Duração da Expointer é questionada por criadores e entidades

Duração da Expointer é questionada por criadores e entidades

Os nove dias da feira, que se encerra neste domingo, vêm provocando debates entre quem defende a redução do tempo de presença dos animais no parque e os que defendem o modelo atual

Carmelito Bifano

Preocupação com os animais e custo que envolvem a permanência em Esteio ao longo dos nove dias pautam discussão sobre a duração da Expointer

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Há 42 anos, a Expointer mostra aos visitantes do Brasil e do mundo toda a produção do agronegócio do Rio Grande do Sul em nove dias. Porém, com as dificuldades econômicas que o país enfrenta e pensando em evitar a continuação da queda de números de animais, algumas entidades discutem a duração da feira que se encerra neste domingo em Esteio. 

O debate sobre a possibilidade de diminuir a quantidade de dias em que os animais ficam no Parque de Exposição Assis Brasil ainda não chegou aos organizadores de modo formal, porém, divide a opinião de associações e produtores. Segundo levantamento feito pelo mestre em zootecnia e gerente-executivo do Núcleo Gaúcho de Criadores de Gir Leiteiro e Girolando, Nathã Carvalho, entre 2012 e 2017, a queda entre os animais de argola foi de 48,7%.

O profissional aponta que o período de duração da feira está diretamente relacionado com a inviabilidade da participação dos produtores. “Quanto mais longa a exposição, maior o custo de permanência de funcionários, de logística para a alimentação dos animais, de hospedagem para a equipe e de propriedade desassistida. No gado de leite, isso é ainda mais forte”, explica.

Com a experiência de quem trabalha nas principais feiras do país e em três associações, que reúnem dez raças, Carvalho é um apaixonado pela tradição da feira. Sabedor da importância dela para o Estado, prega que haja discussão sobre a diminuição de nove para sete dias para os animais, não de forma obrigatória. “O expositor que acha importante permanecer, poderia ficar até o domingo, mas eu, como entusiasta da Expointer e que luto pela feira, independentemente da raça, gostaria que fosse mais viável e, para isso, teríamos que reduzir o tempo”, completa.

Carvalho defende que os animais cheguem na sexta-feira que antecede a abertura dos portões e fiquem até depois do Desfile dos Campeões, que ocorre uma semana depois, para os produtores que assim desejarem. “O formato atual deu muito certo, porém vivemos outro momento e outra realidade”, compara. “Isso tem que ser repensado”, sugere, com a justificativa de que não quer para a Expointer o que aconteceu com outras exposições.

Exceto por três ou quatro feiras brasileiras que resistem, as demais sofreram com a diminuição significativa das inscrições, segundo o mestre em zootecnia. Para exemplificar, Carvalho cita o caso da ExpoLondrina, que chegava a competir com a Expointer em número de animais e encolheu neste quesito. Além disso, lembra de feiras de relevância mundial que não têm a mesma duração da Expointer. “A Sommet de l'Elevage, em Clermont-Ferrand, na França, tem três dias. A Royal Show, da Inglaterra, tem três dias. A World Dairy Expo, em Madison (EUA), de gado de leite, começa na terça-feira e vai até sábado”, relaciona.

O presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês, Marcos Tang, também mostra-se preocupado com a extensão da feira e com o custo para os produtores. Ele observa que dos 37 expositores da raça, 36 são familiares, que têm que montar duas forças de trabalho, uma em casa e outra na Expointer. “É muito dispendioso, toma tempo e dinheiro”, avalia.

Associações de criadores de equinos, algumas com atividades durante todos os dias, mostram-se contrárias à redução. “Ficaria inviável”, comenta o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), Francisco Fleck, revelando que a entidade retirou alguns eventos neste ano porque tinha mais coisas a fazer do que tempo disponível.

O presidente da Federação Brasileira de Criadores de Animais de Raça (Febrac), Leonardo Lamachia, teme que eventual redução deixe a feira menos atrativa. “A Expointer nasceu da pecuária, então, temos que buscar uma alternativa para tornar o evento menos pesado para o criador, mas, em princípio, não sou a favor da retirada dos animais antes, pois acho que vamos esvaziar a própria exposição.”

O secretário de Agricultura, Covatti Filho, pondera que a redução de dias de presença dos animais pode afetar a grandiosidade da Expointer. “Tivemos uma reunião com todas as entidades representativas no primeiro dia e não houve nenhum pedido de redução”, recorda. Mas como admite que já foi indagado sobre o assunto, Covatti Filho promete conversar com expositores depois da Expointer sobre o tema.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895