Alternativas para produzir com preservação pautam segundo Debate Correio do Povo Rural

Alternativas para produzir com preservação pautam segundo Debate Correio do Povo Rural

Participantes apontam desafios e caminhos que o Brasil tem para colher mais sem prejudicar ambiente

Danton Júnior

Debatedores sustentaram que legislação ambiental brasileira é das mais rígidas do mundo e, parte deles, defenderam redução da burocracia para emissão de licenças

publicidade

A questão ambiental está na ordem do dia. Os problemas ocorridos na Amazônia atraíram a atenção do mundo nas últimas semanas. Em meio a essa discussão, há o interesse do agronegócio em promover a imagem do setor no exterior, tendo em vista que o Brasil é um grande exportador de alimentos.

Soma-se a isso a abertura de novos mercados, o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia e as possibilidades de exportação para a China, em razão da guerra comercial daquele país com os Estados Unidos e da peste suína africana no Ásia. Neste cenário, questiona-se como conciliar o desafio de aumentar a produção de alimentos, de modo a atender a demanda crescente, com a preservação ambiental. 

Este foi o tema da segunda edição do ciclo Debates Correio do Povo Rural, nesta quarta-feira, na Casa do Correio do Povo no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio.

A legislação ambiental também esteve na pauta do encontro. O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, disse que “houve erros na administração da crise”. Mas, por outro lado, afirmou que a legislação ambiental do Brasil é uma das mais rigorosas do mundo. Por isso, sugeriu que haja flexibilização em biomas onde há produção agropecuária. Um dos principais entraves, hoje, segundo ele, é a burocracia para a emissão de licenças a projetos de irrigação.

Vice-presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Roberto Fagundes Ghigino acredita que há condições de manter o aumento da produção sem descuidar do meio ambiente. O dirigente destacou que o agricultor é um dos interessados na preservação, já que precisa do meio ambiente para manter sua atividade. “Tanto é assim que estamos produzindo mais praticamente na mesma área dos últimos anos”, citou. Porém, defendeu flexibilização na legislação sobre o tema. Uma das sugestões é de que o produtor rural que não cometer infrações ambientais tenha acesso à renovação automática de licenciamentos. Ghigino afirmou, contudo, que não acredita que as polêmicas dos últimos dias no campo ambiental irão prejudicar o acordo de livre comércio encaminhado recentemente entre Mercosul e União Europeia, que representa uma oportunidade de ampliar as exportações de diversos produtos agropecuários.

Como um player importante no mercado internacional de alimentos, o Brasil tem o desafio de abastecer a crescente demanda internacional, levando em conta que a população mundial deve alcançar 9,6 bilhões de pessoas em 2050. Assessor de desenvolvimento sustentável do Sistema Farsul, Marcelo Camardelli salientou que diversos avanços científicos, possibilitados pelo melhoramento vegetal e animal, tendem a levar para um incremento da produtividade e da sustentabilidade da produção agropecuária. O crescimento do mercado de startups voltadas ao agronegócio, segundo ele, também tem impulsionado a preservação. Ao mesmo tempo, Camardelli diz que, por ser um grande produtor, o país está sujeito a enfrentar barreiras econômicas travestidas de ambientais.

O coordenador da Câmara de Agronomia do Conselho Regional de Agronomia e Engenharia do Rio Grande do Sul (CREA/RS), Dulphe Pinheiro Machado Neto, afirmou que o produtor de alimentos deve ser respeitado, seja voltado para os orgânica ou convencionais. No entanto, salientou que a legislação atual precisa ser cumprida e defendida. “O que está acontecendo no exterior é uma repercussão do que está acontecendo aqui. Não é a troco de nada que as repercussões são tão negativas”, disse.

Durante o debate, Machado Neto salientou que a função do conselho regional é a fiscalização do exercício da profissão daqueles que efetuam recomendações e emitem receitas e citou a preocupação com resíduos de agrotóxicos no solo e na água. De acordo com ele, tem sido importante a colaboração de órgãos como a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural e Ministério Público na fiscalização e no esclarecimentos dos técnicos que atuam neste campo.

A última edição do ciclo de debates do Correio do Povo Rural nesta Expointer ocorre nesta quinta-feira.

Ouça a íntegra do debate:


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895