Preço do boi gordo tem alta de 25% desde janeiro

Preço do boi gordo tem alta de 25% desde janeiro

Saída de animais para outros estados é um dos motivos; indústria alega dificuldades em repassar custos devido à queda no consumo

Nereida Vergara

publicidade

De 7 de janeiro até o último dia 10 de novembro, o preço do boi gordo no Rio Grande do Sul teve valorização de 25%, conforme dados compilados pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro/Ufrgs). Neste período, os frigoríficos do Estado, de acordo com o Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados (Sicadergs), chegaram a repassar para o varejo em torno de 70% deste aumento de custo.

O coordenador do NESPro, Julio Barcellos, explica que ao longo de 2020 o preço do boi foi se recompondo, depois de um longo período de depreciação. Pelo levantamento semanal feito pelo núcleo, em janeiro, o peso do quilo vivo era de R$ 7,00, e o peso carcaça de R$ 14,40. No dia 10 de novembro, chegou a R$ 8,70 o quilo vivo e a R$ 18,00 o quilo carcaça. Conforme o especialista, variantes como a valorização do dólar e a oferta ajustada contribuíram para a recomposição dos preços, que devem subir ainda mais nos próximos meses. “Um dos motivos para isso é a grande quantidade de animais em pé que estão deixando o Rio Grande do Sul para outros estados, com vantagem de preço para o produtor, o que pode provocar escassez de matéria-prima internamente”, explica.

O presidente do Sicadergs, Ronei Lauxen, concorda que a saída de animais é um fator preocupante. A estimativa do setor é de que 300 mil cabeças deixarão o Estado até dezembro. “Estamos com grande dificuldade para repassar custos, pois no mercado local a redução do consumo (no último trimestre) está entre 15 e 20%”, comenta. 

Para o economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, o cenário atual reflete oferta baixa, fruto de vários anos de desestímulo ao pecuarista, taxa de câmbio e demanda aquecida, entre outros motivos, pelo auxílio emergencial. Quanto à evasão de rebanho para fora do RS, da Luz atribui às dificuldades inerentes à indústria frigorífica gaúcha, que não consegue pagar pelo produto o que outros estados pagam. “Neste ano, o Rio Grande do Sul exportou gado para o Pará. Temos de nos perguntar como é possível um Estado tão distante pagar mais pelo boi, ter custos altos de logística e ainda ter lucro”, diz o economista. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895