção de trigo não transgênico para entregar ao consumidor uma matéria prima de excelência”, destacou. O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, disse desconhecer a existência de demanda de mercado por este tipo de produto. Além disso, comentou que a segregação do grão transgênico do tradicional aumentará custos para o setor.

A diretora técnica da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), Sonia Cristina Romani, acrescentou que, além de não haver boa aceitação da sociedade brasileira, também não há mercados externos para colocação de produtos feitos à base de farinha produzida com trigo geneticamente modificado.


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